sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Desce do salto, menina!

Algumas pessoas comentaram comigo a respeito do texto que postei aqui na terça. Falamos sobre o movimento humano de desestruturação. Neste caso, em especial, falamos da mulher que vem se “desmontando” – do ponto de vista de ter que se mostrar para o mundo poderosa, armada. O interessante é que diversas mulheres me procuraram para falar do texto e, a maioria comentou sobre a sua relação com sapatos de salto. Fato: (e eu sou prova disso) o salto nos dá uma sensação de segurança e poder. Fiquei pensando o que isso quer dizer e, provavelmente, milhares de cientistas sociais já descreveram profundamente sobre o tema, mas, na minha modéstia opinião, isso tem a ver com uma certa necessidade de ficar acima das pessoas. O salto te dá esta sensação. Talvez daí venha a expressão “descer do salto”. 

Pois é. Descer do salto é bom. Descer do salto é olhar no olhos. É se sentir par. É estar disponível e disposta a se colocar diante do outro. Isso é muito bom. Depois disso, usar um belo sapato, com saltos ou não, passa a ser simplesmente um acessório que te faz sentir bonita. Mas a intenção é completamente outra. Descer do salto para mim fez com que eu me sentisse livre para o caminhar. E pelos depoimentos todos que recebi esta semana não fui a única a sentir isso.

Uma amiga, publicitária como eu e que hoje mora em Graz, na Austria, foi a primeira a me falar disso esta semana. Reproduzo aqui o que ela me escreveu: Já faz um tempo  escrevi sobre a minha relação com os sapatos (pra não dizer, da necessidade de me 'apoiar' nos saltos altos pra me sentir mais imponente e respeitada) e de como ela mudou desde que mudei de emprego, de cidade, de país e de vida. 

E como estamos falando da Europa percebo que vem de lá a maior mudança nesta forma mais natural que as mulheres estão buscando. Tenho participado de algumas conversas por skype com mulheres de países escandinavos e uma coisa tem me chamado muito a atenção: as executivas com as quais tenho conversado são muito bem vestidas e absolutamente simples. Verdade. Simples no jeito de ser, de trabalhar e de se vestir. Veja bem....não há desleixo nelas. Há naturalidade. Não é à toa que  os nórdicos tem até uma palavra para isso: “lagom”. Esta palavra não tem similar nem em inglês e nem em português, mas o significado é algo como o equilíbrio entre o que se quer e o que se tem. É o simples e natural. Particularmente, estou gostando muito disso.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Você é o que veste


Tem alguns processos que acontecem no nosso caminhar rumo ao novo que é muito interessante observar no dia a dia. A desestruturação que está acontecendo e que temos demonstrado aqui tem nuances que acontecem dentro de nós, mas que se expressam no nosso exterior – provando que a integridade do ser é algo absolutamente essencial. Explico: uma coisa que venho notando constantemente tem a ver com o jeito de se vestir de diversas mulheres que conheço. Começando por mim mesma. Já faz algum tempo sinto que algumas roupas já não me cabem mais. Não porque engordei e sim, porque mudei. Aquelas modelos que antes me davam força e segurança agora me deixam absolutamente sem prumo. Isso estava acontecendo em mais de 40% do meu guarda-roupa e óbvio que não posso mudar todas as minhas roupas do dia para a noite, mas aos poucos vou revertendo aqueles modelos de mulher poderosa, sedutora, referendadas pela moda, por peças que falam mais ao meu coração. 

Fiquei pensando se isso estava me tornando uma espécie de “bricho grilo”. Fui salva por uma amiga que me convidou para ajuda-la a dar uma "repaginada" no armário. Ela me disse: “eu não consigo usar mais as roupas que tenho, acho que tem um pouco a ver com a minha idade, mas também não quero roupas de senhorinha e muito menos quero deixar de parecer elegante”. É isso! Mudar nosso estilo “por fora” tem tudo a ver com que estamos sentindo dentro de nós. 

As mulheres, nos últimos tempos, usaram muito suas vestimentas para demonstrar domínio, segurança e poder num mundo onde elas se sentiam com pouco domínio. Agora parece que, finalmente, estamos entendendo que mostrar a nossa essência e expressar o que verdadeiramente somos de dentro para fora pode mais nos ajudar do que atrapalhar. 

