segunda-feira, 31 de março de 2014

Homens, sempre meninos. Uma leveza a ser reaprendida pelas mulheres.

Continuaremos a falar sobre os homens nesta semana, tema que, nós mulheres, adoramos discutir e tentar entender. Como vimos na semana passada, até onde conseguimos compreender nos projetos que conduzimos, os homens não querem a independência mas a liberdade de viver seus momentos que lhe permita alimentar sua alma: um chopinho com os amigos, jogar uma pelada, dormir sábado a tarde – toda a tarde! – entreter-se com games, viajar de moto para sempre voltar, sempre. Como me disse um dos entrevistados do Projeto Homens, “eu sou feliz, livre, na minha gaiola”.

A mulher se irrita profundamente com esse comportamento masculino. Muita desta irritação tem a ver com a sensação de exclusão do universo dele – como assim ele quer ser feliz sem mim? – apoiada na crença romântica que o casal só pode viver a dois o tempo inteiro. Mas outras vezes, a irritação vem do julgamento de irresponsabilidade que a mulher dá a este tipo de atividades: como assim, você vai se divertir se temos tantas coisas a fazer?

Pois é exatamente aqui que a relação azeda. A mulher possui, no meu entendimento, uma habilidade quase genial de realizar diversas coisas ao mesmo tempo – e neste momento não importa as origens desta habilidade. Com isso ela parece ter a necessidade de arrumar o mundo, e, na medida que vai deixando o mundo como ela acha que deve ser, retroalimenta a percepção que só ela é capaz de deixar o mundo perfeito. É quase uma antena ligada ininterrupta que a deixa tensa, vigiante, quase um fiscal. Estudei toda minha infância e juventude num colégio feminino de freiras, a congregação era francesa; creio que por isso carrego comigo a imagem da madre superiora: severa, vigiante quase um policial. É assim que muitas vezes encontro as mulheres, quando as entrevisto.

Se nesse contexto o homem decide, no meio de uma grande mudança, parar tudo para tomar um chopinho… já dá para imaginar que a Terceira Guerra Mundial está prestes a começar. Sinceramente, penso, que ela não começou ainda porque o homem, acostumou a calar e deixar para lá.

Pois é... mas é através dessa atitude de parar tudo para se dar prazer, e que no fundo transmite leveza, que o homem tem ganhado terreno. Uma característica que aos poucos vai ganhando força e reconhecimento. A mulher tem muito a aprender com esse tempo para si e com essa atitude sempre menino que o homem tem e que nós, na behavior, consideramos dois movimentos humanos importantes que estão integrando o casal.

É claro, homens, que essa atitude não pode disfarçar, como em muitos casos, irresponsabilidade e se tornar uma fuga para não enfrentar os desafios da vida e amadurecer. Mas esse é tema de outra semana.

Vamos refletir sobre isso esta semana?

Boa semana para todos.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Uma relação séria é sinônimo de falta de liberdade?

Pensando no tema desta semana, me lembrei de um filme bem bobinho (mas bem bobinho mesmo!) que está em cartaz nos cinemas brasileiros chamado Namoro ou Liberdade,no original em inglês, That Awkward Moment

Trata-se do gênero comédia romântica em que três amigos, após sofrerem desilusões amorosas, resolvem celebrar a "galinhagem" por toda a vida. Porém não é preciso avançar muito no filme para descobrir que, no fim das contas, eles vão se apaixonar por outra menina e toda a promessa de liberdade eterna (ou independência eterna) vai por água abaixo. É aqui que começa aquela coisa água com açúcar toda. 

Até aí tudo bem. O incrível é como ainda faz sucesso a fórmula do príncipe encantado e a menina dos sonhos do fetiche masculino. Sejamos honestos: qualquer pessoa que já se relacionou no mundo real, sabe que a vida não é tão cor de rosa e que os meninos não são príncipes e nem as meninas são tão moldadas para gostar de tudo que você, meu caro rapaz, faz. 

