quinta-feira, 31 de julho de 2014

A paz precisa do perdão.

Parece difícil perdoar. Acompanho como todos a violência que está acontecendo entre Israel e Palestina e me entristece profundamente notar que há tanta dor de ambos os lados. Uma dor que continua sendo alimentada a cada ataque, a cada disputa. Cada um com suas razões e responsabilidades. Cada um com seus direitos. Mas uma coisa que sempre me pergunto: será que eles querem a paz? Digo isto porque existem pessoas, culturas, que estar em conflito é parte do viver. A paz, consciente ou inconscientemente não tem sentido. O valor pessoal passa pelo vencer. E o vencer tem valor quando é vencer a alguém.

Me recuso a entrar na questão de Israel e Palestina por completa ignorância de todos os detalhes e porque sei que há muita dor do presente e do passado para estar mexendo nisso. Mas toquei nesse assunto porque as vezes estamos tão enraizados num ambiente que seus valores são para nós como se fossem uma verdade absoluta. Fica difícil ver através de outros pontos de vista.

Vivemos numa cultura onde a competição é valorizada. Onde para subir alguém tem que descer. Num ambiente competitivo impor nossa verdade faz parte da força motriz. Seja por autoritarismo, seja por arrogância em achar que sabemos o que é melhor para o outro... não importa, o fato é que se impõe uma verdade. 

Numa cultura como esta, perdoar fica difícil porque para perdoar é necessário ceder. Abrir o coração para compreender que razões de um outro que talvez sejam bem distintas das nossas, fazem sentido para alguém ao ponto de conduzir sua vida. Abrir o coração para outras verdades além das nossas.

A partir dessa compreensão podemos avaliar e decidir. Se mantermos nosso ponto de vista como única realidade fica difícil o perdão de coração aberto. O perdão neste caso acontece quando o perdoado diz que estava todo errado. Mas será que esse arrependimento é verdadeiro? Ou será só uma forma de reatar a relação mas no fundo seus valores e crenças não mudaram? 

Para perdoar precisa se valorizar a paz acima da competição. Abrir mão da posição da estar sempre certa. De ter sempre a razão. Quando esse estado acontece, o que importa é a paz, é a conciliação.






terça-feira, 29 de julho de 2014

Amar exige perdoar. E perdoar significa aceitar. Estamos prontos para isso?

Neste período de luto tenho pensado muito no que é realmente importante nesta vida. Creio que essa resposta, obviamente, depende dos valores de cada um. Os nossos valores regem a nossa escala de preferências, o que consideramos importante. Para alguns ter dinheiro, pode ser o que vale mesmo a pena nesta vida. Para outros, ter dignidade; para outros, ter sucesso... e assim vai, cada um com suas preferências e sua escala de valores. 

Para mim, hoje, o que vale mesmo na vida é amar. Dar amor. É um sentimento que tem me preenchido muito. Muito mais do que receber amor. Dar amor por algum motivo tem sido muito mais gratificante e re-estabelecedor do que receber. Talvez seja porque o receber agrada, mas deixa a gente dependente. Dar amor enobrece a alma e nos torna mais fortes, seguros, auto-suficientes. Aspectos importantes para mim.

É claro, que isso não significa que não goste de receber amor. Imaginem!!! adoro receber amor. Ser amada. Mas é como se isso fosse realmente menos importante do que expressar e dar meu amor. Tenho me fortalecido com esse ato. Tenho me sentido bem. Quanto mais tenho exercitado o amor, mais preenchida e plena tenho me sentido.

Ao dar amor, compreendi que antes é necessário perdoar. Não é só compreender a posição do outro, seu ponto de vista, suas razões, sua visão de mundo; mas aceitar e deixar para atrás. Iniciar de novo. Permitir-se recomeçar, de fato.

É importante, entretanto, que esse recomeçar seja reconhecendo a pessoa tal como ela é. Por isso disse anteriormente, aceitar. Perdoar não significa se iludir. Acreditar que a pessoa mudou. Que as coisas serão diferente, se a pessoa perdoada, não mudou se padrão de crenças e valores. Iremos quebrar a cara novamente. 

Perdoar significa compreender, aceitar e a partir dessa aceitação - e não de desejo de mudança do outro - recomeçar. Eu sempre digo que posso compreender mas nem sempre aceitar. Nesse caso, perdoo mas não quero conviver. É um direito que tenho. Os valores da pessoa perdoada, neste caso, não me interessam. Espero que ela seja feliz mas sigo meu caminho. Em outros casos, perdoo e aceito. Sei que a pessoa pode não mudar, mas aceito viver com esses valores. Sem brigar com eles. Sem me chocar. Sem deixar que isso me atinga de forma a prejudicar minha relação. É neste ponto, que a gente pode voltar a amar.

