quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O que o coelho da Alice e a lebre da tartaruga tem a ver com isso?


Tentando buscar inspiração para continuarmos o tema da semana (ritmo interno) fiquei me questionando: tudo isso tem a ver com totalidade na ação.  Veja: uma das ideias éramos falar em cadência, ou seja, termos sempre um mesmo ritmo para não nos cansarmos logo na largada, mas para ter gás para chegar até o fim. Outra ideia era abordar o assunto pelo aspecto de que ao agirmos de acordo com o ritmo interno, não cansamos, ou seja, desmistificamos a ideia de que o ritmo interno tem que estar atrelado ao descanso ou mesmo a uma mudança radical de vida. No fim, tudo que encontrei como referência - literatura, vídeos, entrevistas - me levavam ao mesmo lugar: totalidade na ação. Joan Borysenko, especialista em administraçãoo de estresse e doutora em ciências médicas pela Escola de Medicida de Harvard diz no seu livro Paz Interior Para Mulheres Muito Ocupadas:

"Aos poucos a vida passa e você começa a se perguntar onde esteve durante todos esses anos. Quanto mais ocupado é o dia, maior a probabilidade de você  se transformar em um cometa no espaço zunindo pela galáxia com o piloto automático ligado. É como estar sonâmbulo e quando você volta “de repente” nota que está com seus ombros e pescoços tensos como uma rocha.  Você simplesmente não sabe como ficou assim.” 

Lendo esta parte do livro, nua e crua,  parece até exagero, mas pare para pensar quantas vezes isso já não te aconteceu só hoje? Os budistas dizem que ser total na ação é estar livre dela. Esta é a verdadeira meditação que te leva ao seu próprio ritmo. Nas coisas mais triviais da vida temos que estar absorvidos, intactos, entregues. O mesmo acontece (ou deveria acontecer) no trabalho, nos nossos momentos de diversão e até mesmo quando descansamos. Quantas vezes você passa um fim de semana em casa, sem fazer nada aparentemente e, na segunda-feira sente-se cansado como se simplesmente não tivesse existido esta pausa? 

Esta consciência da integridade na ação, de não deixar seus pensamentos escaparem para os lados, é que o torna mais produtivo, mas feliz e mais conectado com o todo. Seu ritmo é a sua consciência presente. O estar intacto e entregue a tudo que faz. Busque esta consciência e será cada dia mais fácil de deixar aquela sensação de ser o coelho – seja o  da Alice que está sempre atrasado ou seja a lebre da fábula que subestima a tartaruga e dorme.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Na hora da pressa tome uma xícara de chá

Esta semana está bem corrida e fora da minha rotina por conta de um evento que estou fazendo. Sabia que seria assim há meses, aliás. Nem por isso deixei de sentir aquela sensação de angústia por achar que tenho mais coisas para fazer do que meu dia me permiti. Foi assim que acordei às 5:50h, sem se quer olhar para o céu e agradecer por este dia – coisa que faço desde que tenho uns 5 anos de idade! Fiz o café da manhã para o meu filho da forma mais automática que eu alguém é capaz de fazer algo, pois meu pensamento estava obcecadamente focado em listar todas as coisas que eu tinha que fazer hoje, especialmente para dar conta de dois compromissos que estão marcados e que não quero furar – um na hora do almoço e outro no início da noite. Foi assim que coloquei o café na mesa e chamei meu filho. Dali já fui logo para o meu escritório adiantar algumas das minhas tarefas e listar todos os afazeres do dia para não me perder. 

Era 6:30h da manhã e eu já estava absolutamente envolvida com o mundo lá fora, sem me dar conta do furacão que se formava no mundo aqui de dentro de mim. Tinha que começar a definir aquilo que não ia conseguir fazer e pensei que deveria avisar a Nany que hoje não daria para escrever no blog. Esta decisão é difícil para mim, pois escrever no Movimentos Humanos é um dos compromissos mais sérios que assumi nos últimos tempos, uma das minhas prioridades. E estava eu ali, diante da decisão de enviar uma mensagem dizendo que ia “furar”. Não se trata de deixar de fazer algo para a Nany, trata-se especialmente de deixar de fazer para mim (por mim) e isso me deixaria muito frustrada. 

