sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Diálogo e "combinados" - a medida da relação

Quando eu me separei, há quase 15 anos, não tinha maturidade suficiente para entender que devia explicações para algumas pessoas que, de certa forma, estavam envolvidas neste relacionamento. Especialmente meus pais e meus sogros. Soube, algum tempo depois, que minha sogra ligou para a minha mãe perguntando o que havia acontecido. Ela respondeu dizendo que eu era uma mulher difícil e impetuosa, que sempre fazia as coisas do meu jeito sem dar muitas explicações e, ainda por cima, eu não era exatamente uma dona de casa, pois trabalhava muito. Quando ela me contou isso fiquei muito magoada. Hoje eu entendo o que ela disse e até concordo. Em partes. 

A verdade é que eu não era mesmo dona de casa, pois eu tinha uma profissão e trabalhava – o que era uma realização para mim, mas também uma necessidade já que ajudava a pagar as contas da casa. Também era mandona e, realmente, nunca parei para avaliar que em uma vida a dois é preciso fazer “combinados”, ou seja, fazia mesmo o que queria sem perguntar ao meu marido o que ele achava. Com a maturidade que os anos me trouxeram, percebo que eu nem tentei salvar meu casamento. Simplesmente deixei o que não estava funcionando para trás e fui em busca da minha felicidade. 

Mas esta é apenas parte da história. A outra parte teria que ser contada pelo meu ex-marido e, sinceramente, eu não conheço a versão dele, embora tenhamos um ótimo relacionamento hoje em dia. Por isso não posso – e não devo – falar por ele, mas ainda hoje me pergunto se havia algo que poderia salvar o nosso casamento.  Ele era um homem honesto, íntegro, trabalhador. Um bom pai também. Mas eu realmente tinha dentro de mim um ânsia de querer muito mais do que brincar de casinha. Eu queria ganhar o mundo, ser surpreendida, viver algo quente, arrebatador. Mas a nossa relação era morna e não havia diálogo. Não posso dizer que ele se sentia um pouco como uma “majestade”, conforme nossa reflexão no início da semana, mas acredito que se eu fosse uma mulher com menos desejos e mais conformada com a vida, ele teria ficado muito bem ao meu lado, recebendo os agrados de esposa carinhosa, que reconhecia o esforço que ele fazia. O problema é que eu não via esforço. E nós tínhamos apenas vinte e poucos anos! 

Refletindo sobre isso, tantos anos depois, acredito que fomos vítimas de um momento em que homens e mulheres estavam perdidos sem saber ao certo o papel de cada um. Mas por algum motivo, eu me recusei a ficar naquele jogo de faz de conta. A vida levou cada um de nós para onde deveríamos ir. Mas teria sido bem legal se eu já soubesse todas as coisas que sei hoje. Talvez eu não tivesse sido a moça impetuosa que minha mãe descreveu para minha sogra como motivo da separação. Tudo está certo no melhor dos mundos afinal. E quem sou eu para dizer que não.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sua majestade, o relacionamento equilibrado!


Street art fotografada na fachada
de um restaurante em Moema. Sem a assinatura do artista
Toda vez que a Nany traz  fatos que colocam em perspectiva o homem atual e seus dilemas sinto um certo desconforto. Especialmente nas seguintes palavras: 

Só que esse novo rei não quer reinar sozinho pelo ônus que isso significa. E ai, ele quer o posto de majestade, tendo seus desejos atendidos, mas sem a responsabilidade de ser o provedor e o sábio. Fácil, não é? O caminho encontrado por aqueles que não lutam pela retomada do poder, no poder para, é virar quase um filho da mulher. E a mulher meio maternal, e meio porque lá no fundo acredita que mulher é superior ao homem, vira uma grande companheira-mãe que trata de proteger, dirigir e perdoar o seu homem.

Sabendo que se trata da verdade estudada por ela nos projetos da Behavior, e portanto, absolutamente crível, fico sempre me questionando de onde vem este meu incomodo. Não sou exatamente uma mulher maternal e por isso descarto o fato de achar que o homem tem que vestir o seu manto de rei e, nós, as protetoras, temos que passar a mão na sua cabeça. 