É sobre isto que iremos falar esta semana: amar e perdoar. Boa semana para todos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O luto. Hora de parar, assimilar e se preparar para recomeçar.



Deveria ter começado o tema da nossa semana ontem, segunda-feira, mas meus dias andam lentos e estou me dando o direito a recobrar aos poucos a vida. Como comentei no meu post O último legado de nossos pais: acompanhá-los no fim da vida, o desgaste de cuidar dos pais no fim da vida, é maior do que imaginamos.

Somente agora estou sentindo o cansaço e meu corpo manifesta o estresse que enfrentou nos últimos anos. Graças a Deus, tenho a Isabela, minha companheira neste blog, que assumiu os temas neste período. Mas esta semana decidi recomeçar a escrever e quando estava começando, recebi uma mensagem dela, me avisando que seu pai acabava de partir. Com menos de um mês de diferença da minha mãe, estávamos passando pela mesma situação. Por isso decidi deixar o mental de lado que me dizia: escreva, o blog não pode parar; e decidi respeitar nosso tempo de luto. 

Fiz isso porque acredito que as coisas têm seu tempo para acontecer. Que nossos corpos físico, mental, emocional e psíquico precisam da sabedoria do tempo para operar normalmente após um trauma maior. Tempo para se reorganizarem. Tempo para assimilar tantas informações e deixar a adrenalina abaixar. Tempo para se re-estabelecer. Isso é o que significa para mim, o tempo de luto.

Pena que a vida moderna que nos impomos nem sempre permita isso. Mas a Isa e eu nos permitimos. Dentro dos limites de nossas obrigações e compromissos, nos permitimos. Sei que há situações, empregos que isso não é possível. Mas também sei que muitas vezes cedemos à vozinha mental que nos diz: "Não deixa a peteca cair. Seja forte. Demostre que você está bem". 

Neste momento em que o bem mais precioso, além da saúde, é a felicidade, ficar triste parece um pecado, um defeito. Na busca da tal felicidade, não nos permitimos viver a dor da tristeza; tão necessária para equilibrar e reconhecer o melhor da alegria. Não respeitamos o tempo de luto, fundamental para o recomeçar.

Chorar, como fiz hoje com uma amiga ao telefone lembrando da minha mãe. Ficar quieta, sentir saudades. Que bom que posso viver tudo isso. Que bom que posso me abrir para o carinho e amor dos ombros amigos, dos peitos abertos para um abraço, tão queridos, tão próximos.  

Nosso blog está de luto. Homenageando nossos pais, e respeitando nossa dor. 

Boa semana para todos.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre mães e filhas

Hoje falamos do quinto e último aprendizado do legado de cuidar de nossos pais idosos e que foram tema das nossas duas últimas semanas

Trata-se de uma lição muito especial, pois mães e filhas têm uma vida inteira para cuidar da sua relação, mas se não fizerem isso com trabalho, dedicação e muito amor ao longo da vida, farão de outra forma quando a mãe envelhecer. Este tema é muito significativo e importante para nós, pois faz parte das conclusões estudadas no Projeto Mulheres - estudo base do Movimentos Humanos. 



Lembrei de um programa exibido no canal de televisão a cabo Discovery Home & Health chamado Mães Fora de Controle, em que são narrados  casos extremos de mães e filhas que sofrem por conta de comportamentos obsessivos o da mãe que tinha problemas com seu peso. A primeira coisa que ela faz ao sair da cama era se pesar e simplesmente passava o dia pensando em como estava acima do peso que considerava ideal. Se isso já não fosse estranho o bastante, ela fazia a filha adolescente se pesar diariamente e controlava tudo o que a menina comia. Veja bem…a menina é uma adolescente, mas estava proibida, inclusive de sair com as amigas, para não comer pizza, hamburguer e essas coisas comuns para a idade da menina. O programa se passa em duas etapas: na primeira existe uma narrativa sobre o caso e, na segunda etapa, um terapeuta profissional tenta ajudá-las a resolver o problemas. Ambas sofrem muito ao colocar para fora seus sentimentos e, normalmente, está associado a algo que a mãe viveu no passado (um trauma, uma crença). 