Foi neste ponto que eu deixei meu lado crítico de cinema de lado - que aliás não é de forma alguma um talento que tenho - e entendi: ali tem o sonho, o desejo, a ilusão. O aspiracional talvez. Os casais assistem ao filme, sonham com a relação fofa. O homens curtem a parte da galinhagem, ou seja, a suposta liberdade e as meninas suspiram quando eles abrem mão do vidão em nome do amor.Tudo isso ali no escurinho e depois vão para casa viver suas vidas. E tudo bem! Ninguém precisa mesmo viver apenas de realidade e, afinal, o cinema se propõe, antes de mais nada, a entreter. 

De qualquer forma é válido como reflexão a respeito da liberdade e da independência - e o que extamente homens e mulheres desejam e sentem a respeito do tema. Chamo este gênero de filme de domingo: gostoso para relaxar e dar uma risadas. Como o fim de semana está chegando pode ser uma boa pedida para o seu domingo. Só não espere uma obra prima digna de Oscar. Trata-se de outra coisa.

Confira o trailer abaixo:

quinta-feira, 27 de março de 2014

Homens, mulheres e a caixa do nada


Outro dia me apresentaram um vídeo que explicava as diferenças entre a forma de pensar e agir do homem e da mulher. O raciocínio que o vídeo traça é muito engraçada e basicamente diz que a cabeça do homem é feita de caixas (caixa da família, caixa dos filhos, caixa do dinheiro, etc). Já a cabeça da mulher é um enorme emaranhado de fios, todos conectados entre si, muitos deles, desencapados. 

Depois de muitos exemplos divertidos, ele chega nas duas maiores caixas que o  homem tem na cabeça: a caixa do sexo e a caixa do nada - que é a maior de todas, segundo o vídeo. Como o próprio nome diz, na caixa do nada, não tem nada dentro. É aquele momento em que o homem não está ouvindo nada do que a outra pessoa diz. Muitas vezes a conexão com a caixa do nada é feita na frente da televisão, onde os rapazes vão mudando de canal sem parar em lugar nenhum. Eles estão simplesmente fazendo nada. 

A maioria das mulheres não compreende muito bem essa coisa de não fazer nada e aí, os fios desencapados começam a dar um enorme curto circuito e pronto….está armada a confusão. Piadas a parte, estereótipos também, confesso que enxergo uma certa razão no raciocínio. 

Para não ficar só na relação casal, pensei nos meus irmãos. Não bastasse um, eu tenho três! Eu os amo de paixão, que fique claro. Mas desde pequena me recordo de me queixar para mim mãe que eles não me ouviam. Agora então, que somos adultos, já sei perfeitamente quando eles estão “ligados" no que estou falando e quando não. Já nem insisto mais de querer conversar nos momentos “off”. Tento esperar os momento “on" para conseguir dar conta de todos os assuntos importantes.

Não consigo achar que não há o que se aprender com esta habilidade tão masculina. Claro que os homens têm a aprender com a possibilidade de ser mais "multi sei lá o que" com as mulheres também, mas olhe pelo outro ponto de vista: não seria uma delícia desligar as nossas cabeças tão pensantes de vez em quando? 

Vou falar a verdade: até pagaria por ter uns 15 minutos totalmente off, sem pensar em nada. De novo chegamos ao ponto em que só o equilíbrio e a compreensão mútua nos fará caminhar para frente, mas eu ainda defendo que as mulheres precisam se desarmar um pouco que este caminhar aconteça. 


P.S.: Sei que o que vou falar agora pode soar estranho, mas vou falar assim mesmo. Quem me mostrou este vídeo foi meu companheiro, o Edu. Demos risadas e nos identificamos bastante. Mas eu fiquei pensando que, às vezes, quando eu chego em casa, cansada, também quero uns 15, 20 minutos para ficar em silêncio. Não que eu não pense em nada nestes momentos, mas não quero interagir. No fim das contas, imagino, não somos assim tão diferentes. Não é verdade?

terça-feira, 25 de março de 2014

os homens querem: liberdade sim, independência não.