Tenho comigo que o que mexe comigo tem a ver com o meu filho. Sempre me questiono sobre o que é necessário fazer para criar um homem para uma nova era. Como trazer o seu lado positivo deste momento, deixando de lado os padrões que delimitaram os últimos séculos? Não é nada fácil. Especialmente no que diz respeito aos relacionamentos amorosos. Óbvio que sempre tentei ensinar meu filho a ser respeitoso, integro e absolutamente sincero com as meninas. Também tento passar meus próprios valores mostrando a ele que, numa relação, todos temos que compartilhar o lado bom e ruim, o ônus e o bônus e que, definitivamente, não há o melhor, o maior, o mais importante.

Ainda é cedo para ver se ele vai construir relações maduras e de companheirismo tão necessária neste novo momento, mas sou otimista e acredito que exista luz no fim do túnel. Vejo isso nas relações que meus sobrinhos mais velhos estão construindo com suas companheiras. Percebo entre eles algo mais equilibrado do que na minha geração ou em gerações anteriores, onde a menina tinha ou um papel de subserviente ou de superiores a todos os machos. Nem sinto a majestade tão destacada neles, embora, obviamente ainda aparecem naquele jeito mais despojado que a maioria dos homens possuem. E claro que ainda existem diferenças (ainda bem!), mas elas não estão relacionadas a quem manda ou a quem tem mais poder sobre o outro.  

Existe um outro lado desta questão que me parece também fundamental: a forma como as jovens mulheres vão lidar com este novo homem. A evolução vai ser feita pela caminhada lado a lado e o equilíbrio da relação passa pela aceitação mútua – não vejo ainda uma outra forma. Neste ponto meu coração fica bem apertado, pois sinto o quanto é fundamental o papel dos pais atuais nisso tudo. Não existe milagre e nossos jovens só poderão romper com os antigos padrões se nós, os pais, trabalharmos os alicerces necessários para isso.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Para positivar o homem na sociedade devemos acabar com o conceito de homem-majestade. Será que estamos prontos?

Vamos falar esta semana dos homens. Dizem que mulher adora falar de homem, eu creio que mulher adora falar de tudo, mas sem dúvida homem é um tema interessante  e instigador, sobretudo para aquelas que estão na busca do relacionamento-romântico-feliz, tema que abordamos a semana passada.

Tenho, nos meus estudos, buscado algo que positive plenamente o homem nestes tempos contemporâneos. Algo que faça ele ter real orgulho da sua identidade masculina e que não seja o poder antigo - poder sobre, tema de nossas últimas semanas. Mas ainda não encontrei, embora tenhamos alguns caminhos interessantes se configurando. A importância de positivar o homem tem a ver com a necessidade de equilibrara as forças masculinas e femininas, que acredito seja necessária para facilitar a formação do relacionamento romântico feliz.

frase na parede da Casa do Saber em São Paulo
Porque é tão difícil positivar a nova identidade masculina? porque ela, ao ter sido o lado público do velho modelo mental e social, esta ligada diretamente ao poder antigo e a forma como vemos o que é bom e o que é ruim nesse cenário. Mulheres e homens estão em processo de transição para o novo modelo social, e embora desejemos o novo - e o novo poder, poder para - ainda estamos presos às estruturas de valores e crenças que nos atam ao velho mundo. Assim, na hora do julgamento, da incerteza pegamos o baú de valores e crenças, o abrimos e nos vestimos dele para operar.

Especificamente sobre os homens, por milênios ocuparam lugar de destaque na sociedade. Isso fez com que acreditasse que possuem um quê de majestade. De direitos diferenciados. Alguns até acreditam mesmo que deveriam ser tratados como reis. E a busca pelo novo papel, novo espaço para os homens passa, infelizmente, de alguma maneira por retomar esse privilégio.

Só que esse novo rei não quer reinar sozinho pelo ônus que isso significa. E ai, ele quer o posto de majestade, tendo seus desejos atendidos, mas sem a responsabilidade de ser o provedor e o sábio. Fácil, não é? O caminho encontrado por aqueles que não lutam pela retomada do poder, no poder para, é virar quase um filho da mulher. E a mulher meio maternal, e meio porque lá no fundo acredita que mulher é superior ao homem, vira uma grande companheira-mãe que trata de proteger, dirigir e perdoar o seu homem.