Vendo esse programa sempre reflito sobre a própria relação que tive com a minha mãe. A primeira coisa que sinto é alívio, pois nossa relação sempre foi bem mais normal. Mas de fato percebo que muitos dos nossos conflitos quando eu era mais jovem, foram causados pela sensação de “espelho” que eu causava nela. Diversas vezes me senti magoada, pois não entendia que, ao me atacar, na verdade ela estava atacando a ela mesma. 

Já tinha mais de 30 anos quando descobri que minha mãe não era super herói e tinha questões a serem resolvidas com elas mesma. Inicialmente foi um choque, pois para mim, ela era perfeita. Mas depois esta descoberta se tornou uma grande bênção, pois só ao entender isso é que pude perceber que ela jamais fez algo pensando em me ferir. 

Não tenho filha (mulher), apenas um menino. Portanto não sei se faria a mesma coisa com uma filha, repetindo o padrão da minha mãe, mas é bem provável que sim. O que só me mostra, mais uma vez, quanto é importante estarmos conscientes e prontas para amar as pessoas incodicionalmente. Não há outra alternativa. E quanto antes isso acontecer entre mães e filhas, melhor. Assim poderão aproveitar mais e mais a relação antes da velhice chegar. 

El último legado de nuestros padres: acompañarlos en el fin de la vida.

Estoy volviendo a la actividad esta semana después de un mes. En principio estaba de vacaciones, pero el destino quiso que me tuviera que despedir de mi madre, Mamita, como la llamábamos en casa. Falleció el 25 de Junio, después de casi 3 años difíciles durante los cuales, más de una vez tuve el privilegio de aprender de ella.

En agosto de 2011 mi madre se presentó en nuestra casa de repente. Sin previo aviso. Había tenido un accidente doméstico y pasó de ser una mujer que vivía sola y con mucha independencia a ser una persona totalmente dependiente, sin ninguna libertad.

La llegada de Mamita a nuestra casa causó un revuelo en nuestro hogar y en nuestra familia. Todos sufrimos ese impacto. Fueron meses difíciles de adaptación, no solo debido al cambio drástico de la rutina sino también por la pérdida de casi toda la privacidad al tener la compañía continua de una cuidadora o enfermera –ángeles que nos ayudan- que, al estar en casa, no acompañaba solo a Mamita sino a todos nosotros.
Durante un tiempo imaginamos que mi madre iba a mejorar y con ello ganar más independencia y, quien sabe, hasta volver a casa sola otra vez. Nada más lejos de la realidad. Su estado de salud se fue complicando cada vez más. A medida que iba siendo evidente que ella se iba a quedar para siempre, fueron surgiendo en nuestra familia sentimientos y actitudes y, por supuesto, en ella también, ya que era la más afectada de todos.

Quiero decir que considero fantástica la experiencia que vivimos. De una grandeza sin medida. Obviamente no fue fácil. Pero para quien está abierto a autoconocerse, reflexionar y buscar la evolución, es un maravilloso PHD.

El primer punto que me gustaría compartir es la reflexión que nos causó la pregunta de un sabio amigo al oír nuestras quejas sobre lo que estábamos perdiendo: “¿Qué sentimiento es ese que no es capaz de ceder a la compasión y acoger a una persona en el final de su vida?”. Egoísmo e individualismo, respondo hoy. Sin duda. Esos sentimientos que nos hacen colocar en la primera posición a nuestro yo con sus exigencias, deseos y creencia de que la vida nos debe pagar y que por ello pasamos por ella exigiéndole más y más. Al tener nuestros espacios ‘invadidos’, los planes y agendas modificados, los momentos de descanso alterados y disminuidos, podríamos llegar a una situación muy problemática, insoportable para algunos si no hubiese compasión y comprensión del momento del otro, de la persona que está perdiendo más, el anciano.


El segundo punto es nuestra cultura y aquí voy a tratar de la cultura brasileña específicamente, porque percibo diferencias en otros países latinos, que da mucha atención a los niños y poco a los ancianos. Cuando vemos un niño nos maravillamos y nos embobamos con la contemplación de una vida floreciendo ¿Y nuestros ancianos?
¿Qué sentimos hacia ellos? Tal vez nos reflejan nuestro futuro. Creo que no queremos mirar ese futuro. Pero los ancianos están ahí, cada vez viviendo más y mostrándonos que más tarde o más temprano llegaremos también.