Existem algumas crenças em relação ao universo masculino que por estarem tão cristalizadas, geram ruídos nos relacionamentos, só por existirem. Após o Projeto Homens, compreendemos que algumas delas são mais simples de compreender e administrar do que nossa mente quer nos fazer crer. 

Esta semana iremos falar sobre uma delas: a liberdade que o homem disse tanto querer (e ter direito). A reivindicação da liberdade masculina já deve ter gerado alguns bons estresses e até rompimentos. Cada um com sua razão: o homem considerando que tem todo o direito de ser um ser livre, e isso lhe permite a irresponsabilidade; e a mulher que traz consigo a crença que ela sempre será presa - sim, exatamente o oposto - às responsabilidades que deveriam ser compartilhadas. Esta montado o cenário para brigas e ressentimentos.

O que descobrimos no Projeto Homens é que o sentido de liberdade do homem não é o mesmo do sentido de liberdade da mulher. Para a mulher, a liberdade está intrinsecamente associada à independência. Isto se deve a outra crença, a mulher pode não querer nem um pouco, mas ela sabe que sobrevive sozinha. O homem, não.

Portanto, o que vimos no Projeto Homem que a liberdade que o homem tanto busca, é o tempo para si. Um tempo para ele viver suas fantasias, se distrair, sossegar, relaxar, ou simplesmente ficar quieto. Sem falar, nem ter que ouvir ou fingir que ouve para evitar brigas.

Só que é só um tempo porque no próximo ele quer continuar dependente - sim, no sentido emocional do conceito - da mulher e da família que ele escolheu.

Eu sei que este tema dá vários assuntos e discussões, por isso aguardem os desdobramentos.

boa semana para todos.

PS. Ando meio indisciplinada nas últimas semanas mas voltarei a iniciar nosso tema semanal do blog nas segundas-ferias, a partir da próxima semana :) 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Exterminador de monstros!

Sobre nossos monstros e demônios ainda tem um outro lado: aquele que achamos já ter resolvido e, de repente, temos uma reação completamente fora do controle justamente envolvendo algo que já considerávamos fazer parte do passado. 

Minha reflexão sobre este assunto não tem sido rara. Muitos dos assuntos considerados resolvidos por mim, andam me rondando e me pegam desprevenida. A conclusão que chego é que não existe milagres: o jeito é encarar para valer aquilo que nos incomoda e dar um jeito de limpar completamente. Jogar em algum canto escuro ou esquecer por um tempo não significa que está superado. 

Isso fica muito claro de se ver na velhice, quando nossos filtros sociais já praticamente não existem mais. De repente vemos pessoas que amamos tendo atitudes que desconhecíamos. Vejo isso acontecer constantemente em meus pais e não é fácil nem para nós, a família, e nem para eles.

Não tenho expectativas de zerar todos os monstros que tenho dentro de mim, considero isso impossível, mas ando comprometida a trabalhar arduamente para, de fato, exterminar aqueles que me comprometi a fazê-lo. Ou pelo menos me esforço para trazer a luz a eles. Assim ao menos fica mais fácil de saber onde eles estão e o que faz com que eles acordem sem controle. 



quarta-feira, 19 de março de 2014

Você sabe onde vivem os seus monstros?

Vamos combinar! Ninguém quer ter que lidar com os próprios monstros, embora sejam todos criados e alimentados por nós mesmos. É chato, dolorido, faz com que encontremos sentimentos com os quais não sabemos lidar e diversas questões não resolvidas. Porém viver com eles aprisionados também não é a coisa mais agradável do mundo. Especialmente porque é difícil matermos os monstrengos todos sob controle o tempo todo. 

Não sei se serve para todo mundo, mas para mim funciona bem: eu converso com os meus bichos. Sim, eu sei, é estranho. Mas é mais leve, às vezes é até divertido. Vocês podem não acreditar, mas eles até me respondem. A verdade é que eu já teria ficado bem mais maluca do que sou, caso não agisse assim. 

