sexta-feira, 29 de agosto de 2014

É possível respeitar sem aceitar?

Uma vez estava participando de uma conversa na piscina do meu prédio, mais como ouvinte do que como participante, na verdade. Uma vizinha contava a história da filha da amiga do parente e dizia que a menina havia largado toda a vida boa de princesa na casa dos pais aqui em São Paulo para ir morar com um funkeiro carioca. “Foi morar no morro" , ela dizia abismada. 

Os outros participantes expressavam sua opinião, alguns mais a favor da liberdade de escolha da menina e outros radicalmente contra. De tudo que ouvi, duas frases não sairam da minha memória. A primeira dita pela própria narradora da história: “Se fosse minha filha eu respeitaria a decisão dela, pois amor de mãe é incondicional, mas dentro do meu coração eu não aceitaria jamais”.  A outra frase, vinda de outra vizinha que tem duas filhas, era “Eu dou todo o apoio, desde que não seja com as minhas filhas”

Na época, pelo que me lembro, eu as julguei, pois achei que elas estavam usando a habitual lei do "dois pesos e duas medidas”. Pensando bem agora e avaliando nosso tema a respeito da isonomia fico na dúvida de quantos de nós, pobres mortais, não fazemos em assuntos especifícios o mesmo que elas fizeram aquele dia. Ou pior: quantas vezes não dizemos que aceitamos os outros e, principalmente suas diferenças, e saímos por aí orgulhosos por sermos pessoas evoluídas, maduras, capazes de tolerar qualquer tipo de diferença. Como disse Jesus Cristo, na minha opinião, o primeiro e mais forte propagador da verdadeira tolerância e aceitação: "que atire a primeira pedra quem nunca errou"

Escrever sobre os mais diversos Movimentos Humanos apontados nas pesquisas da Behavior me faz aprender muito sobre mim mesma, meus relacionamentos, minhas forma de agir. A cada passo que dou para desenvolver os textos, mais e mais portas vão se abrindo e tudo fica mais claro - sem dúvida - mas também mais exposto. É surpreendente, por exemplo, me ver diante desta verdade: quantas vezes não levantei bandeiras de pessoas e pensamentos diferentes, mas que no fundo não passavam de um discurso semelhante ao das minhas vizinhas e colegas de piscina? Respeito, mas não aceito foi praticado por mim centenas de vezes. Milhares de vezes!  E continuará sendo, afinal, a consciência do fato é sempre e apenas o primeiro passo. 

Aceitar o outro exatamente como ele é, amá-lo e respeitá-lo  de forma verdadeira e não apenas como exercício de gradiosidade egóica é tão poderoso quanto difícil. Mas é maravilhosa a descoberta e por isso resolvi compartilhar com vocês, acreditando que o exemplo sempre mexe com as pessoas que estão abertas a caminhar também. Deixo aqui duas reflexões filosóficas que li durante o momento em que estudava para fazer este texto e que me ajudaram a ir mais a fundo no tema e em mim mesma. Que este final de semana seja feito para colocar em prática todos os aprendizados.

(…)não bastaria evitar a humilhação dos outros. É preciso também respeitá-los – e respeitá-los precisamente na sua alteridade, nas suas preferências, no seu direito de ter preferências. É preciso honrar a alteridade do outro, a estranheza no estranho, lembrando (...) que o único é universal, que ser diferente é que nos faz semelhantes uns aos outros e que eu só posso respeitar a minha própria diferença respeitando a diferença do outro. (Zygmunt Bauman)

Se os homens não fossem iguais, não poderiam entender-se. Por outro lado, se não fossem dife- rentes, não precisariam nem da palavra, nem da ação para se fazerem entender. Ruídos seriam suficientes para a comunicação de necessidades idênticas e imediatas. (Hannah Arendt)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Festa das Cores!

Quando estava procurando escola para meu filho em São Paulo, 13 anos atrás, fiquei apaixonada por uma delas, depois que ouvi da diretora as seguintes palavras: 

“Não tratamos todos como iguais. Cada indivíduo é diferente e nós identificamos essas diferenças e fazemos com que eles se desenvolvam a partir dos seus próprios talentos e habilidades. Mas temos regras, limites e um plano de estudo que deve ser seguido. Trata-se de um trabalho árduo e por isso as turmas são pequenas”.