Fechei os olhos - muito mais na intenção de pensar numa outra alternativa do que de acalmar o turbilhão mental em que me encontrava. Foi quando a voz, sempre a voz, me disse: lembre-se do tema desta semana (ritmo interno) e tome uma xícara de chá. Fiquei ali imóvel por alguns minutos, absorvendo aquelas palavras que vinham de dentro de mim.

Fui preparar o chá. Acendi o incenso que costumo usar para meditar, liguei minhas músicas de relaxamento, sentei no meu espaço preferido e comecei a respirar – fazendo o que na ioga chama-se de pranayama. Foi quando minha outra vozinha, a mental, começou a falar sem parar: “Não acredito que você está lotada de coisas para fazer e ao invés de se mexer está aqui tomando chá e respirando. Você ficou louca?”. Respondi calmamente e em voz alta: “Sim, estou louca e você pode falar quanto quiser, pois eu vou continuar aqui fazendo exatamente isso”. Foram 15 minutos em paz e uma nova vibração tomou conta de mim. Sentei novamente na minha mesa de trabalho, olhei para a parede em frente e meu olhos cruzaram com um bilhete do meu filho enquadrado há uns 5 ou 6 anos que diz assim:

Mãe...
Todas as lições estão aqui!!!! Guarde na minha mala depois. As folhas você pode deixar dentro do livro de espanhol. Ahhhh, assina também o negócio do “fut” se você deixr eu ir (em cima do computador). Bjs!!!! PH  J


Este bilhete está enquadrado porque ele me lembra de uma época em que eu tentava ser uma boa mãe (olha que lindo: eu via o dever de casa dele todos os dias!). Mas falava com o menino por bilhetes! Chegava em casa, muitas vezes, quando ele já estava dormindo! Mais do que lembrar desta época aquele quadro me diz: "existe um outro caminho". Foi o que eu fiz de uns tempos para cá. Optei! Não por trabalhar menos, pois só trabalho mais a cada dia, mas faço de uma forma um pouco menos tumultuada, atribulada, agitada e ansiosa. E quando isso começa a acontecer, eu simplesmente tomo um xícara de chá.

Pronto! Aqui está o texto do blog! Não são nem 8 horas da manhã, ainda tenho uma hora e meia para o meu próximo compromisso, metade do que estava me incomodando já foi feito e eu estou em paz. Vai ser um dia agitado, mas agora, tenho certeza, dará tudo certo.

P.S.: Só por curiosidade, deixo aqui, uma musiquinha (bem bobinha) que gosto de ouvir com a xícara de chá quando vou ficando muito ansiosa. A melodia e a letra me deixam em paz!

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ritmo interno. Você sabe qual é o seu?

Aprendi que todos nós temos um ritmo interno e que quando estamos desalinhados com esse ritmo, adoecemos. Também aprendi que o ritmo interno conduz nossa forma de agir no mundo e transforma conceitos gerais em pessoais fazendo com que tenhamos um jeito de ser e agir no mundo. Outro aprendizado é que a busca pelo nosso próprio ritmo, significa a busca pela nossa própria essência e ,conhecê-los, nos integra e nos fortalece. 


Temos falado aqui sobre essência mas vocês podem estar se perguntando, o que é ritmo interno?  Primeiro são coisas distintas porém interligadas. Vamos às explicações: no nosso sempre aliado dicionário Aurélio, ritmo está descrito como "sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares na natureza e nas artes; cadência, compasso".

Ritmo interno, como as várias tribos nativas norte-americanas, de onde aprendi o conceito, explicam, refere-se a cadência que nosso ser - essência - tem para estar e viver no mundo. Vou dar um exemplo para facilitar: ouço muitas pessoas pedirem paz nos nossos estudos de campo e isso me faz pensar constantemente o que significa a paz para essas pessoas. Provavelmente para a grande maioria signifique: cenas bucólicas, pessoas relaxando, ambientes calmos. Sendo assim pessoas animadas e divertidas têm dificuldade em se ver nesse estado, ou mesmo quererem estar nele. Buscam a paz, mas pensam que não estejam prontas, para vivencia-la.