El tercer punto es el intercambio de papeles: tú dejas de ser hija para volverte madre. Y ello implica imponerse, dar órdenes y, depende del caso, sin demasiada negociación. Creo que esta es una de las mayores dificultades para ambas partes. Es imposible no equivocarse en la dosis; a veces se cede más de lo que se debía –y enseguida las consecuencias, en este caso físicas, se hacen presentes- o se toma una actitud demasiado rígida que hace que todo se haga muy duro y difícil. Asumir que ahora eres tú la responsable de tus padres –con todo lo que ello representa- no es fácil. En esa fase me ayudó mucho interiorizar el concepto de devolver el amor y la dedicación recibida. Juntando esto al primer punto, intentar disminuir el egoísmo y la importancia que te das a ti mismo, considero que es uno de los mejores y más bonitos aprendizajes que tuve. Es cuando te dispones a amar sin pedir nada a cambio.

El cuarto punto es comprender que el amor y la dedicación que se da es por propia decisión. El ideal de familia nos dice que todos estarán unidos para colaborar en igual proporción, distribuyendo la dificultad y el trabajo. Pero eso es una ilusión para la mayoría de familias. Cada uno se involucra en la medida en que está dispuesto y de acuerdo a su grado de comprensión y desarrollo humano. Y lo que ofreces de atención, amor, dedicación, trabajo… solo te pertenece a ti. Cuando comprendí eso, todo se hizo más amoroso y fácil de tratar.

Una vez una prima escribió, cuando su madre pasó por una grave enfermedad, que era como si su vida hubiese parado. Hoy sé perfectamente lo que eso significa. Mi vida no paró, pero se cerró, se restringió. El desgaste emocional y físico es más grande de lo que conseguimos comprender. Al final de la vida no se puede planificar ninguna rutina porque van surgiendo nuevos cuadros. Aprendí sobre muchas enfermedades y secuelas que es capaz de generar el cuerpo en ese proceso  y también, claro, la cantidad de productos y servicios que existen para eso. Era un mundo que desconocía completamente y de repente estaba sumergida en él sin mucho tiempo para raciocinar. Eran como oleadas que venían sin descanso. Y no solo siete olas…

Pero el quinto y maravilloso punto de la larga reflexión que hoy me permití –disculpen - es el que considero más importante: el profundo ejercicio de amor que mi madre y yo realizamos durante ese tiempo divino. Aprendí en el Proyecto Mujeres que las relaciones madre-hija no son siempre fáciles o resueltas. Después de ir trabajando los puntos que he ido mencionando arriba, medio conscientemente, medio inconscientemente, fue apareciendo la comprensión de que mi madre y yo teníamos una oportunidad única de poner nuestra historia en orden y de curar heridas, incomprensiones, malos entendidos y practicar algo que siempre existió entre nosotras dos: el amor.

En el último año y medio de vida de mi madre, si por un lado su salud empeoró considerablemente e hizo que mi vida se convirtiese en un constante sobresalto, por otro, nuestra relación fue solo amor y ternura. Entrega genuina, por ambos lados. Yo vivía agradeciendo la oportunidad que tenía de dar amor y retribuir amor que había recibido de ella. Entendí a mi madre como mujer madura, sus decisiones, sus elecciones. Puedo no estar de acuerdo con ellas, pero respeto y admiro el coraje que tuvo siempre en seguir adelante.


Gracias a Mamita y a ese tiempo intenso que vivimos juntas hoy veo la vida de otra forma. Consciente de que el único arrepentimiento que queda en nuestro corazón cuando perdemos a alguien a quien amamos profundamente, es el amor que no fuimos capaces de dar. Un legado más de mi madre para mi vida.


Durante los 3 años, Mamita cuidaba y observaba atenta para
esta rosera que insistia en no dar sus rosas. 
Hasta que un dia brotou esta linda, grande y perfumada
rosa branca. Vino especialmente para dejarla feliz.


Debido a la repercusión que el post original tubo cuando publicado en portugues, el dia 7 de julio, decidimos traducirlo para el español.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Um reforma que acontece dentro e fora

Esta semana continuaremos trilhando o tema aberto pela Nany na semana passada: aprendizados ao cuidar de nossos pais no fim das suas vidas. 

Entre as 5 lições que ela dividiu de forma tão amorosa conosco, um deles, tem sido, na minha visão, cada vez mais potencializado: vivemos momentos de muita individualidade e ter que mudar nossa trajetória, desejos, necessidades e, principalmente expectativas, para cuidar de uma pessoa mais velha é sempre encarado, pelo menos num primeiro momento, como algo muito negativo. Um fardo mesmo. 