Ele estudou lá 5 anos. Quando passou da pré-escola para o ensino fundamental houve uma celebração. Não uma formatura da pré-escola como é comum na escolas atuais. O que teve foi o que eles chamam de Festa das Cores. Cada criança deveria escolher uma cor e naquele dia ela e sua família deveriam comparecer a festa com a cor escolhida. O palco era uma arena que foi montada no pátio da escola que é de “chão batido”. Olhando para a platéia você entendia porque a chamavam de festa das cores. As crianças escolhiam se queriam dançar, cantar, recitar poesias ou tocar algum instrumento e ensaiaram durante algumas semanas. Não houve uma medalha para o aluno mais brilhante, nem uma menção a nada que fosse maior ou melhor. Isso simplesmente não existia lá. Houve um grande show, harmônico e emocionante. Os professores não fizeram o tipo “faça o que seu mestre mandar” na frente da turma. Eles tocavam, dançavam e cantavam juntos e integrados aos alunos. Nunca na minha vida fui a um evento mais emocionante. Não apenas por ter sido algo relacionado ao meu filho, mas também por ter compreendido, naquele momento, cada palavra do que a diretora havia me dito anos atrás e por me sentir grata em poder vivenciar este aprendizado. 

Quando ele resolveu mudar de escola fiquei chateada porque, para mim, aquele era o lugar perfeito para a educação dele. Eu queria ter estudado lá! Mas foi a própria escola que me ensinou a respeitar o direito do meu filho de querer algo diferente do que eu gostaria. Ele mudou para uma escola bem mais tradicional e este ano termina o ensino médio lá. Foi uma ótima escolha para ele, afinal. Mas certamente os anos passados na escola anterior fez a base para ele ser a pessoa que é hoje. Um homem, moço, que entende e aceita o que é diferente dele. 

Cada vez que  me conecto com o conceito de isonomia, colocado pelo Projeto Uno no Movimentos Humanos me vem a cabeça esta Escola e tudo que ela fez pelo meu filho. O olhar sob o indivíduo como um ser único, não apenas como um número impresso numa chamada escolar fez com que eu entendesse, claramente, o que é esta tal isonomia e como o mundo pode ser cada vez mais colorido se conseguirmos  introduzir este conceito em nossas vidas.

E assim, será.



segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Isonomia sim. Igualdade nem sempre.

Quando escolhemos qual nome dar ao Movimento Humano ligado ao Novo Poder, a primeira palavra que veio foi Poder Igualitário. Tem se falado muito em igualdade numa tentativa de diminuir as diferenças mas aprendi há muitos anos, que a igualdade pode encobrir a não aceitação das diferenças.

Eu não deveria pensar que todos são iguais - no sentido de similitude - para respeitar. Eu devo respeitar todos, inclusive os diferentes. Posso não querer conviver e muito menos concordar; inclusive posso expressar meu descontentamento ou minha discordância mas cada um tem o direito de ser, agir e pensar como quiser dentro da lei aprovada pela maioria - pelo menos numa democracia.  

Por outro lado, tampouco acredito na igualdade no sentido estrito da palavra, porque cada ser humano é diferente, tem sua própria história, suas alegrias e suas dores. Evidente que isso não justifica atitudes negativas, raivosas, que fazem mal, por isso considero que a liberdade de ser como se quiser tem que estar subordinada a lei que, queiramos ou não, rege o país que escolhemos viver.

Prefiro o termo isonomia a igualdade porque seu sentido é de "igualdade de todos perante a lei". Acredito que isso seja o que a maioria quer dizer quando diz igualdade.  Parece um jogo de palavras mas entendermos o sentido da isonomia, ajuda a compreender o Novo Poder que começa a se configurar nas pequenas atitudes e escolhas das pessoas comuns.

Quando penso que o novo poder é um Poder Isonômico, significa que a mudança profunda está exatamente no respeito e valorização às diferenças de forma igualitária. É uma mudança de raciocínio que sei, irá levar bons anos para se consolidar. Ainda queremos que todos pensem como a gente, que nossa verdade seja A verdade. Que nossa raça, escolhas, nacionalidade, gênero, etc. sejam os melhores. Enfim, ainda queremos vencer mesmo que seja nos campo das idéias como se tudo fosse uma guerra. A nossa vitória, ainda está atrelada a um vencido. Isso aplaca a insegurança da escolha e afirma que nós estamos certos. Perante o status quo.