Fez sentido para você? Vamos falar mais disso esta semana?

Boa semana para todos e que este início de primavera traga bons e prósperos frutos para todos!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Essencial é se aceitar. Mesmo sem cabelos!

Outro dia estava contando a história de uma fatalidade que aconteceu em nossa família para o meu filho. Conforme ele me perguntava coisas e eu respondia (ou tentava) percebi o quanto esta história envolvia as questões de isonomia e poder que temos falado por aqui. 

Trata-se de uma história de amor, não necessariamente com final feliz, mas com o final que foi possível para os envolvidos. Era um casal jovem, bonito, com um grande futuro pela frente. Ele, muito inteligente, era um jovem PHD que já havia morado em diversos lugares do mundo e que adorava estudar. Ela era linda. Tinha os cabelos compridos até a cintura, bem lisos. Era artista.  Era bastante vaidosa também. O marido era mais tranquilo quanto a isso, mas orgulhoso pela mulher que tinha. A vida dos dois era boa. Ainda não tinham filhos, então aproveitavam o melhor que o conforto material poderia proporcionar. 

As coisas mudaram no dia que um aneurisma fez a moça chegar ao hospital quase sem vida. A primeira providência foi raspar os longos cabelos dela, afinal, era preciso abrir a cabeça para que os médicos pudessem salva-la. Ela se recuperou fisicamente, mas teve sequelas que foram difíceis aceitar. Apesar das dificuldades motoras tenho cá para mim que o pior impacto para ela foram os cabelos. Ela odiava aquele novo visual e isso a deixava muito raivosa. O marido foi muito bacana. Como engenheiro mecânico rodou o mundo em busca de soluções que trouxessem conforto a ela e ao seu dia a dia. Para ele, passado o susto, a vida seguia seu rumo e tinha orgulho muito mais orgulho da mulher agora. Fez o que pode para seguir em frente e estava disposto a qualquer mudança para que tudo ficasse bem. Aquilo para ele era só mais um aprendizado. 

Para ela as coisas não eram assim. Ela se sentia inferior, obrigada a depender dele e quanto mais ele tentava faze-la independente mais ela achava que ele a insultava. Se separaram depois de todas as tentativas dele em continuarem juntos. Ela voltou para a casa dos pais onde se sentir subjugada pela sua condição, doía menos. Ele sofreu tudo que tinha para sofrer e seguiu em frente.


Aí você vai me perguntar: o que isso tem a ver com o tema da semana? Vejo nesta história um exemplo de como as coisas podem não funcionar se não aceitarmos os nossos próprios desafios e o dos outros. A revolta da moça pela sua condição e o fato de perder todos os seus símbolos de vaidade e de poder a fizeram refém da situação. Nem o amor do marido que tanto fez pela aceitação foi suficiente. Esta história aconteceu  há quase 20 anos, mas ainda me emociono ao perceber como é difícil para nós, humanos, deixarmos nossa soberba de lado e viver o essencial. E para um relacionamento saudável este exercício é fundamental.  Até rimou. Como se fosse poesia.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Relacionamento amoroso feliz é uma conquista sem competição.

Nas últimas semanas temos falado sobre poder, e qual é o novo poder que está se configurando nas nossas vidas. Nesta semana vou trazer esse tema nos relacionamentos amorosos felizes. No final de semana passada comemorei mais um ano do meu relacionamento amoroso, celebramos onze anos de felicidade, sem nenhum exagero nessa expressão. É comum que pessoas que convivam conosco perguntem qual é o segredo para vivermos esse amor feliz. Sinceramente, não sei se existe um segredo ou uma receita para dar porque cada pessoa é uma história, com suas expectativas, medos e sonhos. Num casal isso é literalmente multiplicado por dois e essa aritmética precisa dar um resultado harmonioso. Não é fácil. Nada fácil. Mas é possível.