Sem dúvida o conceito de paz está associado à serenidade - aliás prefiro este termo - e a serenidade é uma forma de se estar no mundo, portanto poder ser um tipo de ritmo interno. Neste sentido, está correta a imagem associada à paz. Mas existe uma outra forma de serenidade, aquela que vem da confiança de se saber quem se é: estar em contato com sua essência. Neste caso, serenidade depende menos de nosso estado de espírito e de nosso ritmo interno. Pessoas com ritmo vibrante por natureza podem viver serenamente de forma acelerada. Conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo porque a agilidade mental lhes permite decidir e agir rapidamente. Elas não estão no looping mental alopradamente, elas simplesmente, são mais ágeis.

Ainda confuso? Não se preocupe esta semana trataremos do ritmo interno atendendo um movimento humano que percebemos nos nossos estudos: o desejo das pessoas de desacelerar. Será que é isso? Ou será que as pessoas estão querendo entrar em contato maior com sua essência e viver com maior serenidade?

Boa semana a todos!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desconforto que liberta



O assunto da semana é a tal da liberdade. O que é ser livre para você? Você vive de fato uma liberdade ou criou uma liberdade aparente que mais aprisiona do que realmente liberta? Por conta de todas estas reflexões é que a nossa dica para o fim de semana vai propor algo que pode parecer muito estranho para você. A ideia é essa mesma: causar pequenos estranhamentos, que mexa com o que você considera confortável, que te leve a fazer as coisas de outro jeito. 

Começamos contando uma história publicada no Neo-Tarô, cartas do Osho e que fala assim:

VALOR
Não tente provar seu valor, reduzindo a si mesmo a uma mercadoria. Lembre-se, a maior experiência da vida não vem através do que você faz, mas através do amor, da meditação.

Lao Tzu e seus discípulos estavam viajando e chegaram a uma floresta onde centenas de lenhadores cortavam árvores. Toda floresta havia sido cortada, exceto uma grande árvore com milhares de galhos. Lao Tzu disse aos seus discípulos para perguntarem aos lenhadores por que aquela árvore tinha sido poupada e a resposta foi: Essa árvore é imprestável porque seus galhos têm muito nós. Não dá para usar nem como lenha, porque sua fumaça é perigosa para os olhos. Os discípulos contaram a Lao Tzu exatamente isso. Ele riu e disse: “Sejam como essa árvore. Se forem úteis, serão cortados e se tornarão mobília na casa de alguém. Se forem belos, serão vendidos no mercado, se tornarão uma mercadoria. Sejam como esta árvore, absolutamente inúteis e então crescerão grandes e amplos e milhares de pessoas encontrarão sombra sob vocês.”

Lao Tzu tem uma lógica completamente diferente da sua. Ele diz: seja o último, mova-se no mundo como se você não existisse: não seja competitivo, não tente provar seu valor – não há necessidade. Permaneça inútil e desfrute.

Tenho certeza que você sentiu, ao menos um pouco, de desconforto ao ler o texto acima. De fato é estranho pensar em sermos inúteis, não é?  Mas pense sem julgamentos e de coração aberto. Reflita sobre o real valor da sua vida e da sua essência. Faça isso durante todo o fim de semana, de uma forma bem diferente: mude seus padrões e rotinas. Faça um novo caminho, deixe de fazer algo que você sempre se programa e se tornou obrigação. Coma coisas diferentes do seu paladar do dia dia. Vá num lugar novo. Escute uma música que não é a sua favorita. Faça tudo diferente do costume. Parece fácil, mas é muito difícil e bem interessante. 

Permita-se o desconforto. E depois sinta a sensação da liberdade te invadir.

Um fim de semana bem diferente para todos nós.





quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Não basta pedir para a fadinha. Tem que saber pedir.


Desde muita pequena ela decidiu que seria independente e achou que isso tinha a ver com dinheiro, sabe-se lá por quê. Dizia, com certo deboche, que teria vergonha de ter que pedir dinheiro para o marido – caso viesse a ter um. “Imagina ter que pedir dinheiro até para comprar minhas panelas”. Adorava esta frase!