O Poder Isonômico, precisa cada vez menos, ou nada na sua perfeição, da confirmação do outro. Nele a comparação é menor. Todos estão certos, sob seus pontos de vista. A troca de ideia é uma troca, que alimenta e modifica ambos os lados sem haver ganhador e perdedor. No Poder Isonômico, todos ganham com a troca.

Eu sei que parece utópico, mas pequenos sinais desse movimento já estão fluindo no nosso dia-a-dia e é sobre isto que iremos falar esta semana. 

Boa semana todos!



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Você deseja ser quem nesta vida?

Hoje pela manhã fui visitar uma empresa de consultoria de inovação e tendência. Um ambiente moderno, bem informal, num lugar super gostoso e com uma equipe bem jovem e descolada. Eu e a gerente geral éramos as pessoas mais “antigas" do pedaço - isso porque estamos no auge dos nossos 40 e poucos anos! 

No fim da visita a gerente, e mais 3 meninas da equipe, estavam saindo para almoçar e me convidaram para ir junto. Mal sentamos na mesa e surgiu o assunto que se estendeu até o cafezinho. De manhã havia rumores de que a diretora de uma empresa cliente deles seria promovida e parece que a vaga estava em aberto. A questão é que o salário da mulher beirava a casa dos 40 mil reais, mas que aquilo ali era quase a escravidão, pois a cliente tinha uma carga horário de mais de 12 horas diárias de trabalho, incluindo sábados, domingos e feriados - isso sem contar que ela vivia tensa e sob pressão constante. Ela é casada, tem 3 filhos e comanda, além de toda a sua equipe na empresa, um pequeno batalhão de babás, empregadas, motoristas, folguistas para dar conta da rotina dos filhos.

Não precisou muito para a pergunta mágica aparecer: alguém naquela mesa se canditaria à vaga se isso fosse possível? As 3 jovens logo se posicionaram dizendo que jamais fariam isso: por qualidade de vida, por prezar a liberdade, por não querer viver daquele jeito e por aí vai. O que não faltava para elas eram argumentos para achar que a vida da tal executiva não era boa. 

"Mas….e o salário de 40 mil reais?” Quis saber a gerente. "Pouco importa”, disse uma das meninas. "Prefiro ganhar menos e viver mais”, disse outra. Por fim, a minha companheira de maturidade desabafou indignada: "Gente, como assim? Este cargo é tudo que se espera numa carreira. É um sonho. Além disso ela é linda, poderosa, dirige uma BMW e tem roupas maravilhosas. Isso sem falar que eu também tenho 3 filhos e minha vida seria muito mais fácil se pudesse ter a estrutura que ela tem, o poder, o status. Em que mundo vocês vivem?”.  Silêncio geral.

Eu, que havia acabado de conhecer aquelas pessoas, achei melhor não expor nenhuma opinião. Mas não demorou muito para todas olharem para mim e perguntarem: "E você? Se canditaria ao cargo?". 

Pois é. Mal sabem elas que eu estava fazendo esta pergunta para mim mesma enquanto elas discutiam entre si. Fui sincera: "Provavelmente anos atrás eu me canditaria sem dúvida. Hoje, não sei. Não quero ser escrava nem do dinheiro, nem deste poder, mas não conheço a diretora em questão para saber se é o ambiente que está fazendo isso com ela ou se a imposição da falta da liberdade está vindo dela mesma. Fato é….hoje eu quero trabalhar, produzir, mas eu também quero ser feliz e viver. E dinheiro faz bem. Gostaria de ver meu trabalho rendendo como o salário dela. Mas aprendi, a duras penas, que dinheiro também cobra seu preço e ele pode ser libertador ou um instrumento de escravidão. Você que decidi isso”.

Então me calei, pois vi que a gerente estava mais indignada com a minha resposta do que com a resposta das meninas. Resolvi desviar o assunto fazendo outra pergunta - pensando no tema que estamos discutindo no blog. 


