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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Diálogo e "combinados" - a medida da relação

Quando eu me separei, há quase 15 anos, não tinha maturidade suficiente para entender que devia explicações para algumas pessoas que, de certa forma, estavam envolvidas neste relacionamento. Especialmente meus pais e meus sogros. Soube, algum tempo depois, que minha sogra ligou para a minha mãe perguntando o que havia acontecido. Ela respondeu dizendo que eu era uma mulher difícil e impetuosa, que sempre fazia as coisas do meu jeito sem dar muitas explicações e, ainda por cima, eu não era exatamente uma dona de casa, pois trabalhava muito. Quando ela me contou isso fiquei muito magoada. Hoje eu entendo o que ela disse e até concordo. Em partes. 

A verdade é que eu não era mesmo dona de casa, pois eu tinha uma profissão e trabalhava – o que era uma realização para mim, mas também uma necessidade já que ajudava a pagar as contas da casa. Também era mandona e, realmente, nunca parei para avaliar que em uma vida a dois é preciso fazer “combinados”, ou seja, fazia mesmo o que queria sem perguntar ao meu marido o que ele achava. Com a maturidade que os anos me trouxeram, percebo que eu nem tentei salvar meu casamento. Simplesmente deixei o que não estava funcionando para trás e fui em busca da minha felicidade. 

Mas esta é apenas parte da história. A outra parte teria que ser contada pelo meu ex-marido e, sinceramente, eu não conheço a versão dele, embora tenhamos um ótimo relacionamento hoje em dia. Por isso não posso – e não devo – falar por ele, mas ainda hoje me pergunto se havia algo que poderia salvar o nosso casamento.  Ele era um homem honesto, íntegro, trabalhador. Um bom pai também. Mas eu realmente tinha dentro de mim um ânsia de querer muito mais do que brincar de casinha. Eu queria ganhar o mundo, ser surpreendida, viver algo quente, arrebatador. Mas a nossa relação era morna e não havia diálogo. Não posso dizer que ele se sentia um pouco como uma “majestade”, conforme nossa reflexão no início da semana, mas acredito que se eu fosse uma mulher com menos desejos e mais conformada com a vida, ele teria ficado muito bem ao meu lado, recebendo os agrados de esposa carinhosa, que reconhecia o esforço que ele fazia. O problema é que eu não via esforço. E nós tínhamos apenas vinte e poucos anos! 

Refletindo sobre isso, tantos anos depois, acredito que fomos vítimas de um momento em que homens e mulheres estavam perdidos sem saber ao certo o papel de cada um. Mas por algum motivo, eu me recusei a ficar naquele jogo de faz de conta. A vida levou cada um de nós para onde deveríamos ir. Mas teria sido bem legal se eu já soubesse todas as coisas que sei hoje. Talvez eu não tivesse sido a moça impetuosa que minha mãe descreveu para minha sogra como motivo da separação. Tudo está certo no melhor dos mundos afinal. E quem sou eu para dizer que não.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sua majestade, o relacionamento equilibrado!


Street art fotografada na fachada
de um restaurante em Moema. Sem a assinatura do artista
Toda vez que a Nany traz  fatos que colocam em perspectiva o homem atual e seus dilemas sinto um certo desconforto. Especialmente nas seguintes palavras: 

Só que esse novo rei não quer reinar sozinho pelo ônus que isso significa. E ai, ele quer o posto de majestade, tendo seus desejos atendidos, mas sem a responsabilidade de ser o provedor e o sábio. Fácil, não é? O caminho encontrado por aqueles que não lutam pela retomada do poder, no poder para, é virar quase um filho da mulher. E a mulher meio maternal, e meio porque lá no fundo acredita que mulher é superior ao homem, vira uma grande companheira-mãe que trata de proteger, dirigir e perdoar o seu homem.