Não sei se porque tenho imaginação fértil ou por ter uma personalidade mais introspectiva, eu tenho uma verdadeira plantações de monstros dentro de mim. São criaturas de todos os tipos. Uns se esncondem nas entranhas da minha alma e sabe-se lá quando vamos conseguir bater um papo. Outros são fofos até. Se você achar a ideia boa, comece falando com esses, digamos, mais calminhos. Se aproxime devagar, tente compreendê-lo e, depois, vai aprimorando a conversa. Funciona. Juro!

Se minhas palavras não o convenceram, você pode tentar, assistindo aos dois trailers de Ondem Vivem os Montros. O filme é baseado no livro de mesmo nome do escritor Maurice Sendak e conta a história de um menino levado. Numa das vezes em que é colocado de castigo, o menino, chamado Max, resolve fugir de casa e usa a imaginação para criar uma misteriosa ilha. Lá ele encontra vários monstros, que vivem em bando. Max afirma possuir poderes e acaba nomeado rei do grupo. Responsável por evitar que a tristeza tome conta do lugar, ele passa a criar uma série de jogos para mantê-los em constante diversão. Nem preciso dizer que todos os monstros criados pelo garoto são aqueles que nós temos: medo, ira, raiva e por aí vai. No fim das contas, pode até parecer um filme bobinho, mas a mensagem é bem interessante e emocionante para quem consegue enxergar o enredo pela perspectiva que estamos falando.
Eu adorei o filme. Não por acaso, não é? Se você gostar dos trailers, é fácil encontrar o original no youtube. Boa diversão e reflexão.



 






terça-feira, 18 de março de 2014

Os nossos demônios mentais regem nosso futuro. Luz neles!

Meus quase 27 anos de pesquisadora e observadora do comportamento humano me ensinaram que as relações inter-pessoais são conduzidas, em boa parte, pelos "demônios e fantasmas mentais", para usar a expressão de uma das minhas amigas e mestres de vida que tenho ao meu redor.

Acabei de fazer uma pergunta para esclarecer uma dúvida e recebi como resposta, na minha leitura claro, agressividade gratuita. Um simples questionamento virá um ponto de atrito. Hoje - ah! bendita maturidade - logo me pergunto o que eu toquei com as minhas palavras? qual dor, ponto de atrito, ou demônio eu fiz acender? Difícil saber, mais ainda, quando a pessoa não é próxima mas é com essa heterogeneidade de pessoas, cada uma com seus temperamentos e demônios que lidamos no dia-a-dia, o dia inteiro.

Aprendi também que os demônios dos outros não nos pertencem e que tentar apaziguá-los muitas vezes significa ficar presso a eles. Especialmente quando a pessoa não trata de seus próprios demônios. Quando o inconsciente, que contém todos eles, não está iluminado. Nesse caso, como disse Carl Jung, "o inconsciente vira destino".

A saída, é não se engatar. Deixar, literalmente, a pessoa brigar sozinho. Quando é uma pessoa próxima, há o desejo de mostrar, apontar para a pessoa se libertar dos seus demônios mas muitas vezes isso pode significar, sem querer, se engatar neles e, alimentá-los. 

Olhando agora para nós, quantas vezes, a atitude de alguém não acende em nos nossos demônios, especialmente de relacionamento, e voltamos contra essa pessoa cheia de pedras e desconfiança? quantas vezes deixamos que nossos medos e traumas gerem nosso futuro?

É sobre isto que iremos falar nesta semana muito especial por ser início de novo ciclo: equinócio de outono. Mabon, tempo de realizar. A energia deste momento me lembrou o Prãna Spa Ayurvédico da nossa amiga Marise Berg. As fotos são de lá.

Bom equinócio para todos.





  



sexta-feira, 14 de março de 2014

Não concordo, mas aceito. De coração!

Outra virtude que vem junto com as diferenças é a tolerância: o ato de aceitar a existência de pontos de vista diferentes, conviver com eles, ainda que os combatendo.  

Voltaire escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês odiava Rousseau, suíço, filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata. Um era antítese do outro, como água e vinho.  No entanto, atribui-se a Voltaire uma das frases mais nobres para conceituar tolerância. Diz assim: Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo.