Durante o final de semana refleti sobre tantos casos de relacionamentos que tenho ouvido ao longo de meus anos de pesquisadora. Pensei sobre meu relacionamento e o que ajuda a obter essa tão desejada felicidade. O que fica claro - claríssimo vamos dizer - é que viver uma relação amorosa feliz é uma conquista obtida dia-a-dia. Consciente, esforçada e focada. Mas diferentemente do que associamos ao conceito de conquista, nesta, não há competição porque não há - ou não deveria haver - perdedor. E nisto penso que a relação-amorosa-feliz, se aproxima do novo poder, o poder isonômico que vimos falando. 

No novo poder, como temos visto nas últimas semana, a hierarquia é menos relevante, o exercício de poder se faz sem subjugar. A conquista de uma relação-amorosa-feliz, pela minha experiência pessoal e meus estudos me mostraram até agora, está baseada justamente nisso: na isonomia, ou seja, direitos iguais mesmo entre seres bastante diferentes. Há o respeito às diferenças sem querer igualar o outro.

Descompromissadamente, criei alguns pontos aos quais credito a minha relação-amorosa-feliz: o primeiro é o desejo profundo que a relação dê certo e isso ser maior do que nosso ego. A auto-importância torna-se menor. Para deixar claro devo dizer que o que entendo por auto-importância é colocar nosso eu, nossa pessoa e persona na frente de tudo - nossas vontades, nossa opinião, a nossa "verdade". Sei que isso é contrário ao que temos lido por ai. Nas últimas décadas a crença de "ame-se primeiro" tem tomado conta de todo discurso de auto-ajuda. E ele é verdadeiro, porém, no caso de um relacionamento amoroso, o ceder, o deixar o ego de lado em prol do que é justo e correto para a relação, considero fundamental. E para aplicar e praticar a justiça, sem dúvida, o eu fica menor. Não tento convencer e impor o que eu quero, o que me deixa feliz, mas o que - com o distanciamento devido do meu eu - considero justo para os dois. Assim, ambos cedem nos seus devidos tempos e assuntos. E não há sacrifício nisso. 

E aqui vem o segundo ponto fundamental na minha relação: não há vítimas. Ninguém se sacrifica. Não consideramos o sacrifício um honra, um valor, muito menos amor. Amor a dois não implica em sacrifício. Amor, para nós implica dar e receber, ceder sob a ótica que consideramos justo. Se é justo, não é sacrifício. São trocas. Aliás, há muitos anos uma mestre querida me explicou isso: o amor não necessita de troca mas de doação. O relacionamento sim precisa de troca. Compreendi que podemos amar profundamente e optar em não nos relacionar porque essa relação nos machuca. Compreendi também que se sacrificar por amor pode ser um vício, um forma que a pessoa tem para operar no mundo. E essa opção costuma ser bastante manipuladora. É uma forma de poder sobre, como falamos a semana passada, que implica em subjugar alguém. 

O terceiro ponto, ligado, claro, aos anteriores, é que só estamos juntos porque essa relação nos faz feliz. É um círculo vicioso, estamos juntos pela felicidade que temos de estar juntos. Não há nada mais que nos ate fora o amor e a felicidade. Somos independentes, em todos os sentidos, menos na felicidade. Engraçado, não é? Tenho certeza que seria menos feliz sem meu marido. O foco, portanto, é a felicidade, não meu marido nem nossa relação. Mas para obter a minha felicidade preciso da relação amorosa com meu marido para tê-la. Então, como não cuidar desse bem tão precioso? Uso toda minha autonomia e disciplina para obter o que desejo, ou seja, pratico o poder para, que falamos a semana passada.

O quarto ponto que trarei aqui - de uma lista que fiz - tem a ver com o cuidado e o autoconhecimento. Para cuidar adequadamente precisamos nos conhecer e conhecer ao outro. Temos repetido aqui incessantemente a necessidade de autoconhecimento para evolução. Entendendo aqui que a evolução significa para mim, ter maior capacidade de optar consciente o que traz tranquilidade, paz e felicidade. Aumenta nossa capacidade de amar.