Outro dia fui almoçar com uma ex-cliente que se tornou amiga. Ela, uma mulher linda, sempre usou roupas super chiques e acessórios de puro poder. Ela é executiva em um empresa onde o padrão é bem masculino e ela sempre se impôs muito bem perante uma diretoria só de homens. Mas no dia do nosso almoço ela estava diferente. Com uma roupa bem mais fluída, quase um estilo “hippie chic”. Nem por isso menos elegante. Me surpreendi e perguntei se ela não estava trabalhando naquele dia e ela riu, entendendo a minha surpresa.

Falamos sobre isso durante o almoço e eu, curiosa, perguntei se ela estava se sentindo bem perante seus pares neste seu novo estilo e, principalmente, se eles a continuavam respeitando. Ela me disse que tinha descoberto que agora eles a respeitavam mais do que antes e a conclusão dela é perfeita: “agora eu não estou fingindo nada e continuo sendo competente como antes”.  

Mesmo assim não é tarefa fácil. Primeiro porque nós, mulheres, temos que sentir e compreender profundamente a nossa essência antes de tentarmos expressar para fora quem realmente somos. Depois disso é preciso coragem para realmente mudar. Mas uma coisa é fato e posso falar por experiência própria. Passei anos me enfeitando feito pavão e tentando arrancar elogios das pessoas pelo meu estilo como forma de reconhecimento. Hoje não ligo mais para isso. Me visto como gosto. Me sinto bem e elegante. Mas também me sinto confortável. Aliás, me visto com o objetivo de me sentir assim. As pessoas amam e me elogiam diariamente. Querem saber o segredo ou o que mudou. Este texto explica o que mudou.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Os macacos e o poder

Muito temos falado sobre o poder dominador e poder isonômico. Hoje vou falar muito pouco porque o vídeo abaixo tocou meu coração e mostrou como a sabedoria dos animais pode ser esclarecedora para o movimentar dos homens. Esta lição é maravilhosa e cheia de luz. Vale a penas assistir e foco sua atenção no olhar do macaco.
Muita paz, luz e boa eleição para todos os brasileiros.


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Apenas palavras ao vento

O assunto da semana era outro, mas acordei com a nítida sensação de que não tinha como fugir do tema tolerância. Não pretendemos (e não vamos) falar de política aqui, mas o contexto começa nas eleições. Desde que o 2o turno começou ficou evidente que as pessoas resolveram fazer do assunto um campo de batalha. Tenho visto de tudo: pessoas se agredindo sem ao menos se conhecerem direito, notícias de todos os tipos espalhadas irresponsavelmente pelas redes sociais, fatos e calúnias jogadas diante de uma cortina de fumaça que já não nos deixa distinguir sobre o que é verdadeiro e o que é falso. Acabou o respeito, o direito do outro, o livre pensar. Ou você é da minha turma ou você é meu inimigo.  Agora que o grande dia se aproxima era de se esperar que este cenário ficasse ainda mais intenso. Mas está ultrapassando todos os limites do bom senso.

Isso me fez pensar o quanto ainda é frágil a nossa evolução. Por mais que exista um desejo comum entre a maioria das pessoas sobre a paz, sobre a tolerância, sobre vivermos de forma mais harmônica, aceitando o próximo e suas diferenças, a verdade é que o discurso e a prática ainda são vias bem distantes.  O que nos faz tão agressivos e incapazes de  argumentar o nosso ponto de vista sem ofender aos outros? No fundo o poder que ainda rege a maior parte de nós e de nossas vidas é o da subjugação. O de que alguém precisa perder para eu ganhar. Onde fica toda a nossa lucidez e consciência de fazer diferente quando nos vemos pressionados, acuados ou simplesmente encontramos com alguém que pensa de forma diferente?

Eu costumo ter um olhar positivo sobre as pessoas e acredito que todos nós estamos sempre fazendo o nosso melhor, mas em dias como esses fico me perguntando se realmente temos o desejo de evoluir ou se tudo é um grande discurso vazio, palavras ao vento. Sinto um aperto no coração ao ver o tempo que se perde com discussões estúpidas e sem escrúpulos. Onde tudo isso vai nos levar?