Tolerar está cada vez mais fora de moda. Hoje não se aceita nada além do que se pensa. Não existe mais espaço nem mesmo para uma boa e saudável discussão. Isso tanto na vida pública quanto privada. A opinião do outro tem cada vez menos valor enquanto a sua própria é altamente valorizada. 

Uma pena isso acontecer. Imagino que o mundo era bem mais interessante na época de Voltaire e Rousseau onde o espaço do outro não só era aceito, mas defendido até por aqueles que não compartilhavam da mesma opinião. Abria-se assim um mundo rico de diálogos, respeito, civilidade. E ainda dizemos que no passado os homens eram menos civilizados. Tenho lá minhas dúvidas. 

Embora bem esquecido, valores como a tolerância, na minha opinião, são ultra modernos. Feliz daqueles que conseguem se manter sereno diante de um ponto de vista diferente. Vamos praticar? 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Olhar para o mesmo e enxergar outra coisa


Trabalhando em agências de publicidade descobri a importância de se pensar diferente. Afinal de contas, o negócio da publicidade é feito de uma matéria-prima chamada criatividade. E dificilmente você será criativo se não olhar para o que todos estão vendo e pensar de uma forma diferente. 

Por isso, na maioria das vezes, esta matéria-prima é tão valorizada, pois certamente não é fácil pensar "fora da caixa" a maior parte do tempo, especialmente num mundo cada vez mais prático e que muda numa velocidade galopante. Não é à toa que as escolas de criatividade se multiplicam mundo afora e levam cada vez mais pessoas, principalmente jovens, a procurar por elas com sede de ferramentas que o façam mais inovadores e criativos. Não sou contra e adoro a ideia. Mas nem sempre é necessário ir tão longe em busca de inspiração. 

O que acontece é que cada vez menos queremos sair do lugar comum,nos abrir a caminhos diferentes, experimentar coisas novas. Me vem a cabeça os nossos vizinhos argentinos. Meus amigos publicitários brasileiros não vão gostar, mas atualmente eu considero a publicidade argentina muito mais criativa do que a nossa. Acredito que isso tenha acontecido por diversos motivos e, a maioria deles, porque o Brasil se tornou um mercado super importante para a maioria das marcas internacionais, portanto, não há mais espaço para errar, ousar, experimentar, arriscar. Uma pena, pois somos por essência mais criativos, na minha opinião. 

Estou falando de publicidade, mas poderia estar falando de qualquer outra coisa. Recentemente estive numa empresa de telemarketing e o diretor me contou que eles haviam acabado de comprar uma concorrente aqui na América do Sul, para avançar pelo mercado latino. A empresa comprada acabou se tornando, em muito pouco tempo, uma referência de boas práticas para a matriz brasileira, que é hoje um imenso elefante branco. Perguntei o que fazia deles um exemplo e uma referência. A resposta foi: eles fazem diferente, eles pensam num caminho alternativo o tempo todo, eles não se contentam com a acomodação. E terminou me dizendo: é como se eu não repetisse nunca o caminho da minha casa até a empresa

Agora chegamos a um ponto bem delicado: todo mundo odeia rotina, mas invariavelmente caímos nela. Na maioria das tarefas que desempenhamos podemos chamar de praticidade e precisamos dela para viver. Mas por que você precisa fazer todo dia, tudo sempre igual? 

Teve uma época que fiquei obcecada por esta pergunta e me propus o seguinte desafio: todos os dias vou fazer algo de uma forma diferente do que estou acostumada. O que aprendi ou ganhei com isso? Conheci muita coisa nova, tive experiências boas e ruins e ampliei minha visão de mundo. Eu gostei do resultado. Pensando bem....deveria voltar a fazer isso com mais frequência.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Convivendo e aprendendo

Quando penso em diferenças a primeira coisa que me vem a cabeça são pessoas. Como não acreditar que o primeiro desafio do diferente é exatamente o outro, nosso irmão, semelhante, que está ao nosso lado, a nossa volta, na nossa casa, no condomínio, prédio, quadra, cidade, mundo? Isso me leva a pensar em convivência. 