Existem milhares de formas de autoconhecimento e, para mim, as mais eficientes, dependem da ajuda de terceiros. Penso que se autoconhecer sem a ajuda de um especialista, independente da linha de atuação, é não querer ir fundo no conhecimento sobre si mesmo. Respeito a opção, até porque compreendi que deva haver muita dor por baixo dessa resistência, mas também aprendi que essa dor é como uma pus que fica latejando e infeccionando tudo ao redor. Uma hora vai ter que abrir e limpar, porque como disse Jung "o inconsciente quando não trazido a luz, vira destino".

Boa semana a todos.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Valores mudam. O poder também.

Há uns 15 anos eu estranhei quando uma cliente, gerente de marketing de uma grande empresa de telecom, pediu demissão e para ser professora de ioga. Pensei na coragem que se precisa ter para abrir mão do dinheiro e do status que o cargo dela representava. 

Hoje eu não me impressiono mais. Frequentemente recebo notícias de amigos ou conhecidos que largou um emprego fixo para se dedicar a algo alternativo,  abrir um negócio próprio ou mesmo cuidar dos filhos. Isso sem contar com aqueles que resolveram viajar o mundo, trabalhando remotamente, afinal, isso já é mais do que possível. É lógico que ainda é um comportamento minoritário, provocado por uma parcela específica da nossa sociedade, muito concentrado nos grandes centros e nas classes mais abastadas. 

Mas esta semana tive uma conversa muito interessante com a moça que trabalha na minha casa e que me mostra que este movimento vai demorar menos do que se imagina para acontecer.  Ela reclamava que está cansada de ficar no trânsito todos os dias e que tudo aquilo estava sufocando a vida dela. Me disse que se tivesse a oportunidade de ir embora para um lugar mais calmo,  iria. Como sei que seus pais vieram do campo questionei se ela estava querendo voltar as origens e trilhar o caminho deles. Ela me respondeu, seguramente, que não se tratava disso. Ela quer que a filha estude em uma boa escola, quer ter uma vida urbana, mas hoje já não importa mais para ela entulhar a casa com todo o tipo eletroeletrônicos e eletrodomésticos como fazia antigamente. Também não interessa mais comprar roupas para se diferencias das vizinhas e amigas nos bailes do fim de semana.  Quer uma vida mais simples, com qualidade de vida. Palavras dela. Disse a ela: "então vá atrás disso!”.  Ela riu deixando claro que ainda é um desejo, mas creio que mais dias ou menos dia isso irá acontecer. 

Me lembrei então do nosso debate desta semana no blog. O que é esse desejo dela se não o de ser feliz? E não se importar mais com a vizinhança é um sinal claro de como os valores vão mudando. Os ícones que a apoderavam a partir dos bens materiais já deixou de ser importante para ela e, no futuro, assim será para boa parte das pessoas.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Poder como verbo auxiliar

Entre as respostas que recebemos sobre o que é poder uma eu não havia entendido. Foi dada por uma leitora frequente do blog que disse: "poder é verbo, por isso ninguém o tem".  Estava tão focada na palavra como substantivo masculino que nem percebi que a mesma palavra define, também, um verbo. Só me dei conta disso no sábado quando lia uma entrevista da Monja Coen em uma revista e numa das suas respostas ela usa o poder como verbo.

Ontem ao ler pela primeira vez a proposta de reflexão da Nany para esta semana entendi a associação das coisas. Poder é escolher. Eu posso fazer, eu posso ajudar, eu posso ir ou eu não posso fazer, ajudar, ir. Eu escolho o caminho que vou fazer na vida. Eu escolho por onde eu vou. Eu escolho ser feliz. E a escolha pressupõe a opção. Você deixa algo ao escolher outra coisa. 

Recentemente passei por isso. Tinha duas opções e precisava me decidir por uma delas rapidamente, porem o assunto envolvia muita coisa para ser definido sem uma boa dose de entendimento. Primeiro usei o método racional, aquele me ensinaram a vida toda. Colocando pós e contras de cada um dos caminhos na balança, a minha cabeça, responsável pelo lado racional me disse: “você tem um empate técnico aqui, pergunte ao seu coração”. Perguntar ao coração não é tarefa fácil. Às vezes acho que sou surda porque não consigo escuta-lo com precisão. Então uma pessoa me disse: confia! Na condição de dúvida existencial em que me encontrava só me restou seguir este conselho. Confei, a situação se resolveu e eu fui em em frente. 