Sabendo que se trata da verdade estudada por ela nos projetos da Behavior, e portanto, absolutamente crível, fico sempre me questionando de onde vem este meu incomodo. Não sou exatamente uma mulher maternal e por isso descarto o fato de achar que o homem tem que vestir o seu manto de rei e, nós, as protetoras, temos que passar a mão na sua cabeça. 

Tenho comigo que o que mexe comigo tem a ver com o meu filho. Sempre me questiono sobre o que é necessário fazer para criar um homem para uma nova era. Como trazer o seu lado positivo deste momento, deixando de lado os padrões que delimitaram os últimos séculos? Não é nada fácil. Especialmente no que diz respeito aos relacionamentos amorosos. Óbvio que sempre tentei ensinar meu filho a ser respeitoso, integro e absolutamente sincero com as meninas. Também tento passar meus próprios valores mostrando a ele que, numa relação, todos temos que compartilhar o lado bom e ruim, o ônus e o bônus e que, definitivamente, não há o melhor, o maior, o mais importante.

Ainda é cedo para ver se ele vai construir relações maduras e de companheirismo tão necessária neste novo momento, mas sou otimista e acredito que exista luz no fim do túnel. Vejo isso nas relações que meus sobrinhos mais velhos estão construindo com suas companheiras. Percebo entre eles algo mais equilibrado do que na minha geração ou em gerações anteriores, onde a menina tinha ou um papel de subserviente ou de superiores a todos os machos. Nem sinto a majestade tão destacada neles, embora, obviamente ainda aparecem naquele jeito mais despojado que a maioria dos homens possuem. E claro que ainda existem diferenças (ainda bem!), mas elas não estão relacionadas a quem manda ou a quem tem mais poder sobre o outro.  

Existe um outro lado desta questão que me parece também fundamental: a forma como as jovens mulheres vão lidar com este novo homem. A evolução vai ser feita pela caminhada lado a lado e o equilíbrio da relação passa pela aceitação mútua – não vejo ainda uma outra forma. Neste ponto meu coração fica bem apertado, pois sinto o quanto é fundamental o papel dos pais atuais nisso tudo. Não existe milagre e nossos jovens só poderão romper com os antigos padrões se nós, os pais, trabalharmos os alicerces necessários para isso.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Para positivar o homem na sociedade devemos acabar com o conceito de homem-majestade. Será que estamos prontos?

Vamos falar esta semana dos homens. Dizem que mulher adora falar de homem, eu creio que mulher adora falar de tudo, mas sem dúvida homem é um tema interessante  e instigador, sobretudo para aquelas que estão na busca do relacionamento-romântico-feliz, tema que abordamos a semana passada.

Tenho, nos meus estudos, buscado algo que positive plenamente o homem nestes tempos contemporâneos. Algo que faça ele ter real orgulho da sua identidade masculina e que não seja o poder antigo - poder sobre, tema de nossas últimas semanas. Mas ainda não encontrei, embora tenhamos alguns caminhos interessantes se configurando. A importância de positivar o homem tem a ver com a necessidade de equilibrara as forças masculinas e femininas, que acredito seja necessária para facilitar a formação do relacionamento romântico feliz.

frase na parede da Casa do Saber em São Paulo
Porque é tão difícil positivar a nova identidade masculina? porque ela, ao ter sido o lado público do velho modelo mental e social, esta ligada diretamente ao poder antigo e a forma como vemos o que é bom e o que é ruim nesse cenário. Mulheres e homens estão em processo de transição para o novo modelo social, e embora desejemos o novo - e o novo poder, poder para - ainda estamos presos às estruturas de valores e crenças que nos atam ao velho mundo. Assim, na hora do julgamento, da incerteza pegamos o baú de valores e crenças, o abrimos e nos vestimos dele para operar.

Especificamente sobre os homens, por milênios ocuparam lugar de destaque na sociedade. Isso fez com que acreditasse que possuem um quê de majestade. De direitos diferenciados. Alguns até acreditam mesmo que deveriam ser tratados como reis. E a busca pelo novo papel, novo espaço para os homens passa, infelizmente, de alguma maneira por retomar esse privilégio.