Este hábito, tão comum, afinal vivemos em sociedade, pode nos trazer os aprendizados mais honrosos que podemos ter. Paciência, aceitação de pontos de vista variados, amor incondicional, desapego, bom humor são apenas alguns deles. 

Estou eu aqui pensando onde este texto vai dar e, por um instante paro para ver se é hora de apagar tudo e começar de novo ou continuar do jeito que está. Me desculpem o trocadilho, mas resolvo “conviver" com o texto do jeito como está, embora ainda me sinta bastante desconfortável com ele. Normalmente eu tenho uma história para contar a respeito do tema, mas para ser sincera, hoje nada me vem a cabeça. 

Começo a pensar no momento atual e me pergunto: como tenho convivido com as pessoas? Por estar trabalhando em casa tenho estado com menos gente do que costumava e a resposta que tenho para a pergunta é que ando meio irritada com todos. Qualquer pensamento diferente do meu tem o poder de me contrariar, por mais insignificante que seja o assunto.  Isso na verdade é novo para mim, pois uma das minhas características é a flexibilidade e a “convivência fácil”. Não fazia força para isso. Aceitava pacificamente o pensamento, desejo, manifestação do outro. Agora eu ainda aceito, por continuar querendo a paz, mas tenho que no mínimo contar até 10 ou respirar fundo para que isso aconteça. E, algumas vezes, nem consigo ser tão sublime assim, tendo reações bem adversas. 

O que mudou em mim? Pode ser que a minha atual fase, onde o nível da ansiedade, entre outras coisas, esteja me abalando, e isso me torna mais agressiva comigo mesma e com o outro. Mas sinto que tem outra coisa: conviver com o diferente também é um exercício, um treinamento, por assim dizer. Se não exercitamos continuamente a arte de estar com o outro, vamos ficando mais enclausurados em nós e menos receptivo. Por isso sinto que é hora de voltar a um lema que usei quando cheguei a São Paulo e precisava me adaptar a cidade. A qualquer convite que me fizessem, eu dizia: EU VOU. É hora de começar a “ir" de novo. 

Para fechar o assunto busquei uma animação da pixar que lembro ter assistido no cinema, anos atrás, e que encontrei no youtube. A convivência e as diferenças de um jeito muito fofo para refletirmos a respeito.

segunda-feira, 10 de março de 2014

17 anos. A diversidade nos trouxe até aqui.

Devo estar ainda nos braços de Iemanjá após uma semana em alto mar - dizem que ela entorpece quem não fica alerta - porque apesar de ser uma data importante para mim, esqueci durante o dia que hoje a behavior faz 17 anos de existência.

Gosto de comemorar o surgimento oficial da behavior, embora a decisão de virar pessoa jurídica tenha começado seis anos antes, porque assumir uma empresa, construir uma marca e todos os compromissos e responsabilidades que isso implica fazem qualquer um crescer, amadurecer.

Fazendo uma retrospectiva do trabalho que fomos desenvolvendo na behavior vejo como tudo nos levou à descoberta da nossa essência corporativa (conheça mais desse conceito no nosso site). Como ela foi se tornando mais evidente e clara a medida que íamos mudando de rotas, errando trajetos, explorando outros. Foi como lapidar um diamante.

Hoje, considero que toda experiência é válida, e, especialmente para quem trabalha com comportamento humano, conhecer diversos guetos, diversos pontos de vista, oxigenar com pessoas bastante diferentes de você contribuem muito em compreender o outro e, paradoxalmente, em afirmar teus valores e tuas crenças. É vivendo que você descobre do que realmente você gosta e o que te faz bem.

E é sobre isso que iremos tratar esta semana de comemoração do aniversário da behavior: as diferenças e sua capacidade de oxigenar nossa mente, nossa alma; e o quanto você anda se abrindo para descobrir novos caminhos, novos talentos nesse seu momento de desestruturação.

Boa semana para todos.



quinta-feira, 6 de março de 2014

Fuga ou celebração?


