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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Valores mudam. O poder também.

Há uns 15 anos eu estranhei quando uma cliente, gerente de marketing de uma grande empresa de telecom, pediu demissão e para ser professora de ioga. Pensei na coragem que se precisa ter para abrir mão do dinheiro e do status que o cargo dela representava. 

Hoje eu não me impressiono mais. Frequentemente recebo notícias de amigos ou conhecidos que largou um emprego fixo para se dedicar a algo alternativo,  abrir um negócio próprio ou mesmo cuidar dos filhos. Isso sem contar com aqueles que resolveram viajar o mundo, trabalhando remotamente, afinal, isso já é mais do que possível. É lógico que ainda é um comportamento minoritário, provocado por uma parcela específica da nossa sociedade, muito concentrado nos grandes centros e nas classes mais abastadas. 

Mas esta semana tive uma conversa muito interessante com a moça que trabalha na minha casa e que me mostra que este movimento vai demorar menos do que se imagina para acontecer.  Ela reclamava que está cansada de ficar no trânsito todos os dias e que tudo aquilo estava sufocando a vida dela. Me disse que se tivesse a oportunidade de ir embora para um lugar mais calmo,  iria. Como sei que seus pais vieram do campo questionei se ela estava querendo voltar as origens e trilhar o caminho deles. Ela me respondeu, seguramente, que não se tratava disso. Ela quer que a filha estude em uma boa escola, quer ter uma vida urbana, mas hoje já não importa mais para ela entulhar a casa com todo o tipo eletroeletrônicos e eletrodomésticos como fazia antigamente. Também não interessa mais comprar roupas para se diferencias das vizinhas e amigas nos bailes do fim de semana.  Quer uma vida mais simples, com qualidade de vida. Palavras dela. Disse a ela: "então vá atrás disso!”.  Ela riu deixando claro que ainda é um desejo, mas creio que mais dias ou menos dia isso irá acontecer. 

Me lembrei então do nosso debate desta semana no blog. O que é esse desejo dela se não o de ser feliz? E não se importar mais com a vizinhança é um sinal claro de como os valores vão mudando. Os ícones que a apoderavam a partir dos bens materiais já deixou de ser importante para ela e, no futuro, assim será para boa parte das pessoas.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Poder como verbo auxiliar

Entre as respostas que recebemos sobre o que é poder uma eu não havia entendido. Foi dada por uma leitora frequente do blog que disse: "poder é verbo, por isso ninguém o tem".  Estava tão focada na palavra como substantivo masculino que nem percebi que a mesma palavra define, também, um verbo. Só me dei conta disso no sábado quando lia uma entrevista da Monja Coen em uma revista e numa das suas respostas ela usa o poder como verbo.

Ontem ao ler pela primeira vez a proposta de reflexão da Nany para esta semana entendi a associação das coisas. Poder é escolher. Eu posso fazer, eu posso ajudar, eu posso ir ou eu não posso fazer, ajudar, ir. Eu escolho o caminho que vou fazer na vida. Eu escolho por onde eu vou. Eu escolho ser feliz. E a escolha pressupõe a opção. Você deixa algo ao escolher outra coisa. 

Recentemente passei por isso. Tinha duas opções e precisava me decidir por uma delas rapidamente, porem o assunto envolvia muita coisa para ser definido sem uma boa dose de entendimento. Primeiro usei o método racional, aquele me ensinaram a vida toda. Colocando pós e contras de cada um dos caminhos na balança, a minha cabeça, responsável pelo lado racional me disse: “você tem um empate técnico aqui, pergunte ao seu coração”. Perguntar ao coração não é tarefa fácil. Às vezes acho que sou surda porque não consigo escuta-lo com precisão. Então uma pessoa me disse: confia! Na condição de dúvida existencial em que me encontrava só me restou seguir este conselho. Confei, a situação se resolveu e eu fui em em frente. 