Só que esse novo rei não quer reinar sozinho pelo ônus que isso significa. E ai, ele quer o posto de majestade, tendo seus desejos atendidos, mas sem a responsabilidade de ser o provedor e o sábio. Fácil, não é? O caminho encontrado por aqueles que não lutam pela retomada do poder, no poder para, é virar quase um filho da mulher. E a mulher meio maternal, e meio porque lá no fundo acredita que mulher é superior ao homem, vira uma grande companheira-mãe que trata de proteger, dirigir e perdoar o seu homem.

Fez sentido para você? Vamos falar mais disso esta semana?

Boa semana para todos e que este início de primavera traga bons e prósperos frutos para todos!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Igual ao general

Ontem uma amiga sabendo que eu adoro banda (fanfarra) me ligou entusiasmada para irmos num evento no Círculo Militar, onde ela é sócia. A atração principal era a banda filarmônica do exército - por isso a empolgação dela em me convidar. Infelizmente eu não pude ir. Mas hoje cedo ela me ligou para contar como foi. Falou sobre as esposas dos oficiais que estavam todas arrumadas com seus cabelos armados com laquê. Contou das formalidades que só as forças armadas conseguem ainda manter e terminou falando das músicas que a banda tocou.

O que esta história tem a ver com o tema da semana? Acontece que passei o dia pensado nisso. Não existe lugar melhor para ilustrar como as hierarquias de poder acontecem do que no exército, marinha ou aeronáutica. Se você é um oficial e almeja ser um dia um general, um almirante ou um marechal, o melhor caminho é se espelhar nos seus comandantes e agir como tal. É um modelo, não é? Pois comecei a ver que não é tão diferente do que normalmente acontece conosco. A maioria de nós, pelo menos em algum momento das suas vidas, quer ser igual a alguém. Seja para fazer parte de um grupo, seja para pertencer, seja, principalmente, para competir - evidenciando o “sou mais, tenho mais, posso mais”. É aí que a coisa toda se complica. Quanto mais olhamos para o outro e, competimos com ele, menos sobra espaço para olhar para nós mesmos. 

Me lembro que quando eu era bem mais jovem - e portanto bem menos tolerante - eu detestava que me perguntassem onde eu comprei a roupa que eu estava vestindo. É uma bobagem, mas aquilo me remetia a um olhar no outro. Eu não entendia como elogio.  Eu ouvia algo como “eu quero ter um igual ao seu”. 

Mas antes de chegar nesta fase, passei por outra que considero bem pior. Entrei na faculdade com 17 anos. Por uma daquelas coisas do destino, a minha turma quase não tinha pessoas da minha idade. A maioria já eram homens e mulheres estruturados, que trabalhavam e pagavam suas contas - inclusive a mensalidade da Universidade. Eu me sentia um peixe fora d’água. No auge da adolescência, com minhas roupas de surfista que era a moda na época, sentia que nada combinava ali. Não demorou muito para eu mirar na mulher que achava mais elegante, bonita e culta da sala e comecei a tentar imitar seu estilo. No início fiz isso, usando as roupas da minha mãe. Não funcionou muito bem, como vocês podem imaginar. Fui ficando tão focada nesta ideia, que chegou uma hora, eu simplesmente comecei a imitar a letra da moça. E que letrinha difícil era aquela (estamos falando de uma época em que escrevíamos muito mais a mão). A minha sorte é que apesar da relativa loucura que se apossou de mim naquele momento, eu sempre tive bom-senso e uma certa lucidez. Aos poucos fui entendendo que aquilo era ridículo e fui buscando o meu próprio estilo. Não por acaso, logo estava trabalhando na editoria de moda de um jornal local e fui estudar moda para poder escrever sobre o assunto. Isso me ajudou a formar um estilo próprio e fez com que eu passasse a olhar para mim e não para o outro. 