E como disse o sábio amigo dela: “que sentimento é esse que não é capaz de ceder à compaixão e acolher uma pessoa no final de sua vida?”

Sempre ouvi falar que nas culturas orientais, mais especificamente no Japão, o filho mais velho é responsável por cuidar dos seus pais até o final de suas vidas. Sempre achei esta tradição bastante poética, na minha visão romântica sobre este povo que tanto admiro. 

Tempos atrás porém, percebi que não se trata de poesia - o que não significa que não seja admirável. Aqui ao lado da minha casa tem um família japonesa, donos de uma antiga lavanderia do bairro. A casa deles fica em cima do negócio da família e eu consigo ver a propriedade do meu apartamento. Durante anos acompanhei uma reforma que parecia não ter fim. Um dia, ao levar algumas roupas para lavar, perguntei que reforma era essa que eles faziam há tantos anos. O senhor mais velho me respondeu: "Esperamos a chegada do meu pai e devemos preparar a casa para ele". 

Papo vai, papo vem, descobri o pai morava sozinho no interior se já dava sinais de que precisaria de ajuda. E, para isso, a casa estava sendo completamente reformada, pois era preciso adequá-la às suas necessidades. Quartos foram modificados, a sala, a cozinha, tudo. Demorou porque foi preciso fazer aos poucos, quando sobrava dinheiro. Espantada eu disse: "Puxa vida que lindo filho você é, parabéns". Ele me respondeu secamente: "Essa é a minha obrigação e ainda bem que, na minha família, tudo tem seguido o ciclo de vida normalmente". Não havia nem tristeza, nem pesar, nem ego, nem vaidade na resposta dele. Nada além de algo natural. 

Outro dia olhei pela janela e vi um senhor andando a passos bem miúdos no terraço dos meus vizinhos. Sentou-se no alambrado da janela que foi transformado em banco na época da reforma. Lá estava o tal ciclo da vida seguindo, embora não posso deixar de achar que, aquele banco colocado estrategicamente para se apanhar o solzinho gostoso do fim da tarde, não seja um carinho do filho para o pai. 

A casa se transformou e tudo continua normal. Mas agora eu olho da minha janela e acho que aquela é a casa mais linda do mundo. A casa preparada para receber um pai.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quando as mães tornam-se filhas



Hoje passei o dia todo com a minha mãe que está bem fisicamente, mas com a memória bastante debilitada. Fomos visitar meu pai duas vezes na UTI e, agora à tarde, paramos o carro um pouco afastado do hospital. Tivemos que atravessar algumas ruas e achei perigoso deixá-la “sozinha”. Peguei na sua mão para seguirmos juntas e, nesta hora, me lembrei do que disse a Nany esta semana sobre a inversão de papéis: filhas tormam-se mães. 

Quantas vezes minha mãe não pegou na minha mão para atravessarmos a rua quando eu era pequena! Durante anos este foi o nosso ritual. Hoje, me transportei até as minhas memórias de infância neste gesto de proteção. 

Lembrei também de quantas filhas eu já vi cuidar das suas mães. A mais emblemática, para mim, foi minha madrinha. Durante anos eu frequentei a casa em que morava apenas as duas: mãe e filha. A senhora, mãe da minha madrinha, era uma mulher muito forte. Lembro-me de quantas broncas vi a filha dar na mãe. Naquela época eu ficava um pouco assustada, pois eu era criança e achava aquela inversão perturbadora. Para mim, a minha madrinha tão legal comigo, era uma mulher muito nervosa! Hoje entendo…. Não era nada disso. Tratava-se de um amor incondicional. 

Minha madrinha passou a vida toda cuidando da mãe. Desde que o pai morreu, tragicamente, quando ela era adolescente foi assim. Ela trabalhou, venceu na vida e nunca teve muito tempo para pensar nela. Era filha única e aguentou firme, ainda mais depois que a mãe envelheceu. Nunca a vi reclamar, se lamentar por isso. Simplesmente cuidava daquela mãe como se fosse sua filha. Nada mais. 