Aos 16 anos arranjou um emprego. Interessante que não foi movida pelo desejo de se livrar financeiramente dos pais. Muito pelo contrário: queria restaurar a confiança deles, perdida num ataque de rebeldia da noite para o dia – coisa até comum na adolescência. Reconquistou a confiança dos pais e ainda começou a receber salário. Pequeno, é bem verdade, mas dinheiro de qualquer jeito. Já de cara viu que não tinha lá muita intimidade com o assunto. Recebeu num dia e gastou tudo no outro. Economizar não era matéria da escola e nem passou pela cabeça que poderia fazer algo maior com o dinheiro que merecidamente recebeu (mal sabia ela o que este hábito poderia ter feito ao longo da sua história...). 

Depois entrou na faculdade, começou a estagiar, já ganhava um pouco mais. Outros desejos de consumo começaram a lhe interessar. Primeiro pequenos luxos que sempre quis ter, mas a família sempre achou bobagem. Depois mudou o estilo de se vestir. Deixou de ser surfista, passou a ser boêmia. Suas novas amigas tinham roupas lindas. Por que ela não teria também? Já estava trabalhando com “carteira assinada” quando se formou, recebendo um salário bem descente. Noivou, casou e a promessa se cumpria: as panelas ela comprava, embora nem tivesse tempo para cozinhar. Trabalhava muito, adorava trabalhar. Queria mais, queria tudo que a boa vida pudesse dar. Teve filho e queira muito para o filho também. Queria de tudo, queria mostrar, queria ter, desejava, necessitava. Foi de emprego em emprego caminhando em direção ao sucesso e de mais dinheiro. 

Separou-se, recebeu o convite para mudar de cidade. Negociou um preço. Pagaram seu preço. Foi parar na cidade grande: muitos lugares para conhecer, muitas lojas para comprar, muitos desejos a conquistar. A metrópole era cara, mas lá estava ela "conquistando" o mundo. Recebia salário, bônus, crescia na profissão. Precisava de roupas caras, bolsas, carros. Objetos de poder, afinal, é difícil a vida de mulher que luta. E de tanto lutar merecia comprar. “Mereço um presente aqui e outro ali”, ela dizia. Separada, na cidade grande, com cargo de diretora, sentia-se sozinha e comprar ajudava a passar a sensação ruim da solidão. Foi demitida, mas tinha um contrato que lhe deu o direito a uma boa quantia em dinheiro. Arranjou outro emprego rapidinho, era boa no que fazia aquela menina!  E mais dinheiro tinha para poder comprar seus luxinhos. Cresceu no outro emprego. Degrau a degrau. Lutando. Muito trabalho. Merecia ter uma vida de conforto e por isso dava-se ao direito de ter. Quando se sentia vazia e meio desesperada, logo dava um jeito de encontrar alguma desculpa para mostrar como era feliz por ter tudo que tinha, além de uma vida confortável, um bom emprego e, lógico, a tão sonhada independência financeira.

Mas um dia a verdade apareceu, nua e crua. O trabalho que até então era uma grande satisfação, mudou completamente. Novas pessoas no comando da empresa e novos princípios que nada tinha a ver com a pessoa que ela era. Foi tomada pelo desejo profundo de abandonar aquele emprego, ir embora num dia e nunca mais voltar. Estava cansada também. Tantos anos de trabalho e de luta! Desejava diminuir o ritmo. Planejar com calma um novo caminho. Mas o que fazer? Ou melhor, como fazer?

Poderia ter feito isso se tivesse se planejado, mas agora tinha que enfrentar a sua verdadeira condição. Aquilo que ela chamou a vida inteira de liberdade era mesmo a sua escravidão. Ganhou muito dinheiro, mas não lidou bem com o assunto e lá se foi tudo do mesmo jeito que veio. Nada tinha, além de dívidas. Pior que isso: até o apartamento próprio estava hipotecado – o que fazia com que não restasse outra alternativa se não ter o dinheiro para pagar altas prestações. Que outra alternativa se não no emprego ficar?

Mas encarar a verdade também lhe trouxe força para ver que liberdade que tanto desejou morava mesmo dentro dela. Encarou com coragem o que tinha que ser encarado. Agradeceu por este ensinamento e está aprendendo a viver de uma forma diferente. Esta história é verdadeira e a pessoa que me contou me pediu anonimato. Não porque tenha vergonha da sua história, pois já entendeu o caminho, mas porque ainda está no processo de limpeza e cura. Na verdade eu insisti para contar, pois esta é um outra lado da liberdade a qual nos propomos debater esta semana. 