Essa seria uma ótima oportunidade de discutirmos realmente temas importantes que nos faria crescer e vivenciar tudo aquilo que tanto gostamos de expressar. Infelizmente estamos desperdiçando este momento. Mas continuo com o firme propósito de que vamos conseguir discernir o que é realmente relevante do que é apenas lixo mental. Faço um apelo para aqueles que estão lendo este texto: hoje, e só por hoje, fale a sua verdade, defenda as suas ideias, mas tolere as opiniões diferentes das suas. Argumente, mostre seus caminhos, mas não tire o amor do seu coração. E amanhã, se você gostar da experiência, faça isso novamente.

Parte da obra "Sounds of Light" com pintura da Tribo Huni Kuin
 e intervenções de Naziha Mestaoui - acervo da Exposição Made by...Feito por Brasileiros

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Presença e consciência é o segredo


Esta semana nós nos perdemos no mar das obrigações e rotinas e acabamos não atualizando o blog. Resolvi fazer dessa distração um tema, pois por trás disso existe um grande aprendizado: o de estarmos presentes (ou não) em nossas intenções. Porque não há nada mais fácil neste mundo do que se perder e se deixar levar. Quando nos damos conta o dia já passou, a semana acabou, o mês voou e amanhã já é ano novo. 

Neste ciclo inconsciente começamos a reclamar: do calor, do frio, da falta de tempo, da falta de água, do cansaço, do outro que está ao nosso lado. Pequenos pontos de frustrações que vão se somando a muitos outros. Aí começa aquela coisa de que a energia está pesada, a vida está difícil, o Brasil não tem jeito, o mundo vai acabar. Já sabe o que vem a seguir, né? O medo ganha terreno fértil para crescer e teorias da conspirações malucas começam a fazer todo sentido. Mas como romper este ciclo tão pouco saudável? 

Antes de responder paro um minuto de escrever, olho para um cardápio de sobremesas que está na minha frente, respiro. Estou num restaurante cheio, numa sexta-feira de muito calor em São Paulo. O lugar é super gostoso, mas creio que as pessoas não percebam nem metade dos detalhes que há no ambiente. A velocidade aqui dentro é a mesma que agita a cidade inteira. Alguns são apenas amigos se encontrando, outros aproveitam o almoço para fechar mais um negócio. O mesmo deveria estar acontecendo comigo: almoçaria com um amigo para falarmos de um possível trabalho. Ele teve um imprevisto e acabou não chegando ao restaurante. Eu decidi aproveitar para escrever ao menos um texto para o blog. Deu, finalmente, uma brecha! Está aí a resposta: a vida não pode ser uma brecha e, não sei quanto a vocês, mas eu não quero viver de pequenos despertares. Consciência, serenidade, confiança e muita paciência para recomeçar quantas vezes for preciso. Um dia, tenho certeza, quebraremos o ciclo. 

Volta a atenção para o cardápio, passo o olho pelas opções de sobremesa, me vem logo o desejo de pedir o brigadeiro com farofa de biscoito. Mas pensando bem....eu gosto muito mais de torta de maçã do que de brigadeiro! Especialmente se a massa é de castanha de caju! Peço a torta e penso: por que a gente sempre deseja primeiro o brigadeiro? Lembro da necessidade de estar presente e consciente. Respiro novamente. É simplesmente isso.

Um ótimo final de semana presente e consciente para todos nós.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O ser inteiro onde quer que esteja e o que quer que faça

Meu pai era desembargador e tinha amor pelo trabalho e pela justiça. Fez uma carreira maravilhosa e sempre foi admirado como jurista por colegas e por juízes mais jovens. Era também um homem humilde e muito reservado. O mundo do poder judiciário carrega uma grande formalidade, com os magistrados e suas becas pretas, dentro de uma posição de destaque numa hierarquia bastante estruturada. É comum, neste ambiente, encontrarmos profissionais muitos sérios que, em prol da justiça (e mesmo da sua proteção), tentam se tornar pessoas absolutamente neutras no mundo público.

Perfeitamente aceitável, neste caso, por conta da função que exercem. Mas pensando no meu pai, apesar da sua reserva natural, nunca consegui imaginá-lo assim, neutro, soberbo, numa posição de julgador. Se fosse, tenho certeza que seus olhos, que sempre espelhavam a bondade que tinha no coração o entregaria. Talvez por isso cresci ouvindo e vendo histórias de pessoas que iam bater na porta da nossa casa, especialmente quando morávamos no interior, em busca de um auxílio, uma palavra confortadora ou até mesmo para oferecer algum presente. Coisa que o deixava profundamente irritado, diga-se de passagem. 