Então comecei a achar que tinha errado na escolha. Parecia que o caminho não era exatamente o que eu queria. Tempos atrás teria sido tomada pelo desespero, pela dor, pelo sofrimento. Mas hoje me sinto feliz. Pareço louca, mas eu explico: percebi que a situação era o próximo passo do meu ser consciente e desperto me dizendo que agora era hora de colocar em prática tudo aquilo para o qual venho me preparando por tanto tempo. Isso significa, em primeiro lugar, não me odiar pela escolha que fiz. Segundo era me acalmar e sentir o que me trouxe aqui. Por fim tenho que confiar que eu posso mudar o caminho a qualquer momento. Nada e nem ninguém pode me prender as escolhas que eu mesma fiz. Isso sim é poder. E um novo tipo de felicidade se abriu para mim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

o novo poder: ser e viver a potencialidade individual de ser feliz

As respostas à pergunta o que é poder para você? nos confirmou duas linhas de raciocínio que estamos estudando desde que as captamos no Projeto Uno: o poder para e o poder sobre. O poder sobre é o poder como meio de diferenciação; como explicamos nas duas semanas anteriores, este poder se manifesta através da competição, comparação e até, subjugação. Valoriza a hierarquia e tudo aquilo que classifica. Neste tipo de poder o outro é relevante. 

O poder para é entendido como potencial individual. E é nosso tema desta semana porque além de ser um conceito novo, e portanto ainda encontrasse difuso, o que nos exige explicação e repetição; o outro poder, o poder sobre representa de certa maneira a antiga forma de poder, exaustivamente discutida nas últimas décadas, e, acreditamos bastante compreendido. Nosso interesse neste blog é trazer conhecimento e gerar reflexão sobre movimentos humanos recentes ou que ainda não estejam tão nítidos. 

Boa parte das respostas à pergunta que abre este post associa poder com liberdade e autonomia. Liberdade e autonomia para o quê? Para ser feliz, oras! Sim, estamos, como nunca, na busca consciente da tal felicidade. Da geração que está hoje em torno dos cinquenta anos até pré-adolescentes, a grande maioria, quer a felicidade como um direito adquirido. É a grande meta, o grande objetivo.

Os que estamos mais perto dos cinquenta, ainda temos recaídas sobre esse tópico. Fomos criados por uma geração para a qual a maturidade era sinônimo de responsabilidade, e ambos antítese da felicidade. Muito de nós fomos nos libertando dessa crença limitante com muito esforço mas a raiz dela está lá, na espreita, esperando a oportunidade em que baixarmos a guarda. Já os mais jovens, incentivados por nós, buscam a felicidade sem nenhum remorso ou sentimento de culpa. Existe algum outro motivo para viver, do que ser feliz? nos perguntam olhando nos olhos. 

Por isso posso dizer que para quem o poder é para e não sobre, poder pode ser associado tranquilamente à felicidade. Por que fizemos essa associação? Porque sendo a felicidade uma meta - utópica ou não - o grande sonho dourado da sociedade atual está associada a imagens que exigem liberdade e autonomia: ver o pôr do sol, caminhar na praia, viajar, ter mais tempo para..., ser independente, trabalhar no que se gosta, e por ai vai.

O conceito de poder esta mudando, isso nós não temos dúvida. O velho poder - o poder sobre - está cada vez mais abrindo espaço para o poder isonômico, como o definimos na behavior, que na pratica possibilita ser e viver a potencialidade individual de seus sonhos. Para os inovadores que já estão caminhando essa trilha nova, isso significa, poder ser feliz, sem se importar muito com o que o outro pense. 

Vamos refletir e discutir mais sobre isto nesta semana?

Boa semana a todos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Capacidade e transformação


Conforme a semana foi passando algumas respostas a nossa pergunta sobre o que é poder e quem o tem hoje em dia começaram a chegar. Principalmente através do perfil da Nany no Facebook. 