Muitas pessoas enfrentam a escravidão pelo dinheiro – seja por querer cada vez acumular mais riqueza, ou seja como a mulher desta história que se iludiu achando que consumir preenchia o seu interior. A maioria das vezes, trata-se de um enfrentamento solitário, cheio de vergonha, por não saber como agir. Mas quanto mais atento se estiver, mais fácil ficará fazer a mudança poderosa de crer que quanto mais se possui, mais se é para você é e para isso prospera e tem.

Deepak Chopra, no seu livro As Sete Leis Espirituais do Sucesso, diz:

A mudança consciente acontece por meio da manifestação de duas qualidades inerentes à consciência: a atenção e a intenção. A atenção energiza; a intenção transforma. Quando você concentra a sua atenção em alguma coisa, ela fica mais forte em sua vida. Ao contrário, quando você afasta, a coisa enfraquece, desintegra e desparece (...) Mas a intenção é o poder que move o desejo. A intenção por si só é muito poderosa, porque é o desejo desvinculado do resultado. O desejo sozinho é fraco. A intenção é o desejo com estrita aderência a uma consciência superior.

Portanto, no dito popular: “olha o que você pede para a fadinha, pois ela é bem capaz de te atender”. Saiba pedir e será próspero. Apenas deseje e poderá se tornar escravo de uma situação. É o que a história de hoje me ensinou.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Qual liberdade você está disposto a viver?

Pensei no tema da liberdade para falarmos esta semana porque é um aspiracional bastante mencionado no estudos da behavior. Todo mundo quer ou disse querer mais liberdade na sua vida. Sinceramente, não sei se todos suportaria tanta liberdade. 

O que eu vejo no dia a dia, na minha observação de pesquisadora é que poucos conseguem viver com tanta liberdade. Precisam do apoio do outro, a cumplicidade do outro, especialmente, dividir as responsabilidades.

Penso que temas, como da liberdade, permeiam nossa mente para nos distrair e nos trazer a percepção da falta de algo. Por um lado, isso pode nos mover para frente. A insatisfação, assim como a escassez, promovem a saída da zona de conforto. O que considero bastante positivo e deveria ser buscado sempre, caso a evolução seja um objetivo seu. Mas, há um limite. E o meu limite está quando a idealização ilusória toma conta de mim. Neste caso, a insatisfação é permanente e a busca por algo a mais é insaciável porque, simplesmente, é ilusória.

Entendo por idealização ilusória quando não vemos o todo. Só enxergamos a parte que nos interessa. É isso para mim não é liberdade, mas auto-engano. Prisão. A grande dificuldade é sair da ilusão. Aprendi que ela é criada muito mais em função das nossas dores do que das nossas alegrias. A raiva que é gerada pela dor que sentimos, faz com que percebamos a realidade de uma forma distorcida. 

Para abrir mão da ilusão, provavelmente teremos que cuidar das nossas raivas e para isso, e aqui está a parte mais difícil, cuidar das nossas dores. 

Entendo por liberdade o exercício do meu ser, o mais pleno possível, na sociedade onde, por liberdade, resolvi viver. 

E para exercer nosso ser, na maior plenitude possível, precisamos olhar para dentro e cuidar de nossas alegrias e nossas dores. É nos libertar da prisão que nossa mente criou. E assim, poder viver aberto as novas experiências. Construindo o novo a partir do agora. 

Para mim, isso concretiza viver em liberdade.

Falaremos mais sobre isto durante esta semana. 

Boa semana!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Um pardal


A dica do finde esta semana é muito simples, mas vai fazer muito bem aos corações. Falamos a semana inteira sobre o delicado equilíbrio das relações entre mais e filhos, portanto, nada mais justo do que fazer um convite para celebrar exatamente isso. 

A proposta é levar seus pais (ou só o pai ou só a mãe ou ambos) para um gostoso passeio. Só vocês, se possível, sem celulares e outras traquitanas. 

Pode ser dar uma volta numa praça, sentar num banco e lá ficar. Não olhando para o relógio com vontade de ir embora cuidar da vida, mas acreditando que a vida está exatamente ali. Falem sobre coisas diferentes, pergunte sobre a vida deles, se mostre interessando. Tenha uma ótima conversa e agradeça por estar ali. 

Se quiser mostre a eles o vídeo abaixo e agradeça pela paciência que tiveram para ter criar.

