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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Você deseja ser quem nesta vida?

Hoje pela manhã fui visitar uma empresa de consultoria de inovação e tendência. Um ambiente moderno, bem informal, num lugar super gostoso e com uma equipe bem jovem e descolada. Eu e a gerente geral éramos as pessoas mais “antigas" do pedaço - isso porque estamos no auge dos nossos 40 e poucos anos! 

No fim da visita a gerente, e mais 3 meninas da equipe, estavam saindo para almoçar e me convidaram para ir junto. Mal sentamos na mesa e surgiu o assunto que se estendeu até o cafezinho. De manhã havia rumores de que a diretora de uma empresa cliente deles seria promovida e parece que a vaga estava em aberto. A questão é que o salário da mulher beirava a casa dos 40 mil reais, mas que aquilo ali era quase a escravidão, pois a cliente tinha uma carga horário de mais de 12 horas diárias de trabalho, incluindo sábados, domingos e feriados - isso sem contar que ela vivia tensa e sob pressão constante. Ela é casada, tem 3 filhos e comanda, além de toda a sua equipe na empresa, um pequeno batalhão de babás, empregadas, motoristas, folguistas para dar conta da rotina dos filhos.

Não precisou muito para a pergunta mágica aparecer: alguém naquela mesa se canditaria à vaga se isso fosse possível? As 3 jovens logo se posicionaram dizendo que jamais fariam isso: por qualidade de vida, por prezar a liberdade, por não querer viver daquele jeito e por aí vai. O que não faltava para elas eram argumentos para achar que a vida da tal executiva não era boa. 

"Mas….e o salário de 40 mil reais?” Quis saber a gerente. "Pouco importa”, disse uma das meninas. "Prefiro ganhar menos e viver mais”, disse outra. Por fim, a minha companheira de maturidade desabafou indignada: "Gente, como assim? Este cargo é tudo que se espera numa carreira. É um sonho. Além disso ela é linda, poderosa, dirige uma BMW e tem roupas maravilhosas. Isso sem falar que eu também tenho 3 filhos e minha vida seria muito mais fácil se pudesse ter a estrutura que ela tem, o poder, o status. Em que mundo vocês vivem?”.  Silêncio geral.

Eu, que havia acabado de conhecer aquelas pessoas, achei melhor não expor nenhuma opinião. Mas não demorou muito para todas olharem para mim e perguntarem: "E você? Se canditaria ao cargo?". 

Pois é. Mal sabem elas que eu estava fazendo esta pergunta para mim mesma enquanto elas discutiam entre si. Fui sincera: "Provavelmente anos atrás eu me canditaria sem dúvida. Hoje, não sei. Não quero ser escrava nem do dinheiro, nem deste poder, mas não conheço a diretora em questão para saber se é o ambiente que está fazendo isso com ela ou se a imposição da falta da liberdade está vindo dela mesma. Fato é….hoje eu quero trabalhar, produzir, mas eu também quero ser feliz e viver. E dinheiro faz bem. Gostaria de ver meu trabalho rendendo como o salário dela. Mas aprendi, a duras penas, que dinheiro também cobra seu preço e ele pode ser libertador ou um instrumento de escravidão. Você que decidi isso”.

Então me calei, pois vi que a gerente estava mais indignada com a minha resposta do que com a resposta das meninas. Resolvi desviar o assunto fazendo outra pergunta - pensando no tema que estamos discutindo no blog. 


"Mas se o gênio da lâmpada perguntasse quem vocês gostariam de ser no mundo corporativo - fosse quem fosse - em qualquer nível, indústria, segmento - vocês teriam uma resposta para ele? Quem vocês gostariam de ser?”.  A gerente não pensou 3 segundos para me dar uma lista de 5 ou 6 pessoas que ela gostaria de ser. E as meninas? Apenas uma respondeu: "Eu quero ser eu mesma, seja no cargo que for". Que bela resposta!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Igual ao general

Ontem uma amiga sabendo que eu adoro banda (fanfarra) me ligou entusiasmada para irmos num evento no Círculo Militar, onde ela é sócia. A atração principal era a banda filarmônica do exército - por isso a empolgação dela em me convidar. Infelizmente eu não pude ir. Mas hoje cedo ela me ligou para contar como foi. Falou sobre as esposas dos oficiais que estavam todas arrumadas com seus cabelos armados com laquê. Contou das formalidades que só as forças armadas conseguem ainda manter e terminou falando das músicas que a banda tocou.

O que esta história tem a ver com o tema da semana? Acontece que passei o dia pensado nisso. Não existe lugar melhor para ilustrar como as hierarquias de poder acontecem do que no exército, marinha ou aeronáutica. Se você é um oficial e almeja ser um dia um general, um almirante ou um marechal, o melhor caminho é se espelhar nos seus comandantes e agir como tal. É um modelo, não é? Pois comecei a ver que não é tão diferente do que normalmente acontece conosco. A maioria de nós, pelo menos em algum momento das suas vidas, quer ser igual a alguém. Seja para fazer parte de um grupo, seja para pertencer, seja, principalmente, para competir - evidenciando o “sou mais, tenho mais, posso mais”. É aí que a coisa toda se complica. Quanto mais olhamos para o outro e, competimos com ele, menos sobra espaço para olhar para nós mesmos. 