Associei a figura do meu pai ao tema da semana porque lembrei do dia de seu velório, em julho deste ano. Muitos colegas do Tribunal de Justiça foram lá se despedir dele. Advogados de grandes escritórios do Paraná e com nomes de reputação também estiveram lá. Um deles, amigo antigo do meu pai, chegou a fechar o escritório naquele dia, dando folga a uma grande quantidade de advogados que trabalham com ele, numa linda homenagem ao amigo. Também estavam presentes muitos juízes mais jovens e outros funcionários que trabalharam uma vida inteira ao lado dele. 

Aqueles senhores sérios, nos seus ternos formais, me fizerem amar ainda mais o meu pai. Isso porque todos sabiam o meu nome e dos meus irmãos, sabiam o que nós fazíamos da vida e conheciam detalhes da dinâmica familiar. Prova de que meu pai, mesmo no ambiente público, era ele mesmo, o "Alfredão" e o "vorinho" como o chamávamos em casa. Todos foram muito carinhosos conosco e simplesmente falaram palavras lindas a respeito dele. Maravilhoso saber que ele conseguiu, apesar da  vida pública num ambiente bem formal, ser ele mesmo. Não é à toa que um dos meus sobrinhos tatuou no braço a seguinte frase: "Porque havia tanto brilho em seu olhar, mais do que seu neto me tornei seu fã".

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

No privado, grandes amigos. No público, invisível.


Histórias para confirmar o tema desta semana não me faltam. Poderia aqui selecionar alguns executivos que foram meus clientes e acabaram se tornando amigos e que demonstram exatamente o que a Nany coloca sobre ser formatado no público e mais solto no privado. Poderia contar sobre pessoas que abriram mão do mundo corporativo mais formal, justamente por não se encaixar mais neste modelo de aparências. Mas de ontem para hoje acordei com uma história muito mais poderosa para contar a respeito deste assunto. 

Tenho relatado aqui, muitas vezes, as experiências que venho experimentando desde que decidi viver mais íntegra e una entre a minha vida pública e privada. Um dos preços que se paga ao fazer esta transformação são as pessoas com as quais você conviveu por muitos anos e que, de repente, perde-se a afinidade. Posso dizer que desses 20 anos como publicitária fiz uma grande rede de contatos, mas amigos, que sobreviveram a transição, foram poucos. O que eu estou descobrindo agora é que mesmo os amigos, aqueles que realmente eu guardo no coração e vou continuar procurando e me importando com eles, começam a ter um outro nível de relação e interação comigo. 

Ontem, numa tarde deliciosa com alguns desses amigos, batendo um papo bem filosófico, entendi como a vibração e o impacto entre nós mudou. Com o pôr do sol também foi-se um dos últimos véus que ainda me cobriam. Num determinado momento eu me tornei invisível. Participava da conversa, dava a minha opinião, talvez até mais do que fazia no passado, mas era como se eu não existe mais em parte do mundo deles. Quando eles se referiam aos dilemas da vida corporativa e dos próximos passos em suas carreiras, eles falavam entre si. Quanto a mim? Sinto que me tornava parte da jabuticabeira que nos cobria. 

Não vou negar que fui para casa levemente incomodada com o fato de ter sido expelida do mundo público deles. Magoada até. Mas entendi, rapidamente, que fui eu que optei por me tornar um estranho no ninho.  É claro que eles também não querem mais estar tão ligados as aparências, a uma imagem de poder antigo e sem sentido, do ser forte o tempo todo para ser o mais competente, do ter mais do que ser. Mas o discurso se distanciou muito da vivencia entre nós. De certa forma eu deixei de ser visível mesmo no que eles chamam de público e ainda não importa para eles o que eu agora chamo de público. 

Mas como eu disse, estou falando dos poucos amigos que fiz durante uma vida toda e quero continuar compartilhando bons momentos com eles. Só precisamos ajustar nossos olhares. No fim das contas, no privado, nos afinamos. No público, talvez a gente não se encontre nunca mais, pois eu estou cada vez menos disposta a voltar para o lugar onde nos conhecemos e desenvolvemos uma linda amizade. Mas aí depende de cada um. A vida nos dirá como será daqui para frente.