O que me levou ao outro ponto - aquele em que era comum as pessoas me perguntarem onde eu comprei roupas e acessórios. Isso tudo pode parecer meio fútil para um tema tão importante como o que estamos abordando. Mas ajuda a esclarecer. O que eu quero dizer é que quanto mais para fora o nosso olhar, está menos você vai se enxergar: sua essência, sua verdade, sua confiança. 


A boa notícia é que as últimas atualizações dos projetos da Behavior que dão sustentação ao Movimentos Humano mostra que estamos começando a se importar menos com o outro e focando mais em nós mesmos. No futuro isso vai nos levar para um outro patamar. Aliás….já começa a nos levar. Amanhã vamos falar de exemplos de pessoas e situações que já se mostram mais voltadas para si mesmas e menos para o outro.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Será que nossas diferenças nos torna melhores que os outros? Entenda melhor a mudança do que é poder.

Sábado assisti ao filme Planeta dos Macacos, o confronto. A mensagem do filme tem a ver com algo que acredito: importa pouco a raça, o sexo, a nacionalidade, a cor, a origem, a classe sócio-econômica, ou como no caso do filme, a espécie. Em todos os lados há seres que conseguiram superar suas dores e perdoaram com lucidez (veja nosso post sobre esse tema) e a aqueles que vivem alimentados pela dor e pela raiva que ela gera.

Pesquisando seres humanos há mais de duas décadas hoje sei que a essência humana é bastante parecida em todos os segmentos. A cultura contribui a fortalecer alguns valores em detrimento de outros, o que ajuda a distinguir especialmente na aparência, posto que refina a forma. Mas a essência, a mola propulsora que leva ao ato, podem acreditar, é a mesma. O que distingue hoje para mim, não é mais a forma, mas sim a escolha de qual mola propulsora será usada. A dor ou o perdão. Porque todos nós temos coisas a perdoar, inclusive de nós mesmos.

Se olharmos sob está perspectiva, a busca pela diferenciação através de grupos - católicos vs evangélicos, brancos versus negros, latinos versus europeus, homens versus mulheres, judeus versus árabes  e por ai vai - faz menos sentido. A diferenciação fazer menos sentido é o que configura uma das facetas de mudança do conceito de poder.

A necessidade de diferenciação é algo profundo que tem a ver com auto-afirmação e pertencimento dentro de um contexto social. Esta auto-afirmação foi construída numa base de crenças que diz para se ter valor, tem que ser melhor, maior, de alguma forma mais. Ela encobre a competição. Aprendi que a competição é necessária quando se é criança porque é uma forma de encontrar seu espaço a partir da referência do outro, mas a medida que vamos nos tornando mais consciente de quem somos, ela deveria fazer menos sentido. Na maturidade e com uma autoconfiança equilibrada, nós existimos com menos dependência do outro. Assim, não preciso competir para ganhar. Não preciso que alguém perca para eu ser vitorioso.

O poder embasado na diferenciação, e o que pior, na culpabilização de quem é diferente é um dos pilares do antigo poder, por isso ele se esforça em aumentar a raiva e evitar a paz. Ainda bem isso está começando a não fazer sentido.

Fiquem agora com um pouco do filme, e se puderem assistam.

Ótima semana a todos!





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O poder sem crachá

Ainda falando sobre a mudança do conceito de poder no mundo corporativo eu andei pensando: lembro que desde muito jovem eu tinha o sonho de trabalhar em uma empresa e me tornar diretora de alguma coisa. Eu costumava usar a expressão: “empresa de crachá”. Esse era realmente um grande sonho e ele foi realizado numa carreira de mais de 20 anos, com muito trabalho e realizações. Até demais! Houve um tempo que na falta de um, eu tinha sete crachás. É sério. Eu andava com nada menos do que SETE deles: dois da agência em que eu trabalhava (eram duas sedes), um para entrar no estacionamento e mais quatro para entrar nos prédios dos meus clientes - assim não perdia o tempo de ficar na fila da recepção. 