Adorei as respostas! Pois, para mim, ainda muito ligada ao mundo corporativo, muitas vezes, associo poder a algo duro, firme, arrogante, mandatório. O velho poder, eu acho. Mas o que ouvimos foi algo que considero bem mais positivo. Algumas palavras e conceitos apareceram muitas vezes e me chamaram a atenção. Entre eles, as palavras capacidade e transformar. Gosto de ir atrás do significado das palavras quando elas começam a se repetir. É sempre interessante ver a definição do dicionário e expandir o que você acha que entende a respeito daquilo que está sendo falado. 

A palavra capacidade, por exemplo, tem diversos significados, mas como substantivo ligado a uma pessoa, o que aparece mais é aptidão, competência, conhecimento, habilidade, jeito, predisposição. E pasmem….até poder é sinônimo de capacidade! Se trocarmos algumas respostas com a palavra capacidade por predisposição, por exemplo, ficariam assim: predisposição para transformar, predisposição para fazer escolhas assertivas, predisposição para o desapego. Não sei dizer por que, mas a sensação que tenho é que predisposição é uma boa palavra para definir que tem um novo tipo de poder. 

transformar tem um, entre tantos significados, que é lindo: “dar uma nova forma a alguma coisa”. Ter poder é dar uma nova forma a alguma coisa. Adoro este olhar! 

Sobre conceito apareceu que ter poder é ser feliz, não se deixar levar pelos outros, fazer o que se quer, não se levar por modismos para ser aceito, gerar algo positivo. Dois outros pontos interessantes: algumas respostas estavam associados a influência em redes sociais e gestos instantâneos com consequências profundas. 

Continuo assimilando tudo isso, mas algo dentro de mim diz que tudo agora vai mudar mais rápido do que em outros tempos. É bom ter predisposição para seguir e transformar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Poder é algo que se sente ou que se tem?


Confesso que até hoje de manhã eu ainda não tinha uma única história para ilustrar ou responder a pergunta que a Nany lançou aqui no blog esta semana. Nós não temos a maior audiência do mundo, mas sempre tem um ou outro que interage com o tema. Desta vez nada aconteceu. A pergunta o que é poder para você e quem você conhece que tem poder continuava sem resposta. 

Eu me alimento das histórias que ouço no meu dia a dia e, apesar disso, desta vez, também nada tinha para responder, muito menos para contar. Resolvi ir ao salão de beleza de uma amiga, onde sempre encontro pessoas que lêem o blog e normalmente acontece um bate-papo sobre o assunto que estamos abordando na semana. Quem sabe, com sorte, uma boa conversa de salão ajudaria. De fato não foi preciso dar mais do que um ou dois passos porta adentro que uma cliente me cumprimentou e me falou sobre o assunto poder. Ela me disse que não respondeu porque não entendeu. "Tem poder quem é poderoso”, brincou.

Não precisou de muito tempo já éramos 4 ou 5 mulheres falando sobre o tema. Mulherada reunida é bom porque qualquer assunto vira debate! Umas falavam que nós, mulheres, somos poderosas. Uma moça que entrou na conversa por tabela, mas que nunca leu o blog, disse que o chefe dela tinha muito poder. Até uma menina de 11 anos, que sempre encontro lá fazendo a unha e que é autora de dois blogs (sim, ela é blogueira com esta idade), me disse que os pais dela são poderosos. Perguntei o motivo e ela não soube responder ao certo. Ninguém soube. Falavam sobre liderança, dinheiro, posição, subjulgação até. Mas não sabiam se o motivo para o poder das pessoas citadas eram aqueles.


Entendi que o conceito do poder isonômico é tão novo quanto o poder que subjulga é velho. A sensação que tive é que ninguém sabe mais o significado e o verdadeiro valor da palavra poder. Pelo que tenho conversado com a Nany isso parece ser bom, mas pode ficar melhor.

Quando fiquei sozinha no lavatório me dei conta que ainda não tinha uma história para contar. Já com um certo desespero cheguei até a cogitar em escrever que tem poder quem tem tempo, pois eu estava totalmente atrasada para publicação de hoje e nada ainda me ocorria. 