Então comecei a achar que tinha errado na escolha. Parecia que o caminho não era exatamente o que eu queria. Tempos atrás teria sido tomada pelo desespero, pela dor, pelo sofrimento. Mas hoje me sinto feliz. Pareço louca, mas eu explico: percebi que a situação era o próximo passo do meu ser consciente e desperto me dizendo que agora era hora de colocar em prática tudo aquilo para o qual venho me preparando por tanto tempo. Isso significa, em primeiro lugar, não me odiar pela escolha que fiz. Segundo era me acalmar e sentir o que me trouxe aqui. Por fim tenho que confiar que eu posso mudar o caminho a qualquer momento. Nada e nem ninguém pode me prender as escolhas que eu mesma fiz. Isso sim é poder. E um novo tipo de felicidade se abriu para mim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

o novo poder: ser e viver a potencialidade individual de ser feliz

As respostas à pergunta o que é poder para você? nos confirmou duas linhas de raciocínio que estamos estudando desde que as captamos no Projeto Uno: o poder para e o poder sobre. O poder sobre é o poder como meio de diferenciação; como explicamos nas duas semanas anteriores, este poder se manifesta através da competição, comparação e até, subjugação. Valoriza a hierarquia e tudo aquilo que classifica. Neste tipo de poder o outro é relevante. 

O poder para é entendido como potencial individual. E é nosso tema desta semana porque além de ser um conceito novo, e portanto ainda encontrasse difuso, o que nos exige explicação e repetição; o outro poder, o poder sobre representa de certa maneira a antiga forma de poder, exaustivamente discutida nas últimas décadas, e, acreditamos bastante compreendido. Nosso interesse neste blog é trazer conhecimento e gerar reflexão sobre movimentos humanos recentes ou que ainda não estejam tão nítidos. 

Boa parte das respostas à pergunta que abre este post associa poder com liberdade e autonomia. Liberdade e autonomia para o quê? Para ser feliz, oras! Sim, estamos, como nunca, na busca consciente da tal felicidade. Da geração que está hoje em torno dos cinquenta anos até pré-adolescentes, a grande maioria, quer a felicidade como um direito adquirido. É a grande meta, o grande objetivo.

Os que estamos mais perto dos cinquenta, ainda temos recaídas sobre esse tópico. Fomos criados por uma geração para a qual a maturidade era sinônimo de responsabilidade, e ambos antítese da felicidade. Muito de nós fomos nos libertando dessa crença limitante com muito esforço mas a raiz dela está lá, na espreita, esperando a oportunidade em que baixarmos a guarda. Já os mais jovens, incentivados por nós, buscam a felicidade sem nenhum remorso ou sentimento de culpa. Existe algum outro motivo para viver, do que ser feliz? nos perguntam olhando nos olhos. 

Por isso posso dizer que para quem o poder é para e não sobre, poder pode ser associado tranquilamente à felicidade. Por que fizemos essa associação? Porque sendo a felicidade uma meta - utópica ou não - o grande sonho dourado da sociedade atual está associada a imagens que exigem liberdade e autonomia: ver o pôr do sol, caminhar na praia, viajar, ter mais tempo para..., ser independente, trabalhar no que se gosta, e por ai vai.

O conceito de poder esta mudando, isso nós não temos dúvida. O velho poder - o poder sobre - está cada vez mais abrindo espaço para o poder isonômico, como o definimos na behavior, que na pratica possibilita ser e viver a potencialidade individual de seus sonhos. Para os inovadores que já estão caminhando essa trilha nova, isso significa, poder ser feliz, sem se importar muito com o que o outro pense. 

Vamos refletir e discutir mais sobre isto nesta semana?

Boa semana a todos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Capacidade e transformação


Conforme a semana foi passando algumas respostas a nossa pergunta sobre o que é poder e quem o tem hoje em dia começaram a chegar. Principalmente através do perfil da Nany no Facebook. 