O outro lado da diversão é a fuga. É aquela que não se trata de uma celebração, de sair para encontrar amigos queridos, comemorar algo ou ir dançar pelo simples prazer de remexer o corpo. De certa forma, em maior ou menor frequência todos fazemos isso de vez em quando. Nem sempre estamos preparados ou com disposição de enfrentarmos nossos “monstrinhos" (que muitas vezes estão acompanhados da solidão). Então vamos em busca de algo que vem de fora, que nos faça esquecer a realidade por algumas horas. 




Claro que nestes momentos estamos inconscientes e distantes do sentir, caso contrário, não entraríamos nessa. Como diz os versos do cantor e compositor Lobão:

A cidade enlouquece em sonhos tortos
Na verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer


A jornalista Kika Salvi relatou no seu livro Kika, a estranha uma série de passagens sobre os momentos de fuga e solidão que viveu após a sua separação, especialmente nos fins de semana que suas filhas estavam com o pai. Em uma de suas narrativas ela diz: 

Estava no samba-rock dominical; meus ouvidos são só zunidos depois do exorcismo. Oscilei muito lá dentro, não sei se embalada pela sensualidade da música ou pela vibração pulsante do lugar. Senti impulsos levianos à autocomiseração. Primeiro, animação: não se pode ficar indiferente à energia contagiante do lugar. Depois, assanhamento, diante de  hordas de homens bonitos, ou quase-homens (dada a tenra idade dos moçoilos), cheios de volúpia e urgência. Daí, ponderação, com um grande “por quê” no pensamento - afinal, já não terei passado da idade de me atirar irrefletidamente à demanda dos sentidos? E, por último, judiação - me senti patética naquele meio, tentando fazer de conta para mim mesma que sou capaz de ser feliz à revelia de tudo o que estava passando. Então o show se amorteceu e latejou o desconforto (estou bêbada…).

Quem nunca, afinal, teve seus momentos de fragilidade e não buscou na diversão pela diversão a solução para um momento de paz? A sorte, eu acredito nisso, é que o tempo é sábio e nos torna mais conscientes de que fuga não é, na realidade, diversão. Além disso, o corpo já não tão jovem, tem lá seus limites. Como diz meu companheiro: Hoje em dia não fico mais de ressaca. Fico donte. E como adoecer não é exatamente o que se quer, a gente pensa duas vezes se é melhor a fuga ou o encontro com os nossos monstrinhos mesmos. 

Isso não significa que não é bom entregar-se a momentos gostosos e animados. Divertir-se é fundamental, mas antes de começar pergunte para o seu coração: isso é fuga ou celebração? Tenha certeza que ele lhe dará a resposta.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Quem dança a tensão espanta

A quarta-feira de cinzas, dizem, é o dia da ressaca e do recomeço. Não venho de uma família “foliona" e nunca fui exatamente uma carnavalesca, por isso não tenho muita referência das sensações “das cinzas". Mas tive a felicidade de ser vizinha de um carnavalesco durante muitos anos. Tudo bem que era um carnavalesco de Curitiba, mas ele tinha sim, essa coisa da alegria do carnaval na veia. Ele e a família! Lembro que a casa deles tinha música constantemente e não importava o quão ocupados estavam, sempre arranjavam um tempo para dançar. As crianças da rua, incluindo eu, adoravam aquela casa. Também guardo em minha memória os preparativos para o desfile: alguns meses antes a garagem se tornava um grande galpão e lá as alegorias iam se transformando em sonhos de deixar qualquer imaginação infantil super entusiasmada.

Mas na quarta-feira pós-carnaval a casa era um silêncio só. Como se um luto abatesse ali e, naquele dia, ninguém da casa saia na janela ou ia até a entrada chamar a molecada para a diversão. Nós sabíamos que era assim todos os anos e respeitávamos. A rua tornava-se silenciosa. Também sabíamos que no dia seguinte, já uma quinta-feira qualquer, tudo voltava ao normal. Um único dia de morte e então o renascimento. Essa sempre foi uma simbologia sobre renovação. Mas o que sempre me fez lembrar desta família, mesmo hoje, mais de 30 anos depois, era a leveza. Dançar é mesmo sacudir o esqueleto. Aprendi isso com os carnavalescos! Eles eram uma família normal, com responsabilidades, altos e baixos, tudo igual. Mas eu sempre senti uma grande diferença: não havia tensão ali. Os músculos eram relaxados, os corpos se expressavam sem travas. 