Hoje já não me importo com crachás. Muito pelo contrário. Se estiver no meu caminho trabalhar em algum lugar onde simplesmente eles não existam, eu vou gostar. O interessante é que eu tinha a impressão que cheguei no nível de não me importar mais com o ambiente formal de trabalho porque passei o tempo que precisava neles e amadureci. Porém tinha a impressão que as pessoas que estão começando agora ainda tivessem este sonho. Mas isso também mudou. 

Outro dia eu estava no que chamo de meu atual escritório: uma loja da Starbucks e um rapaz muito jovem puxou conversa comigo. Papo vai, papo vem ele me contou em detalhes sobre uma start up que ele estava lançando. E antes que eu alguém ache que ele estava me paquerando, não era este o caso. Eu era exatamente o “target" do negócio que ele estava iniciando. Dei meus pitacos e ele pegou meu email para me avisar do lançamento do serviço. Quando isso aconteceu, eu escrevi para ele desejando boa sorte e me colocando a disposição, para quem sabe, me tornar consultora de marketing da sua empresa. Dias depois ele me chamou para um café no “nosso” escritório em comum: a mesma cafeteria. Desta vez levou o sócio - tão jovem quanto ele. Tivemos uma longa conversa e fiquei surpresa com a história dos dois. Ambos trabalhavam no mercado financeiro, têm 25 anos e até o ano passado já haviam juntado dinheiro suficiente para abrir um negócio próprio, viver sem lucro por 3 anos e ainda teriam dinheiro para se divertir. 

Fiquei pensando em mim aos 25 anos. A menina do crachá! Se eu tivesse o sucesso financeiro e o poder que eles tinha nas mãos com esta idade, a última coisa que eu faria era deixar o meu posto, a empresa, o poder que tudo isso me daria. O status! Como deixar este status para trás? Mas aqueles meninos simplesmente não estavam dando a mínima para aquilo e jogaram esta vida corporativa do terno e gravata para o alto. Hoje, simplesmente são felizes empreendendo, andando de tênis e fazendo de uma mesa numa coffee shop o seu lugar de trabalho. Sinal dos novos tempos. 

Confesso que fiquei com um certo orgulho de mim mesma por fazer parte do universo dos meninos. Acho que virei uma espécie de conselheira deles. A gente consegue, apesar das diferenças, falar a mesma língua e ,nela, não existe a palavra poder. Muito interessante….

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Com respeito, mas discordo. E daí?

Refletindo sobre o tema proposto para esta semana me dei conta de como a questão da quebra do poder está batendo na nossa porta literalmente. Por exemplo, no trabalho. Outro dia uma amiga reclamava que sentia que os jovens que ela lidera hoje são completamente diferente de como éramos e que é muito difícil lidar com eles. A sensação dela é que eles não demonstram respeito pelas pessoas com mais experiência e que hierarquia é algo que não existe no vocabulário deles. 

Tivemos uma discussão acalorada sobre o assunto porque eu concordo em termos com ela. Uma coisa que eu não discuto é respeito e educação. Isso vem do berço e sempre deverá existir nas relações humanas, mas a ousadia dos jovens, de te encarar de frente, de dar ideias no meio de uma reunião de diretoria ou ainda discordar da sua opinião me parece muito saudável. Não vou negar:  venho de um ambiente onde as pessoas são cada vez mais jovens e realmente estranhei esta mudança de comportamento da dita geração y. Mas com o passar do tempo aprendi a conviver com eles. Com o tempo já conseguia  identificar aqueles que eram educados e comprometidos dos mal educados e que não estão nem aí para nada - porque existe esses também e não tem nada a ver com o que estamos falando aqui. 