Uma semana cheia de paz fraternal para todos nós. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A medida da autoridade


Outro dia meu filho me deu uma grande bronca porque eu e meus irmãos não conseguimos fazer minha mãe ir ao médico. Soube que meu sobrinho havia feito a mesma coisa com meu irmão. Respondi que não era tão simples assim e perguntei o que ele imaginava que poderíamos fazer? Obrigá-la? Levá-la a força? Ele me respondeu: “Faça como você faz comigo: às vezes eu não quero ir num lugar e você me diz que, neste assunto, não tem espaço para discussão. Eu não quero ir, mas vou”.

Apesar do assunto ser a minha mãe – e estar levando muito a sério a reclamação dele, por alguns segundos, me dei o direito de respirar aliviada. A resposta dele indicava que existe um respeito conquistado por meio da minha autoridade como mãe. Autoridade, eu disse. Autoritarismo é outra coisa. Aliás não estaríamos tendo a conversa que narrei acima se eu fosse uma figura autoritária para ele. Confesso que uma dos maiores dilemas que enfrento como mãe é saber a medida certa entre o diálogo, a negociação e o limite. Existe sempre uma briga interna dentro de mim entre o ceder e o limitar. Portanto, saber que temos este equilíbrio é muito bom. Sempre peço discernimento ao universo para que este caminho continue assim.

Também sempre tive nos meus pais a figura de autoridade, embora não tivesse a metade da coragem do meu filho em questionar. Mas só percebi o quanto a autoridade dos meus pais era um porto seguro para mim, quando de fato perdi isso. Foi muito dolorido, mas vou tentar descrever: sempre busquei na minha mãe uma conselheira. Ela é (era) enérgica, firme, uma mulher até bem mais agressiva do que eu. Mas o outro lado desta mulher é a proteção e o grande coração aberto para acolher os filhos. Era muito bom buscar nela o conforto para os meus dilemas. Porém, há uns três anos atrás, passei por uma destas dificuldades que temos como nossos filhos no início da adolescência e, pela primeira vez, recorrer a minha mãe não adiantaria de nada. Ela está doente, uma doença que escurece a mente, que a deixa longe do presente. Me dei conta que não tinha mais como contar com minha mãe para amenizar o medo que estava sentindo daquele momento. Foi difícil para mim aceitar.

O que me confortou, depois de aceitar esta nova condição, foi o fato de saber que o exemplo dela existia dentro de mim e ele poderia me guiar para encontrar o próprio equilíbrio entre eu e meu filho. Não é a mesma coisa, mas já era muita coisa. Digo isso porque tenho muito amigos que não tiveram isso. Muitos tiveram pais bem mais amigos que os meus, companheiros que aparentemente se afinavam muito mais do que eu e minha mãe, por exemplo. Quando era jovem até sentia uma certa inveja disso. Mas hoje reconheço que prefiro ter a figura de pais que souberam impor limites a pais que era amigões de “farra” comigo.

É difícil ter esta dimensão porque me considero amiga do meu filho. Me sinto aberta e disposta a dialogar com ele. Quero compreender seu ponto de vista e quero poder ter ele presente em minha vida. Mas isso não significa que quero e, principalmente, que saberei tudo da sua vida. Como adolescente que é sei a importância do seu espaço e respeito muito isso. Também não significa que ele possa fazer tudo que queira.

E quanto a minha mãe e a cobrança dos netos para que eu e meus irmãos sejamos mais enérgicos com ela?  Pois a outra via dessa estrada, confesso, que ainda estamos aprendendo a fazer. É bem difícil obrigar aquela mulher teimosa a fazer qualquer coisa a contragosto. Estamos buscando o melhor caminho e somos aprendiz. Nossos filhos, ao que parece, estão nos ensinando algumas coisas  com a atitude linda de querer proteger a “vorinha” – que é como eles chamam minha mãe. Lindo, não? Difícil, porém lindo.

Vorinho e vorinha! Assim, carinhosamente, meu filho e meus sobrinhos
 chamam meus pais.  O desenho foi feito pelo meu sobrinho Gustavo Malucelli
 e está num quadro de anotações, no escritório do meu pai já faz quase 10 anos.
 Ele nunca deixou que apagassem.