"Mas se o gênio da lâmpada perguntasse quem vocês gostariam de ser no mundo corporativo - fosse quem fosse - em qualquer nível, indústria, segmento - vocês teriam uma resposta para ele? Quem vocês gostariam de ser?”.  A gerente não pensou 3 segundos para me dar uma lista de 5 ou 6 pessoas que ela gostaria de ser. E as meninas? Apenas uma respondeu: "Eu quero ser eu mesma, seja no cargo que for". Que bela resposta!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Igual ao general

Ontem uma amiga sabendo que eu adoro banda (fanfarra) me ligou entusiasmada para irmos num evento no Círculo Militar, onde ela é sócia. A atração principal era a banda filarmônica do exército - por isso a empolgação dela em me convidar. Infelizmente eu não pude ir. Mas hoje cedo ela me ligou para contar como foi. Falou sobre as esposas dos oficiais que estavam todas arrumadas com seus cabelos armados com laquê. Contou das formalidades que só as forças armadas conseguem ainda manter e terminou falando das músicas que a banda tocou.

O que esta história tem a ver com o tema da semana? Acontece que passei o dia pensado nisso. Não existe lugar melhor para ilustrar como as hierarquias de poder acontecem do que no exército, marinha ou aeronáutica. Se você é um oficial e almeja ser um dia um general, um almirante ou um marechal, o melhor caminho é se espelhar nos seus comandantes e agir como tal. É um modelo, não é? Pois comecei a ver que não é tão diferente do que normalmente acontece conosco. A maioria de nós, pelo menos em algum momento das suas vidas, quer ser igual a alguém. Seja para fazer parte de um grupo, seja para pertencer, seja, principalmente, para competir - evidenciando o “sou mais, tenho mais, posso mais”. É aí que a coisa toda se complica. Quanto mais olhamos para o outro e, competimos com ele, menos sobra espaço para olhar para nós mesmos. 

Me lembro que quando eu era bem mais jovem - e portanto bem menos tolerante - eu detestava que me perguntassem onde eu comprei a roupa que eu estava vestindo. É uma bobagem, mas aquilo me remetia a um olhar no outro. Eu não entendia como elogio.  Eu ouvia algo como “eu quero ter um igual ao seu”. 

Mas antes de chegar nesta fase, passei por outra que considero bem pior. Entrei na faculdade com 17 anos. Por uma daquelas coisas do destino, a minha turma quase não tinha pessoas da minha idade. A maioria já eram homens e mulheres estruturados, que trabalhavam e pagavam suas contas - inclusive a mensalidade da Universidade. Eu me sentia um peixe fora d’água. No auge da adolescência, com minhas roupas de surfista que era a moda na época, sentia que nada combinava ali. Não demorou muito para eu mirar na mulher que achava mais elegante, bonita e culta da sala e comecei a tentar imitar seu estilo. No início fiz isso, usando as roupas da minha mãe. Não funcionou muito bem, como vocês podem imaginar. Fui ficando tão focada nesta ideia, que chegou uma hora, eu simplesmente comecei a imitar a letra da moça. E que letrinha difícil era aquela (estamos falando de uma época em que escrevíamos muito mais a mão). A minha sorte é que apesar da relativa loucura que se apossou de mim naquele momento, eu sempre tive bom-senso e uma certa lucidez. Aos poucos fui entendendo que aquilo era ridículo e fui buscando o meu próprio estilo. Não por acaso, logo estava trabalhando na editoria de moda de um jornal local e fui estudar moda para poder escrever sobre o assunto. Isso me ajudou a formar um estilo próprio e fez com que eu passasse a olhar para mim e não para o outro. 

O que me levou ao outro ponto - aquele em que era comum as pessoas me perguntarem onde eu comprei roupas e acessórios. Isso tudo pode parecer meio fútil para um tema tão importante como o que estamos abordando. Mas ajuda a esclarecer. O que eu quero dizer é que quanto mais para fora o nosso olhar, está menos você vai se enxergar: sua essência, sua verdade, sua confiança. 


A boa notícia é que as últimas atualizações dos projetos da Behavior que dão sustentação ao Movimentos Humano mostra que estamos começando a se importar menos com o outro e focando mais em nós mesmos. No futuro isso vai nos levar para um outro patamar. Aliás….já começa a nos levar. Amanhã vamos falar de exemplos de pessoas e situações que já se mostram mais voltadas para si mesmas e menos para o outro.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Será que nossas diferenças nos torna melhores que os outros? Entenda melhor a mudança do que é poder.

