Tenho relatado aqui, muitas vezes, as
experiências que venho experimentando desde que decidi viver mais íntegra
e una entre a minha vida pública e privada. Um dos preços que se paga ao fazer
esta transformação são as pessoas com as quais você conviveu por muitos anos e
que, de repente, perde-se a afinidade. Posso dizer que desses 20 anos como
publicitária fiz uma grande rede de contatos, mas amigos, que sobreviveram a
transição, foram poucos. O que eu estou descobrindo agora é que mesmo os amigos,
aqueles que realmente eu guardo no coração e vou continuar procurando e me
importando com eles, começam a ter um outro nível de relação e interação comigo.
Ontem, numa tarde deliciosa com alguns desses amigos, batendo um papo bem
filosófico, entendi como a vibração e o impacto entre nós mudou. Com o pôr do
sol também foi-se um dos últimos véus que ainda me cobriam. Num determinado
momento eu me tornei invisível. Participava da conversa, dava a minha opinião, talvez
até mais do que fazia no passado, mas era como se eu não existe mais em parte do
mundo deles. Quando eles se referiam aos dilemas da vida corporativa e dos próximos passos em
suas carreiras, eles falavam entre si. Quanto a mim? Sinto que me tornava parte
da jabuticabeira que nos cobria.
Não vou negar que
fui para casa levemente incomodada com o fato de ter sido expelida do mundo
público deles. Magoada até. Mas entendi, rapidamente, que fui eu que optei por me tornar um estranho no ninho. É claro que eles também não querem mais estar tão ligados as aparências, a uma imagem de
poder antigo e sem sentido, do ser forte o tempo todo para ser o mais competente, do ter mais do que ser. Mas
o discurso se distanciou muito da vivencia entre nós. De certa forma eu deixei
de ser visível mesmo no que eles chamam de público e ainda não importa para
eles o que eu agora chamo de público.
Mas como eu disse, estou falando dos poucos
amigos que fiz durante uma vida toda e quero continuar compartilhando bons
momentos com eles. Só precisamos ajustar nossos olhares. No fim das contas, no
privado, nos afinamos. No público, talvez a gente não se encontre nunca mais,
pois eu estou cada vez menos disposta a voltar para o lugar onde nos conhecemos
e desenvolvemos uma linda amizade. Mas aí depende de cada um. A vida nos dirá
como será daqui para frente.
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