Adorei as respostas! Pois, para mim, ainda muito ligada ao mundo corporativo, muitas vezes, associo poder a algo duro, firme, arrogante, mandatório. O velho poder, eu acho. Mas o que ouvimos foi algo que considero bem mais positivo. Algumas palavras e conceitos apareceram muitas vezes e me chamaram a atenção. Entre eles, as palavras capacidade e transformar. Gosto de ir atrás do significado das palavras quando elas começam a se repetir. É sempre interessante ver a definição do dicionário e expandir o que você acha que entende a respeito daquilo que está sendo falado. 

A palavra capacidade, por exemplo, tem diversos significados, mas como substantivo ligado a uma pessoa, o que aparece mais é aptidão, competência, conhecimento, habilidade, jeito, predisposição. E pasmem….até poder é sinônimo de capacidade! Se trocarmos algumas respostas com a palavra capacidade por predisposição, por exemplo, ficariam assim: predisposição para transformar, predisposição para fazer escolhas assertivas, predisposição para o desapego. Não sei dizer por que, mas a sensação que tenho é que predisposição é uma boa palavra para definir que tem um novo tipo de poder. 

transformar tem um, entre tantos significados, que é lindo: “dar uma nova forma a alguma coisa”. Ter poder é dar uma nova forma a alguma coisa. Adoro este olhar! 

Sobre conceito apareceu que ter poder é ser feliz, não se deixar levar pelos outros, fazer o que se quer, não se levar por modismos para ser aceito, gerar algo positivo. Dois outros pontos interessantes: algumas respostas estavam associados a influência em redes sociais e gestos instantâneos com consequências profundas. 

Continuo assimilando tudo isso, mas algo dentro de mim diz que tudo agora vai mudar mais rápido do que em outros tempos. É bom ter predisposição para seguir e transformar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Poder é algo que se sente ou que se tem?


Confesso que até hoje de manhã eu ainda não tinha uma única história para ilustrar ou responder a pergunta que a Nany lançou aqui no blog esta semana. Nós não temos a maior audiência do mundo, mas sempre tem um ou outro que interage com o tema. Desta vez nada aconteceu. A pergunta o que é poder para você e quem você conhece que tem poder continuava sem resposta. 

Eu me alimento das histórias que ouço no meu dia a dia e, apesar disso, desta vez, também nada tinha para responder, muito menos para contar. Resolvi ir ao salão de beleza de uma amiga, onde sempre encontro pessoas que lêem o blog e normalmente acontece um bate-papo sobre o assunto que estamos abordando na semana. Quem sabe, com sorte, uma boa conversa de salão ajudaria. De fato não foi preciso dar mais do que um ou dois passos porta adentro que uma cliente me cumprimentou e me falou sobre o assunto poder. Ela me disse que não respondeu porque não entendeu. "Tem poder quem é poderoso”, brincou.

Não precisou de muito tempo já éramos 4 ou 5 mulheres falando sobre o tema. Mulherada reunida é bom porque qualquer assunto vira debate! Umas falavam que nós, mulheres, somos poderosas. Uma moça que entrou na conversa por tabela, mas que nunca leu o blog, disse que o chefe dela tinha muito poder. Até uma menina de 11 anos, que sempre encontro lá fazendo a unha e que é autora de dois blogs (sim, ela é blogueira com esta idade), me disse que os pais dela são poderosos. Perguntei o motivo e ela não soube responder ao certo. Ninguém soube. Falavam sobre liderança, dinheiro, posição, subjulgação até. Mas não sabiam se o motivo para o poder das pessoas citadas eram aqueles.


Entendi que o conceito do poder isonômico é tão novo quanto o poder que subjulga é velho. A sensação que tive é que ninguém sabe mais o significado e o verdadeiro valor da palavra poder. Pelo que tenho conversado com a Nany isso parece ser bom, mas pode ficar melhor.

Quando fiquei sozinha no lavatório me dei conta que ainda não tinha uma história para contar. Já com um certo desespero cheguei até a cogitar em escrever que tem poder quem tem tempo, pois eu estava totalmente atrasada para publicação de hoje e nada ainda me ocorria. 