Sábado assisti ao filme Planeta dos Macacos, o confronto. A mensagem do filme tem a ver com algo que acredito: importa pouco a raça, o sexo, a nacionalidade, a cor, a origem, a classe sócio-econômica, ou como no caso do filme, a espécie. Em todos os lados há seres que conseguiram superar suas dores e perdoaram com lucidez (veja nosso post sobre esse tema) e a aqueles que vivem alimentados pela dor e pela raiva que ela gera.

Pesquisando seres humanos há mais de duas décadas hoje sei que a essência humana é bastante parecida em todos os segmentos. A cultura contribui a fortalecer alguns valores em detrimento de outros, o que ajuda a distinguir especialmente na aparência, posto que refina a forma. Mas a essência, a mola propulsora que leva ao ato, podem acreditar, é a mesma. O que distingue hoje para mim, não é mais a forma, mas sim a escolha de qual mola propulsora será usada. A dor ou o perdão. Porque todos nós temos coisas a perdoar, inclusive de nós mesmos.

Se olharmos sob está perspectiva, a busca pela diferenciação através de grupos - católicos vs evangélicos, brancos versus negros, latinos versus europeus, homens versus mulheres, judeus versus árabes  e por ai vai - faz menos sentido. A diferenciação fazer menos sentido é o que configura uma das facetas de mudança do conceito de poder.

A necessidade de diferenciação é algo profundo que tem a ver com auto-afirmação e pertencimento dentro de um contexto social. Esta auto-afirmação foi construída numa base de crenças que diz para se ter valor, tem que ser melhor, maior, de alguma forma mais. Ela encobre a competição. Aprendi que a competição é necessária quando se é criança porque é uma forma de encontrar seu espaço a partir da referência do outro, mas a medida que vamos nos tornando mais consciente de quem somos, ela deveria fazer menos sentido. Na maturidade e com uma autoconfiança equilibrada, nós existimos com menos dependência do outro. Assim, não preciso competir para ganhar. Não preciso que alguém perca para eu ser vitorioso.

O poder embasado na diferenciação, e o que pior, na culpabilização de quem é diferente é um dos pilares do antigo poder, por isso ele se esforça em aumentar a raiva e evitar a paz. Ainda bem isso está começando a não fazer sentido.

Fiquem agora com um pouco do filme, e se puderem assistam.

Ótima semana a todos!





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O poder sem crachá

Ainda falando sobre a mudança do conceito de poder no mundo corporativo eu andei pensando: lembro que desde muito jovem eu tinha o sonho de trabalhar em uma empresa e me tornar diretora de alguma coisa. Eu costumava usar a expressão: “empresa de crachá”. Esse era realmente um grande sonho e ele foi realizado numa carreira de mais de 20 anos, com muito trabalho e realizações. Até demais! Houve um tempo que na falta de um, eu tinha sete crachás. É sério. Eu andava com nada menos do que SETE deles: dois da agência em que eu trabalhava (eram duas sedes), um para entrar no estacionamento e mais quatro para entrar nos prédios dos meus clientes - assim não perdia o tempo de ficar na fila da recepção. 

Hoje já não me importo com crachás. Muito pelo contrário. Se estiver no meu caminho trabalhar em algum lugar onde simplesmente eles não existam, eu vou gostar. O interessante é que eu tinha a impressão que cheguei no nível de não me importar mais com o ambiente formal de trabalho porque passei o tempo que precisava neles e amadureci. Porém tinha a impressão que as pessoas que estão começando agora ainda tivessem este sonho. Mas isso também mudou. 

Outro dia eu estava no que chamo de meu atual escritório: uma loja da Starbucks e um rapaz muito jovem puxou conversa comigo. Papo vai, papo vem ele me contou em detalhes sobre uma start up que ele estava lançando. E antes que eu alguém ache que ele estava me paquerando, não era este o caso. Eu era exatamente o “target" do negócio que ele estava iniciando. Dei meus pitacos e ele pegou meu email para me avisar do lançamento do serviço. Quando isso aconteceu, eu escrevi para ele desejando boa sorte e me colocando a disposição, para quem sabe, me tornar consultora de marketing da sua empresa. Dias depois ele me chamou para um café no “nosso” escritório em comum: a mesma cafeteria. Desta vez levou o sócio - tão jovem quanto ele. Tivemos uma longa conversa e fiquei surpresa com a história dos dois. Ambos trabalhavam no mercado financeiro, têm 25 anos e até o ano passado já haviam juntado dinheiro suficiente para abrir um negócio próprio, viver sem lucro por 3 anos e ainda teriam dinheiro para se divertir. 