Depois que a mãe se foi, ela já tinha uma certa idade (quase 60 anos), começou a curtir a vida. Casou com um senhor viúvo, viaja constantemente, se diverte. E com certeza deita na cama todas as noites com a sensação de que vez a coisa certa. Especialmente quando era firma com a mãe. Não foi fácil para ela, mas é maravilhoso poder contar esta história e encher o coração de muita serenidade por ter exemplos tão lindos a minha volta. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ame enquanto puder amar

Eu e a Nany somos amigas de muitos anos. Tivemos fases mais próximas e fases mais distantes. Mas desde que ela me convidou para fazer parte deste lindo projeto do Movimentos Humanos  passamos a estar mais perto do que nunca. Foi mais ou menos na mesma época que começamos a viver uma experiência - bem semelhante e bem diferente ao mesmo tempo - com nossos pais (ela com a mãe e eu com meu pai e minha mãe). 

A história do meu pai começou bem parecida com a da “mamita”:  um tombo que fez com ele nunca mais se recuperasse completamente e a saúde dele, ao longo do tempo foi ficando cada vez mais debilitada. A grande diferença é que ao contrário da Nany que cuidou da mãe diariamente, eu estou longe do meu pai - moro em outra cidade, 400 quilômetros nos separam. 

Meu pai é um homem adorável, doce, bondoso. É muito fácil gostar dele. Nós dois sempre tivemos uma ligação muito especial. Nunca precisamos de palavras para nos entender. Basta nossos olhares se cruzarem e simplesmente já sabemos tudo o que estamos sentindo. Mesmo agora, em que ele passa dias completamente desconectado deste mundo, ainda basta o olhar. Por isso ficar longe é tão opressor. Me sinto culpada por isso. Ninguém me culpa. Apenas eu. Meus irmãos, os que estão mais próximos dele, carinhosamente aceitaram a tarefa de cuidar do dia a dia (e da minha mãe também). Mas como bem colocou a Nany no texto que abriu esta semana: 

Compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho... pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.



Justamente por conta disso, diversas vezes pensei em segurar minha vida aqui por algum tempo e me mudar para a cidade deles e, desta forma, ficar mais próxima e ajudar nesta luta diária. 

Mas foi a própria ligação que tenho com meu pai que me fez mudar de ideia. Ele não gostaria que eu fizesse isso. Ficaria triste, contrariado. Ele me ensinou a ir atrás dos meus sonhos, do meu crescimento pessoal. Ele se preocupava com a minha independência desde que sou pequena, mas me apoiava, me incentivava. Ficava feliz porque sabia que ali estava a minha essência.

 Mas e aí? Como fica? Como eu ajudo apesar de não estar lá com tanta frequência. Tento ser o ponto de equilíbrio. Tento ser o ponto de apoio para eles. Fico disponível e me proponho a ir lá sempre que meu irmãos ficam cansados. 

Eles entendem isso, mesmo que não seja algo formalmente combinado. Assim, vamos seguindo. Cada um com o seu jeito de lidar. Mas o que é lindo - e acalma um pouco a minha alma - é o quanto de amor este homem consegue movimentar a sua volta. Estamos todos unidos pelo seu bem comum. Pelo quanto o amamos. E isso é simplesmente renovador. Seguimos em frente e enquanto ele estiver aqui conosco vamos tentar retribuir tudo que ele sempre nos ensinou, especialmente, os valores que eles nos passou. 

É uma honra ser filha deste homem e assim sempre será.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

O último legado de nossos pais: acompanhá-los no fim da vida.

Estou voltando a ativa esta semana depois de um mês afastada. Inicialmente seriam somente férias mas o destino quis que tivesse que me despedir da minhã mãe - Mamita, como a chamávamos em casa - nesse período. Ela faleceu dia 25 de junho depois de quase 3 anos difíceis e nos quais, mais uma vez tive o privilégio de aprender com ela.

Em agosto de 2011 minha mãe chegou na nossa casa de repente. Sem aviso prévio. Ela teve um acidente doméstico e de uma mulher que morava sozinha e com boa independência viria a se tornar uma pessoa totalmente dependente, sem liberdade nenhuma.

A chegada de Mamita na nossa casa, causou uma reviravolta no nosso lar e na nossa família. Todos sofremos com esse impacto. Foram meses de adaptação difíceis, não só pela mudança drástica da rotina mas também pela perda quase total de privacidade pela companhia ininterrupta de uma cuidadora ou enfermeira - anjos que nos ajudam - que, por ficar em casa, não só acompanhavam Mamita mas a todos nós. 

Durante um tempo imaginávamos que ela fosse melhorar e com isso ganhar maior independência e quem sabe voltar a morar sozinha. Ledo engano. O estado de saúde dela só se complicou. Na medida que ficava evidente para nós que ela tinha vindo para ficar, sentimentos e atitudes foram surgindo na nossa família - sem contar nela, sem dúvida, a mais afetada com tudo isso. 