Aqueles do primeiro time acabei conseguindo interagir muito bem. São pessoas mais destemidas do que a minha geração e mais preparada para encarar uma boa conversa e colocar sua opinião de uma forma posicionada. Isso nos ajuda a trazer um frescor para o ambiente corporativo. 
Lembro de uma menina que tive o prazer de conhecer trabalhando e que, sem dúvida, me ensinou muito a respeito deste tema. A sua primeira reunião foi memorável e durante muito tempo se falou a respeito.  Começou quietinha, ouvindo e anotando tudo e, de repente, sem nenhuma claquete, ela olha para o diretor que estava falando e diz que simplesmente discordava do que ele dizia. O estranhamento que isso causou a todos foi imediato, mas ela simplesmente não se intimidou. No fim das contas, ela tinha razão e argumentos a respeito do que estava falando. Fosse outros tempos ela seria chamada de louca por ter feito o que fez e nem duraria muito naquele ambiente. 


A sorte é que trabalhar num segmento em que os jovens são tão bem cotados é que aprendemos a aceitar este novo tempo de uma forma muito rápida.  É preciso para isso, humildade de um lado e ousadia do outro. E respeito por todos os lados. E não deveria ser assim em qualquer ocasião?

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O poder isonômico. O movimento humano pilar das mudanças que estamos vivendo.

O que me levou a iniciar este blog, em 11 de junho de 2013 foi a consciência que estava se acentuando de forma dramática o processo de transição que como sociedade estávamos vivendo e que a maioria das pessoas compreendia pouco sobre o que estava acontecendo com sua vida; e, o que mais me comoveu, que esse não saber, gerava dor. 

Foi assim quando captamos no Projeto Mulheres em 2010 que as mulheres todas poderosas e donas de si, estavam tristes ao constatarem que chegaram onde almejavam e, mesmo assim, continuavam infelizes; quando ouvimos os homens, no Projeto Homens em 2011, e captamos que eles estavam acuados por essa mulher poderosa mas conscientes que não queriam voltar a ser os patriarcas na sociedade, embora não soubessem bem ao certo o que desejavam da vida. Além da certeza de que a mulher e o homem contemporâneo brasileiro estavam sofrendo, mesmo com o auge econômico e o Brasil bombando na mídia, ficamos convencidos que uma mudança estrutural profunda estava acontecendo. 

Mesmo com aqueles que levantam a bandeira da retomada de modelos antigos como solução aos problemas sociais; estava claro para nós que o movimento de sair da fôrma, do molde que formatou por séculos o que era ser mulher e o que era ser homem, era um caminho sem volta. A este movimento humano chamamos de desestruturação

Ao longo desse ano e dois meses falamos basicamente sobre a desestruturação. O que é, como opera, como afeta nossas vidas no cotidiano. Falamos sobre nossas resistências às mudanças. Geramos reflexão sobre o que cria nossas "verdades", nossas crenças, como elas são criadas e como lidar com elas para poder se abrir ao novo. 

Falamos quais são os caminhos que o feminino e o masculino contemporâneo estão seguindo para se recriar. Trouxemos atitudes do dia a dia que afetam as relações mulheres e homens, tentando mostra a um e ao outro, como o sexo oposto pensa na tentativa de contribuir com a relação a dois. Isso tudo porque identificamos outro movimento humano, relacionamento romântico e companheiro. Caminho que as mulheres e homens estavam escolhendo para atravessar a crise.

Neste começo do segundo ano do blog, decidi falar sobre algo que no fundo é um dos pilares da grande transição que estamos vivendo: a mudança de conceito do que é o poder. Destrinchado no Projeto Uno, realizado pela behavior em 2013, este movimento humano, ao qual denominamos de poder isonômico, foca em como o poder conforme o conhecíamos, focado na estratificação e hierarquias está caindo por terra.

Vamos saber um pouco mais sobre isto? 

Boa semana para todos.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Você é grato?

Hoje fui ver uma exposição no Sesc Pompéia, em São Paulo, do artista francês Christian Boltanski . Na verdade mais do que uma exposição, trata-se de uma instalação, onde ele criou uma cidade, a partir da visita que fez a São Paulo, em que  torres feitas de caixas de papelão, listas telefônicas e cadastros de pessoas fazem as vezes dos edifícios. No meio desse espaço, há uma lâmpada que representa o coração das pessoas que habitam essa cidade, num piscar sincronizado com o som captado do coração dos próprios visitantes e de dentro das caixas de papelão que simulam prédios saem vozes que são depoimentos de pessoas que adotaram São Paulo como a sua cidade. Gente do mundo inteiro, que são apenas vozes, mas que quando você se aproxima e presta atenção, tornam-se histórias ricas e únicas. 