Fiquei pensando em mim aos 25 anos. A menina do crachá! Se eu tivesse o sucesso financeiro e o poder que eles tinha nas mãos com esta idade, a última coisa que eu faria era deixar o meu posto, a empresa, o poder que tudo isso me daria. O status! Como deixar este status para trás? Mas aqueles meninos simplesmente não estavam dando a mínima para aquilo e jogaram esta vida corporativa do terno e gravata para o alto. Hoje, simplesmente são felizes empreendendo, andando de tênis e fazendo de uma mesa numa coffee shop o seu lugar de trabalho. Sinal dos novos tempos. 

Confesso que fiquei com um certo orgulho de mim mesma por fazer parte do universo dos meninos. Acho que virei uma espécie de conselheira deles. A gente consegue, apesar das diferenças, falar a mesma língua e ,nela, não existe a palavra poder. Muito interessante….

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Com respeito, mas discordo. E daí?

Refletindo sobre o tema proposto para esta semana me dei conta de como a questão da quebra do poder está batendo na nossa porta literalmente. Por exemplo, no trabalho. Outro dia uma amiga reclamava que sentia que os jovens que ela lidera hoje são completamente diferente de como éramos e que é muito difícil lidar com eles. A sensação dela é que eles não demonstram respeito pelas pessoas com mais experiência e que hierarquia é algo que não existe no vocabulário deles. 

Tivemos uma discussão acalorada sobre o assunto porque eu concordo em termos com ela. Uma coisa que eu não discuto é respeito e educação. Isso vem do berço e sempre deverá existir nas relações humanas, mas a ousadia dos jovens, de te encarar de frente, de dar ideias no meio de uma reunião de diretoria ou ainda discordar da sua opinião me parece muito saudável. Não vou negar:  venho de um ambiente onde as pessoas são cada vez mais jovens e realmente estranhei esta mudança de comportamento da dita geração y. Mas com o passar do tempo aprendi a conviver com eles. Com o tempo já conseguia  identificar aqueles que eram educados e comprometidos dos mal educados e que não estão nem aí para nada - porque existe esses também e não tem nada a ver com o que estamos falando aqui. 

Aqueles do primeiro time acabei conseguindo interagir muito bem. São pessoas mais destemidas do que a minha geração e mais preparada para encarar uma boa conversa e colocar sua opinião de uma forma posicionada. Isso nos ajuda a trazer um frescor para o ambiente corporativo. 
Lembro de uma menina que tive o prazer de conhecer trabalhando e que, sem dúvida, me ensinou muito a respeito deste tema. A sua primeira reunião foi memorável e durante muito tempo se falou a respeito.  Começou quietinha, ouvindo e anotando tudo e, de repente, sem nenhuma claquete, ela olha para o diretor que estava falando e diz que simplesmente discordava do que ele dizia. O estranhamento que isso causou a todos foi imediato, mas ela simplesmente não se intimidou. No fim das contas, ela tinha razão e argumentos a respeito do que estava falando. Fosse outros tempos ela seria chamada de louca por ter feito o que fez e nem duraria muito naquele ambiente. 


A sorte é que trabalhar num segmento em que os jovens são tão bem cotados é que aprendemos a aceitar este novo tempo de uma forma muito rápida.  É preciso para isso, humildade de um lado e ousadia do outro. E respeito por todos os lados. E não deveria ser assim em qualquer ocasião?

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O poder isonômico. O movimento humano pilar das mudanças que estamos vivendo.

O que me levou a iniciar este blog, em 11 de junho de 2013 foi a consciência que estava se acentuando de forma dramática o processo de transição que como sociedade estávamos vivendo e que a maioria das pessoas compreendia pouco sobre o que estava acontecendo com sua vida; e, o que mais me comoveu, que esse não saber, gerava dor. 

Foi assim quando captamos no Projeto Mulheres em 2010 que as mulheres todas poderosas e donas de si, estavam tristes ao constatarem que chegaram onde almejavam e, mesmo assim, continuavam infelizes; quando ouvimos os homens, no Projeto Homens em 2011, e captamos que eles estavam acuados por essa mulher poderosa mas conscientes que não queriam voltar a ser os patriarcas na sociedade, embora não soubessem bem ao certo o que desejavam da vida. Além da certeza de que a mulher e o homem contemporâneo brasileiro estavam sofrendo, mesmo com o auge econômico e o Brasil bombando na mídia, ficamos convencidos que uma mudança estrutural profunda estava acontecendo. 