Quero lhes dizer que considero a experiência que vivemos fantástica. De uma grandeza sem tamanho. Óbvio que ela não foi fácil. Mas para quem está aberto a se auto-conhecer, refletir e procurar a evolução, é um PHD maravilhoso. 

O primeiro ponto, que gostaria de compartilhar é a reflexão que nos provocou a pergunta de um sábio amigo ao ouvir nossa queixa sobre o que estávamos perdendo: "que sentimento é esse que não é capaz ceder à compaixão e acolher uma pessoa no final de sua vida". Egoísmo e individualismo, respondo hoje. Sem dúvida. Aqueles sentimentos que fazem colocar em primeiro lugar nosso eu com suas vontades, desejos e crença de que a vida nos deve e por isso andamos por ela cobrando mais e mais dela. Ao ter os espaços 'invadidos', os planos e agendas modificados, os momentos de descanso alterados e diminuídos, a situação poderia ser um grande problema, insuportável para alguns, se não houver compaixão e compreensão do momento do outro, da pessoa que mais está perdendo, o idoso.

O segundo ponto, é nossa cultura, e aqui vou focar na brasileira porque percebo diferenças em outros países latinos, de dar toda atenção às crianças e pouco aos idosos. Quando olhamos uma criança ficamos maravilhados com eles e embebecidos com a vida aflorando. E com nossos idosos? qual é o sentimento? talvez a percepção do nosso futuro. Creio que não queremos olhar para isso. Mas os idosos estão ai, cada vez vivendo mais e nos mostrando que mais cedo ou mais tarde chegaremos lá. 

O terceiro ponto, é a alteração de papéis: você deixa de ser filha para se tornar mãe. É isso implica em impor, dar ordens e dependendo o caso, sem muita negociação. Creio que é uma das partes mais difíceis para ambas as partes. Não tem como não errar na dose, as vezes cede mais do que devia - e logo, logo as conseqüências, neste caso físicas, se fazem notar - ou fica rígida demais o que torna tudo muito duro e difícil. Assumir que agora é você que é responsável pelos teus pais - com tudo o que isso significa - não é fácil. Nessa fase, me ajudou muito interiorizar o conceito de devolver o amor e a dedicação recebida. Juntando com o primeiro ponto, tentar diminuir o egoísmo e a auto-importância, considero um dos maiores e mais bonitos aprendizados que tive. É quando você se disponibiliza a amar sem troca.   

O quarto ponto é compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho... pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.

Uma vez uma prima escreveu, quando sua mãe passou por uma grave doença, que era como se sua vida tivesse parado. Hoje sei perfeitamente o que isso significa. Minha vida não parou, mas ela se fechou, se restringiu. O desgaste emocional e psíquico é maior do que a gente consegue entender. No fim da vida, nenhuma rotina pode ser planejada porque novos quadros vão surgindo. Aprendi sobre tantas doenças e sequelas que o corpo é capaz de gerar nesse processo, e claro a quantidade de produtos e serviços que existem para isso. Era um mundo que eu desconhecia completamente e de repente me vi nele envolvida sem muito tempo para raciocinar. Eram como ondas que vem sem descanso. E não são somente sete.

Mais o quinto e maravilhoso ponto da minha longa reflexão que me permiti hoje - desculpem por isso -  é o que considero mais importante: o exercício de amor profundo que minha mãe e eu tivemos nesse tempo divino. Aprendi no Projeto Mulheres que as relações mãe-filha nem sempre são tão fáceis ou resolvidas. Depois de ir trabalhando os pontos que mencionei acima, claro que meio consciente, meio inconsciente, só restou a compreensão que minha mãe e eu tínhamos uma oportunidade única de colocar nossa história a limpo e dissolver mágoas, incompreensões, mal-entendidos e praticarmos algo que sempre existiu entre nós: o amor. 

No último ano e meio de vida dela, se por um lado sua saúde piorou consideravelmente e fez minha vida virar um constante sobressalto, por outro, nossa relação era só amor e ternura. Doação genuína, de ambos os lados. Vivia agradecendo a oportunidade que tinha por dar amor e por retribuir o amor que tinha recebido dela. Como mulher madura entendi minha mãe, suas decisões, suas escolhas. Posso não concordar com elas, mas respeito e admiro a coragem que sempre teve em seguir adiante.