A palavra que mais ouvi foi gratidão. Cada um daqueles "paulistanos estrangeiros" contou sua experiência a respeito da chegada e da vida na cidade. Algumas experiências mais felizes e outras menos, como tudo na vida. Mas de um jeito ou de outro a gratidão pelo acolhimento da cidade estava presente. Sei do que se trata: também tenho uma gratidão enorme por esta cidade. 


Então fiquei refletindo sobre este sentimento: gratidão. Nos dias de hoje, agradecer é algo cada vez mais raro. Imagine, então, ser grato. A sensação que eu tenho é que as pessoas estão sempre esperando que você faça algo por elas e, isso, nada mais é do que a sua obrigação. Tenho a impressão que as pessoas nem pensam mais nisso.

Eu gosto de ser grata. Gosto de agradecer, gosto de lembrar das gratidões do passado, pois, para mim, é renovador. Mas quero contar a história de uma grande amiga, minha sócia, inclusive. Anos atrás ela perdeu um emprego muito bom de executiva de uma grande corporação. A vida dela virou de ponta cabeça e foi exatamente nesta época que eu a conheci. Eu estava com uma vaga na agência em aberto, porém era um cargo muito abaixo ao dela. Mas algo me dizia para oferecer e assim fiz. Ela aceitou e lá ficou comigo por alguns bons meses até se recolocar num outro lugar, mais próximo da sua experiência. 

Desde então, e lá se vão mais de 13 anos, ela não esquece desta “mão" que demos a ela. Eu sempre digo, e é verdade, que não foi mão nenhuma, pois eu não abri uma vaga para ela, eu tinha a vaga. E ela desempenhou com muita dedicação e amor o trabalho. Foi bom para ambas as partes, como um contrato de negócios tem que ser. 

Agora eu estou vivendo momentos de aperto. Não como os dela, naquela época, mas minha decisão de deixar por algum tempo o mundo corporativo, trouxe alguns impactos financeiros na minha vida. E, entre outras frentes, hoje tenho uma pequena sociedade com essa amiga. Aos poucos, vamos colhendo os frutos de um trabalho que temos muito amor em fazer. Pois não é que ela veio me falar, de novo, sobre a gratidão que ela tinha do passado e que agora era hora de retribuir? Disse novamente a ela que tinha sido um negócio, mas, a verdade, é que no coração dela, aquela oferta de trabalho, salvou sua vida- e não estamos falando em dinheiro. Estamos falando de autoestima, de valorização e de se sentir bem. No seu coração toda esta gratidão vem daí e é muito bonito ver como ela  expressa continuamente este sentimento latente.


Você tem gratidão no seu coração? Que tal a reflexão a respeito disso neste fim de semana?

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Receita básica: muito respeito, pouca expectativa


Entre os valores mais profundos, para mim, o respeito tem um papel fundamental. Respeito pelo outro, pela vida, pelos animais, plantas. Repeito, enfim, de uma forma geral, completa, absoluta. Entendo também, que dentro de respeito está tratar as pessoas bem, com dignidade, dar atenção, ouvir o outro e ter aceitação a pontos  divergentes aos seus.


Às vezes fico chateada porque gostaria que as pessoas me tratassem com o mesmo respeito que eu as trato, mas aí, sempre me lembro que, esperar algo do outro, se chama expectativa e, tento, seguir sendo uma pessoa que respeita o outro, mas não espera o mesmo tratamento de volta. Muitas vezes, só tento, mas não consigo e me vejo inundar por mágoas. Especialmente quando se trata de amigos. 