Mas aí algo caiu em minhas mãos: a recepcionista trouxe para eu ler, em primeira mão, a revista Claudia de setembro que haviam acabado de entregar. Resolvi dar uma folheada meio sem interesse e acabei caindo nas três primerias colunistas da revista. O engraçado é que todas tratavam do mesmo assunto, em suas visões bem diferentes. Quem me deu a luz mesmo foi a Danuza Leão. A coluna dela falava sobre uma brincadeira entre ela e os amigos que serve para passar o tempo nos encontros de domingo: cada um deles tinha que falar dos melhores momentos que haviam passado na vida. Dito isso e aquilo, lá pelas tantas ela descreve sobre uma viagem que fez a Londres e que poderia ter sido horrível, pois ela havia esquecido o celular em Paris. Reproduzo abaixo o trecho que me inspirou:

“Relaxei e me dei conta de que ninguém no mundo inteiro sabia onde eu estava. Nem em que país, nem em que cidade, nem em que hotel. Eu estava fora do alcance de tudo e todos, absolutamente incomunicável. Nada poderia me atingir, eu pensei e, em seguida me senti livre, livre como nunca havia me sentido - e olha que não sou nada presa às chamadas convenções. Foi tamanha a felicidade que experimentei - não, a palavra felicidade não é suficiente. Foi como uma comunicação profunda comigo mesma, uma liberdade plena e total de existir, sem depender de nada nem de ninguém, uma sensação de poder completo, no mais alto dos níveis." 


Compreendi então que esta era a história: ainda reagimos tanto aos padrões que temos que estar bem distante deles para, de certa forma, sentir este novo tipo de poder. Aos poucos, eu acredito, todos nós vamos compreendendo e entrando em contato com um novo mundo e assim, vai tudo se modificando. Não importa o tempo que se leve para novamente entendermos o que é poder e quem tem poder. O que importa é estar atento para as novas possibilidades que isso nos traz. 


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Responde agora: o que é poder para você? e quem que você conhece tem poder?

Tenho acompanhado a discussões sobre política desde que Eduardo Campos morreu. Antes da morte dele sentia que as pessoas - eu inclusive - estavam impregnadas de uma certa apatia, um sentimento de descrédito em relação ao futuro do Brasil. Ai surge Marina Silva e muda tudo. Independente de se as pessoas gostam ou não dela, se votam ou não nela, a sua entrada na corrida presidencial mudou o ânimo das pessoas em relação à política. Muitos voltaram a ler, ouvir e discutir sobre política. Considero isso maravilhoso. Aprendi há muitos anos que a política rege as nossas vidas independente de gostarmos dela ou não, e dizer que não se interessa por política, para mim, é tão sem sentido como dizer que não se importa pela qualidade do ar em que vive. Tudo bem, pode nem pensar no ar mas cada segundo ele está presente no seu corpo assim como a política na sua vida. Por tudo isso, o Brasil sair da apatia e voltar a discutir com interesse, política, considero um belo andar para frente.

Abri o tema do blog desta semana com a política e a mudança que uma pessoa pode ocasionar no cenário político e emocional das pessoas para exemplificar o movimento humano que lançamos há duas semanas: o Poder Isonômico. É um movimento que captamos nos estudos da behavior mas que ainda está bastante difuso de reside ai a dificuldade em ser compreendido e percebido na sua plenitude; embora, consideremos que se encontra por trás de todos os outros movimentos e tendências que temos falado até agora. Cada vez mais estou convencida que a mudança do que significa poder na nossa vida cotidiana esta gerando toda a transformação social que estamos vivendo.  

A Isa e eu temos discutido bastante sobre a dificuldade de tratar desse tema justamente pelo difuso que ainda se encontra. Sabemos que para entender o que significa esse movimento primeiro deve-se compreender qual é o sentido de poder que se tem hoje e perceber como esse sentido pode estar se modificando ano após ano, mesmo sem perceber. Foi pensando nisso que decidi te convidar a nos contar:

1) o que significa poder para você?

2) quem, que você conheça, tem poder hoje?  

Você pode escrever tuas respostas aqui no blog ou na nossa página dos Movimentos Humanos no Facebook 


Conte para nós e compartilhe tua opinião. Queremos te ouvir.

boa semana!