No ano passado, exatamente nesta época, eu começava a passar por uma das mais complexas renovações que já tive a oportunidade de viver. Lembro que o carnaval todo senti dores de cabeça que "iam e vinham". Na quarta-feira de cinzas se tornou uma enxaqueca e assim foi por mais 10 dias. Quando já estava num esgotamento profundo e completamente desanimada resolvi procurar ajuda. Fui a um pronto-socorro onde me fizeram diversos exames. No fim eu não tinha nada, mas o médico sabia do que se tratava. 

Ele me perguntou se eu estava passando por algum tipo de estresse e eu respondi que sim, mas que não gostaria de falar sobre aquilo. Ele me olhou com muita calma e me disse: sua dor de cabeça é reflexo dos músculos da sua cervical que de tão tensos simplesmente fazem com que a sua cabeça receba uma pressão fora do comum. Eu poderia te dizer que era só isso, uma coisa boba, mas sei que não é tão simples assim. Você tem duas alternativas: se entupir com os relaxantes musculares que eu vou te receitar, apenas para amenizar a dor, ou dar um jeito de verdade nesta sua cervical. Acredito que, para isso, não seja remédios que vão resolver. Você sabe o que isso significa, não é? 

Claro que sabia, mas a grande pergunta era: como eu vou fazer isso? Parece que o médico lia mentes, pois já na porta quando nos despedimos ele me deu um último conselho: por que você não começa a dançar? A dança é um ótimo exercício para tensão e ainda relaxa. Não importa o tipo de dança. Não vai resolver o seu problema, mas vai te ajudar a encontrar uma saída para resolver a questão”.


Saí de lá pensando no carnaval que havia acabado de passar. E numa música do Chico Buarque que diz: “tô me guardando pra quando o carnaval chegar”.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Distraia-se, coloque sua mente em off

Diversão é desviar a atenção. Aprendi isso quando buscava a diferença de sentido entre as palavras diversão e prazer. Muito por conta disso, considero hoje a diversão fundamental para nossa saúde física, mental, espiritual e emocional. Especialmente para aqueles que o estado de alerta os acompanha dia e noite. Estar em alerta constantemente gera tensão, que por sua vez, no meu entendimento, é uma das maiores causas de estresse. Muitas pessoas pensam que o estresse vem do acúmulo de tarefas, mas creio que acúmulo de tarefas pode causar estafa, cansaço, mas não necessariamente estresse.

Quando chega a época do carnaval parece que é exatamente isso que queremos, nos distrair, desviar nossa atenção. O espírito do carnaval busca deixar a censura no limite mais baixo para poder liberar todas as tensões e nosso demônios internos. Isso é extremamente saudável. É uma pequena fuga que alivia as tensões, que relaxa o corpo para continuar pós carnaval de volta a batente, preferencialmente, reorganizados. É uma nova partida através de um novo status.

Só que para isso tudo funcionar devemos ter consciência do processo e não somente ir como gado fazendo parte da manada. Uma coisa é eu deliberadamente me divertir, soltar “minhas feras” - como diz a música que deixamos para você hoje - e liberar os pontos de tensão, para distrair minha mente e poder retomar os mesmos pontos sob uma outra ótica, um outro estado de espírito. E, outra, bem diferente, é um fazer dessa distração uma fuga mal organizada para me distrair da dor que a transição está causando em mim. Neste último caso, minha mente não relaxa, continua lá no fundo agindo, sabendo que estou me auto-enganando, e a volta à vida, neste caso, costuma ter um sabor amargo e enjoado, como a ressaca de bebida de baixa qualidade.

É sobre este ponto que gostaríamos de abordar nesta semana de ressaca, o quanto usamos a distração como fonte de alívio ou de auto-engano neste momento de desestruturação.


Boa ressaca de carnaval para todos nós.