Me lembro que quando eu era bem mais jovem - e portanto bem menos tolerante - eu detestava que me perguntassem onde eu comprei a roupa que eu estava vestindo. É uma bobagem, mas aquilo me remetia a um olhar no outro. Eu não entendia como elogio.  Eu ouvia algo como “eu quero ter um igual ao seu”. 

Mas antes de chegar nesta fase, passei por outra que considero bem pior. Entrei na faculdade com 17 anos. Por uma daquelas coisas do destino, a minha turma quase não tinha pessoas da minha idade. A maioria já eram homens e mulheres estruturados, que trabalhavam e pagavam suas contas - inclusive a mensalidade da Universidade. Eu me sentia um peixe fora d’água. No auge da adolescência, com minhas roupas de surfista que era a moda na época, sentia que nada combinava ali. Não demorou muito para eu mirar na mulher que achava mais elegante, bonita e culta da sala e comecei a tentar imitar seu estilo. No início fiz isso, usando as roupas da minha mãe. Não funcionou muito bem, como vocês podem imaginar. Fui ficando tão focada nesta ideia, que chegou uma hora, eu simplesmente comecei a imitar a letra da moça. E que letrinha difícil era aquela (estamos falando de uma época em que escrevíamos muito mais a mão). A minha sorte é que apesar da relativa loucura que se apossou de mim naquele momento, eu sempre tive bom-senso e uma certa lucidez. Aos poucos fui entendendo que aquilo era ridículo e fui buscando o meu próprio estilo. Não por acaso, logo estava trabalhando na editoria de moda de um jornal local e fui estudar moda para poder escrever sobre o assunto. Isso me ajudou a formar um estilo próprio e fez com que eu passasse a olhar para mim e não para o outro. 

O que me levou ao outro ponto - aquele em que era comum as pessoas me perguntarem onde eu comprei roupas e acessórios. Isso tudo pode parecer meio fútil para um tema tão importante como o que estamos abordando. Mas ajuda a esclarecer. O que eu quero dizer é que quanto mais para fora o nosso olhar, está menos você vai se enxergar: sua essência, sua verdade, sua confiança. 


A boa notícia é que as últimas atualizações dos projetos da Behavior que dão sustentação ao Movimentos Humano mostra que estamos começando a se importar menos com o outro e focando mais em nós mesmos. No futuro isso vai nos levar para um outro patamar. Aliás….já começa a nos levar. Amanhã vamos falar de exemplos de pessoas e situações que já se mostram mais voltadas para si mesmas e menos para o outro.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Será que nossas diferenças nos torna melhores que os outros? Entenda melhor a mudança do que é poder.

Sábado assisti ao filme Planeta dos Macacos, o confronto. A mensagem do filme tem a ver com algo que acredito: importa pouco a raça, o sexo, a nacionalidade, a cor, a origem, a classe sócio-econômica, ou como no caso do filme, a espécie. Em todos os lados há seres que conseguiram superar suas dores e perdoaram com lucidez (veja nosso post sobre esse tema) e a aqueles que vivem alimentados pela dor e pela raiva que ela gera.

Pesquisando seres humanos há mais de duas décadas hoje sei que a essência humana é bastante parecida em todos os segmentos. A cultura contribui a fortalecer alguns valores em detrimento de outros, o que ajuda a distinguir especialmente na aparência, posto que refina a forma. Mas a essência, a mola propulsora que leva ao ato, podem acreditar, é a mesma. O que distingue hoje para mim, não é mais a forma, mas sim a escolha de qual mola propulsora será usada. A dor ou o perdão. Porque todos nós temos coisas a perdoar, inclusive de nós mesmos.

Se olharmos sob está perspectiva, a busca pela diferenciação através de grupos - católicos vs evangélicos, brancos versus negros, latinos versus europeus, homens versus mulheres, judeus versus árabes  e por ai vai - faz menos sentido. A diferenciação fazer menos sentido é o que configura uma das facetas de mudança do conceito de poder.

A necessidade de diferenciação é algo profundo que tem a ver com auto-afirmação e pertencimento dentro de um contexto social. Esta auto-afirmação foi construída numa base de crenças que diz para se ter valor, tem que ser melhor, maior, de alguma forma mais. Ela encobre a competição. Aprendi que a competição é necessária quando se é criança porque é uma forma de encontrar seu espaço a partir da referência do outro, mas a medida que vamos nos tornando mais consciente de quem somos, ela deveria fazer menos sentido. Na maturidade e com uma autoconfiança equilibrada, nós existimos com menos dependência do outro. Assim, não preciso competir para ganhar. Não preciso que alguém perca para eu ser vitorioso.

O poder embasado na diferenciação, e o que pior, na culpabilização de quem é diferente é um dos pilares do antigo poder, por isso ele se esforça em aumentar a raiva e evitar a paz. Ainda bem isso está começando a não fazer sentido.

Fiquem agora com um pouco do filme, e se puderem assistam.

Ótima semana a todos!