Mesmo com aqueles que levantam a bandeira da retomada de modelos antigos como solução aos problemas sociais; estava claro para nós que o movimento de sair da fôrma, do molde que formatou por séculos o que era ser mulher e o que era ser homem, era um caminho sem volta. A este movimento humano chamamos de desestruturação

Ao longo desse ano e dois meses falamos basicamente sobre a desestruturação. O que é, como opera, como afeta nossas vidas no cotidiano. Falamos sobre nossas resistências às mudanças. Geramos reflexão sobre o que cria nossas "verdades", nossas crenças, como elas são criadas e como lidar com elas para poder se abrir ao novo. 

Falamos quais são os caminhos que o feminino e o masculino contemporâneo estão seguindo para se recriar. Trouxemos atitudes do dia a dia que afetam as relações mulheres e homens, tentando mostra a um e ao outro, como o sexo oposto pensa na tentativa de contribuir com a relação a dois. Isso tudo porque identificamos outro movimento humano, relacionamento romântico e companheiro. Caminho que as mulheres e homens estavam escolhendo para atravessar a crise.

Neste começo do segundo ano do blog, decidi falar sobre algo que no fundo é um dos pilares da grande transição que estamos vivendo: a mudança de conceito do que é o poder. Destrinchado no Projeto Uno, realizado pela behavior em 2013, este movimento humano, ao qual denominamos de poder isonômico, foca em como o poder conforme o conhecíamos, focado na estratificação e hierarquias está caindo por terra.

Vamos saber um pouco mais sobre isto? 

Boa semana para todos.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A gratidão por poder viver este estranho momento

Escrever sobre o tema desta semana sem pensar no meu próprio momento é quase impossível. Na verdade eu preferia simplesmente contar uma história e me ausentar, mas nada me parece mais genuíno do que o meu próprio despertar. Então vamos lá.
Sabe aquela sensação de quando você toma relaxante muscular e depois que o efeito do remédio vai se desfazendo no seu corpo parece que seus músculos estão se esvaindo também? Pois é assim que me sinto. Eu tive um inverno bem rigoroso este ano. Muito tempo me foi dado para a reflexão e o descanso. Tive tempo para deixar ir tudo aquilo que já não me faz feliz. Sonhei e dormi infinitamente. Mas agora ainda não consigo despertar com todo vigor. Estou sonada, embora com muita vontade de agir. Isso me incomoda. Muito. No mundo físico sou daquelas que já acorda pela manhã a mil por hora e pronta. 

Mas o despertar da minha alma resolveu me ensinar uma nova lição: o acordar com calma, com preguiça, ainda sem vontade. Por mais que a mente queira acelerar, coitada, esta batalha ela perdeu. É impossível. Mas e daí? O que estou aprendendo com isso? 

Primeiro estou aprendendo a ter paciência. Preciso fluir com calma, no ritmo que o corpo me impôs. Tenho vontade de chorar. Sinto até raiva, mas de nada adianta. 

O segundo aprendizado é o da consciência em si. Depois de tanta reflexão, de deixar ir tanta coisa, eu simplesmente quero voltar ao que era? Não! Claro que não. Então é hora de fazer diferente. De amadurecer com calma. De ir sentindo a realidade, apreciando a neve que ainda congela boa parte da minha alma. 


Assim tenho vivido. Mais do que nunca. Com vigor. Com sentimento. E com gratidão, pois por mais difícil que esteja o aprendizado de tantas novidades, tudo tem sido rico e verdadeiro como tem que ser. Mas que é estranho é. Muito estranho.



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Contemplar é sentir o sabor

Fui almoçar com um amigo que é chef de cozinha e dono de restaurante. A vida dele é uma agitação sempre no mesmo horário, durante o almoço. Sempre fico abismada ao vê-lo trabalhando. Passado o estresse daquele momento, ele se senta calmamente, pede uma taça de vinho e almoça com toda tranquilidade, saboreando mais um dia.