Graças a Mamita e esse tempo intenso que vivemos juntas, hoje vejo a vida de forma diferente. Consciente que o único arrependimento que fica no nosso coração quando perdemos alguém que amamos profundamente, é o amor que não fomos capazes de dar. Mais um legado de minha mãe para minha vida.


Durante os 3 anos, Mamita cuidava e observava atenta para
esta roseira que insistia em não dar rosas.
Até que um dia brotou esta, linda, grande e perfumada
rosa branca. Veio especialmente para deixa-la feliz.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Peça ajuda sempre que precisar!


Ontem aconteceu algo curioso que me fez refletir sobre outro hábito que dificulta nossa vida: não pedir ajuda. Por coincidência estive com um casal ontem e eles reclamavam disso. 

Primeiro a mulher, minha amiga, veio me contar que estava passando por uma série de dificuldades, inclusive financeiras. Comecei a achar estranho , afinal, ela é casada e sei que poderia contar com o marido para alguns dos seus dilemas. Questionei isso e ela me disse: "Não consigo pedir nada para ele. Muito menos dinheiro". Espantada, pergunto por que isso. "Me sentiria fracassada", foi a resposta dela.

Quando o marido chegou começamos a falar de outras coisas, mas assim que teve a oportunidade de falar comigo em particular o marido disse: "Você precisa convencer sua amiga a deixar que eu a ajude. Ela não me pede, nada mas sei que ela precisa"

Foi então que me toquei: existia um problema de comunicação ali. Minha amiga queria ajuda sim e meu amigo queria ajudar. Então, abrindo mão da minha convicção de que não se mete em assuntos de casal, eu esperei o momento certo e simplesmente disse: "Vocês precisam, humildemente, conversar"

Eles me olharam, a princípio constrangidos, e depois sorrindo. Respirei fundo e me abri com eles. Pedir ajuda é muito difícil para todos aqueles que são batalhadores e que acreditam que só são merecedores quando se luta. Por isso a humildade é tão importante. 

A vida me fez entender isso na marra. Hoje, tenho precisado da ajuda e do apoio de muitas pessoas. Se tivesse feito isso antes, talvez minha vida estivesse mais fácil. Expliquei isso aos meus amigos e disse: "Vocês são um casal, se não forem se ajudar mutuamente quem mais irá?" 

Ficamos ali os três em comunhão por algum tempo. Depois brindamos e celebramos. A vida é bonita demais para desperdiçarmos com orgulho e crenças que limitam nosso crescimento. Abra seu coração sempre, peça ajuda. Especialmente para aqueles que você sabe que te amam.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Às vezes desanima, mas e daí?


Ando meio desanimada. Demorei uns 15 minutos só para escrever esta frase inicial porque tenho uma crença dentro de mim que diz: sempre pensar positivo, sempre se sentir feliz, sempre demonstrar esta de bem com a vida. Então escrever isso soa, para mim, como confessar em público algo que as pessoas não deveriam saber a meu respeito. 

Pois é…eu também me desanimo, também tenho vontade de desistir, de simplesmente parar de caminhar. Mas quem não tem? Resolvi fazer disso o tema da semana: que mania é essa que temos de demonstrar ao mundo que somos super mulheres? Me veio a cabeça que isso tem tudo a ver com um outro tema que eu estava pensando em abordar: auto importância. 

A sensação que eu tenho é que o ser humano está sempre dando um jeito de mostrar ao mundo sua importância: "olha quantas batalhas eu travo todos os dias, quantos leões eu tenho que matar e faço tudo isso em cima do salto, com cara de feliz, como se a minha vida fosse só um mar de rosas". E não basta sentir isso. É preciso contar para todo mundo! É como se a gente precisasse receber uns elogios e umas palavras de força pelo quanto fazemos e, então, tudo está bem. 

Elogio é uma coisa louca para mim. Outro dia me dei conta: estou sempre me criticando, me chamando a atenção, nunca pego leve comigo mesma. Muito menos me faço um elogio. Mas estou sempre em busca do elogio dos outros.

Na verdade, o verbo está errado. Eu sempre ESTAVA atrás do elogio do outro. Ando mudada. Muita coisa já não faz mais sentido. Me sentir importante porque tenho que fazer muitas coisas para vencer e me alimentar desta sensação é algo que já não satisfaz a minha alma. Mesmo assim, me sinto desanimada. A diferença é que esta fez não tenho vergonha de contar isso aqui. Sei que vai passar. É só mais um passo na caminhada.