Acredito que a base da amizade está no respeito. Para mim, amigo é sinônimo de respeito. Mas, muitas vezes, em nome da tal “intimidade" vejo que as pessoas deixam o respeito meio de lado. 

Te pergunto: se o seu amigo te liga e você não pode atender, você liga de volta? Se ele te diz que está precisando de ajuda, você se dispõe a ajudar na mesma hora? Se ele está com problemas, você se aproxima dele, na tentativa de amenizar um pouco o fardo?

Pois é dessas coisas que estou falando. Já me chamaram de boba, de ingênua por conta disso, mas eu não acho. Esta semana, estamos propondo alguns exercícios, para tentarmos manter nosso valores essenciais mais aquecidos. 

Uma forma de fazer isso é pela consciência. Funciona assim: peqgue um dos seus valores e, me torno consciente dele  durante um dia inteiro. É verdade que preciso diversas vezes, ao longo do dia, me lembrar que estou tentando observar, plenamente consciente, o valor escolhido. É muito interessante e perturbador ver o quanto é fácil nos distanciar. 

Sugiro que você olhe hoje, com muita consciência, para um dos seus valores e exercite-o. Hoje, como você deve ter notado, estou exercitando o respeito e já percebi tanta coisa! É muito bom nos mantermos dentro do que verdadeiramente somos!

terça-feira, 20 de maio de 2014

Acordar o Herói que existe em cada um

Na semana passada assisti o filme Orgulho e Preconceito de Joe Wrigth e me senti tocada pela força dos personagens Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy. Tudo a ver com o tema que começamos a falar a semana passada, o desejo crescente da população pela volta de valores mais profundos no dia-a-dia. Na época do lançamento do filme as mulheres saiam do cinema sonhando em encontrar seu Mr Darcy, mas poucas se davam conta que para ter o direito a um Mr Darcy, primeiro tem que ser uma Lizzy Bennet.

Os personagens principais transmitem a intensidade com que vivem a sua verdade, por isso cativam, por isso tornam-se aspiracionais. Ao longo de meus anos de pesquisadora tenho ouvido de homens e mulheres, repetidamente, o desejo de encontrarem o par leal, alguém em quem confiar, e com isso poder amar de "verdade". Porém, também tenho percebido a dificuldade que a grande maioria tem de ser essa pessoa que tanto desejam para si.

Os personagens criados pela escritora Jane Austen (1775 - 1817) no seu livro homônimo, são pessoas que mantém sua verdade interior, independente da sociedade, independente dos interesses envolvidos. Todos nós queremos um mundo melhor. Todos nós queremos poder confiar e poder viver uma relação saudável, manter relações honestas, integras mas, quanto de nós somos íntegros com a nossa verdade, no dia-a-dia? Sinceramente, creio que poucos. Falamos dos outros mas pouco olhamos para nós.

Ser íntegros exige coragem. E coragem exige confiança. Uma coisa tenho certeza, quanto mais abrimos mão de valores nobres na nossa vida, sendo estes importantes para nós, menos auto-estima desenvolvemos. E quanto menos auto-estima desenvolvemos, mais vergonha, no íntimo, temos de nós. A partir de ai, há vários caminhos que seguimos: diminuímos os outros com críticas nivelando todos ao pior para nos sentir melhor; invejamos, sentimos raiva do mundo, das pessoas e especialmente dos mais fortes e que nos parecem íntegros. Há vários anos uma grande mestra me disse: "a raiva começa sendo sentida contra si mesmo". Sabias palavras. 

Aprendi com a vida e as pessoas sábias que cruzaram e cruzam meu caminho, que todo fraco e frágil ser humano tem um herói adormecido. Pode crer. Eu creio. Só é preciso querer acordá-lo e para isso é necessário olhar para nós e menos para os outros. É preciso começar nas pequenas coisas do dia-a-dia. Nas relações cotidianas para fortalecer esse herói que nos faz sonhar. E para isso acontecer é só começar. Que tal iniciar hoje?

Boa semana a todos.