Hoje não foi diferente. Assim que se sentou me contou animado que havia, finalmente, tomando uma decisão: vai abrir outro restaurante. Já tinha o local, o sócio, tudo, enfim. Eu mais do que depressa, comemorei: "Que maravilha! Quando será a inauguração?”. Ele, como bom italiano me respondeu: "Mas está com pressa por que, Bela?" .

Eu disse: "Ué…você disse que ia abrir outro restaurante e já está tudo certo, achei que já era fato". E ele, como calma, me disse:" Fato é. Mas agora vou começar a sentir como é isso para mim”. 

Me lembrei então do nosso tema da semana e conversamos a respeito. Eu tenho em minha essência fazer tudo muito rápido. Não pondero muito as coisas e fico meio sem paciência quando, decidido algo e já não começo a agir na mesma hora. Muitas vezes na madrugada! 

Na maioria das vezes funciona para mim ser assim. Porém tenho aprendido, muito em função do meu trabalho com a Nany, a refletir melhor sobre as coisas. Sentir o meu querer. Assim como o meu amigo está fazendo. Sem atropelar o momento.  É um exercício, pois minha natureza diz que tem que agir e não contemplar. 

A questão em ser assim é que passei a maior parte da vida fazendo, fazendo, fazendo. Sem a parte do saborear. Pode ver….que é assim não saboreia nada. Até para almoçar tudo é rápido, corrido. Mas é legal, ir aos poucos aprendendo a ser diferente. 


Perguntei, por fim, quando meu amigo pretendia então estar com o novo restaurante pronto e ele, sabiamente, me respondeu sorrindo: “Quem sabe quando a primavera chegar possamos fazer a festa das flores lá". E eu respondi brincando: "Pelo andar da carruagem estou achando que isso acontece lá pelos meados do verão". E ele, sem pestanejar validou: "Aí tomamos um vinho branco gelado e celebramos a hora certa". 

E que assim seja! 


terça-feira, 5 de agosto de 2014

A roda do ano. Os ciclos da vida. Como você anda no ano do Cavalo?

Todos nós estamos num processo de mudança. O ano da serpente nos pegou por mais que quissessemos fugir. Muitas vezes essas mudanças nos atingem em cheio tal como uma onda forte que nos derruba no mar. Não dá para pensar, não dá nem para respirar. Mas uma hora todo fica calmo e é hora de se levantar e começar a andar. É o ano cavalo dando o tom nos provocando a iniciar nossa marcha firme, de peito aberto como falamos nos post de início do ano chinês 2014.

Acredito que o primeiro semestre passamos assimilando e digerindo as mudanças, e agora sentimos que é a hora de agir. A minha sugestão é que antes de sair planejando por ai, ativando o mental comumente acelerado, se dê o tempo para despertar. Para tomar consciência do que você deseja, realmente. Ouvir seu coração antes de decidir. Antes de seguir por inércia o que você escolheu como destino.

Há mais de 15 anos trabalho o conceito de roda do ano na minha vida. É simples, como quase tudo que vale a pena nesta vida: a idéia é se alinhar com o tempo da terra e do universo. Se estamos no inverno, dormimos mais, comemos comida mais quente e aquecemos o corpo e a alma com alimentos físicos, espirituais, emocional e psiquicos que nos ajudem a hibernar.

No final do inverno antes da chegada da primavera – o tempo que estamos agora – é hora de despertar do sono longo e frio do inverno. É um período de começar a abrir as janelas, sacudir os cobertores, arejar a casa, rever os amigos e conhecidos. Os movimentos são lentos, doces e agradáveis. Quem faz algum tipo de treinamento físico sabe que primeiro devemos aquecer o corpo antes de forçar alguma atividade. Igualmente acontece com nosso “tempo”. Precisamos começar a acordar, sem a pressa do próximo movimento que o mental nos impõe, sem dar poder à paranóia de “perda de tempo” que o mundo moderno coloca em nós.

Aprendi que quanto mais nos associamos com o tempo da terra e do universo agimos de forma mais precisa, no tempo certo, sem desperdício de energia. Como o Yoga e o Pilates ensinam bem. O tempo agora é de trazer para o consciente o que o sono invernal trouxe para você. O inverno é tempo de reflexão consciente e inconsciente. A saída de inverno é o tempo de relembrar essas reflexões e começar trazê-las a luz do nosso consciente para poder, ai sim, organizar, planejar e semear no tempo certo.

É sobre este despertar que iremos falar esta semana.

Boa semana a todos.