Mas aí algo caiu em minhas mãos: a recepcionista trouxe para eu ler, em primeira mão, a revista Claudia de setembro que haviam acabado de entregar. Resolvi dar uma folheada meio sem interesse e acabei caindo nas três primerias colunistas da revista. O engraçado é que todas tratavam do mesmo assunto, em suas visões bem diferentes. Quem me deu a luz mesmo foi a Danuza Leão. A coluna dela falava sobre uma brincadeira entre ela e os amigos que serve para passar o tempo nos encontros de domingo: cada um deles tinha que falar dos melhores momentos que haviam passado na vida. Dito isso e aquilo, lá pelas tantas ela descreve sobre uma viagem que fez a Londres e que poderia ter sido horrível, pois ela havia esquecido o celular em Paris. Reproduzo abaixo o trecho que me inspirou:

“Relaxei e me dei conta de que ninguém no mundo inteiro sabia onde eu estava. Nem em que país, nem em que cidade, nem em que hotel. Eu estava fora do alcance de tudo e todos, absolutamente incomunicável. Nada poderia me atingir, eu pensei e, em seguida me senti livre, livre como nunca havia me sentido - e olha que não sou nada presa às chamadas convenções. Foi tamanha a felicidade que experimentei - não, a palavra felicidade não é suficiente. Foi como uma comunicação profunda comigo mesma, uma liberdade plena e total de existir, sem depender de nada nem de ninguém, uma sensação de poder completo, no mais alto dos níveis." 


Compreendi então que esta era a história: ainda reagimos tanto aos padrões que temos que estar bem distante deles para, de certa forma, sentir este novo tipo de poder. Aos poucos, eu acredito, todos nós vamos compreendendo e entrando em contato com um novo mundo e assim, vai tudo se modificando. Não importa o tempo que se leve para novamente entendermos o que é poder e quem tem poder. O que importa é estar atento para as novas possibilidades que isso nos traz. 


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

É possível respeitar sem aceitar?

Uma vez estava participando de uma conversa na piscina do meu prédio, mais como ouvinte do que como participante, na verdade. Uma vizinha contava a história da filha da amiga do parente e dizia que a menina havia largado toda a vida boa de princesa na casa dos pais aqui em São Paulo para ir morar com um funkeiro carioca. “Foi morar no morro" , ela dizia abismada. 

Os outros participantes expressavam sua opinião, alguns mais a favor da liberdade de escolha da menina e outros radicalmente contra. De tudo que ouvi, duas frases não sairam da minha memória. A primeira dita pela própria narradora da história: “Se fosse minha filha eu respeitaria a decisão dela, pois amor de mãe é incondicional, mas dentro do meu coração eu não aceitaria jamais”.  A outra frase, vinda de outra vizinha que tem duas filhas, era “Eu dou todo o apoio, desde que não seja com as minhas filhas”

Na época, pelo que me lembro, eu as julguei, pois achei que elas estavam usando a habitual lei do "dois pesos e duas medidas”. Pensando bem agora e avaliando nosso tema a respeito da isonomia fico na dúvida de quantos de nós, pobres mortais, não fazemos em assuntos especifícios o mesmo que elas fizeram aquele dia. Ou pior: quantas vezes não dizemos que aceitamos os outros e, principalmente suas diferenças, e saímos por aí orgulhosos por sermos pessoas evoluídas, maduras, capazes de tolerar qualquer tipo de diferença. Como disse Jesus Cristo, na minha opinião, o primeiro e mais forte propagador da verdadeira tolerância e aceitação: "que atire a primeira pedra quem nunca errou"

Escrever sobre os mais diversos Movimentos Humanos apontados nas pesquisas da Behavior me faz aprender muito sobre mim mesma, meus relacionamentos, minhas forma de agir. A cada passo que dou para desenvolver os textos, mais e mais portas vão se abrindo e tudo fica mais claro - sem dúvida - mas também mais exposto. É surpreendente, por exemplo, me ver diante desta verdade: quantas vezes não levantei bandeiras de pessoas e pensamentos diferentes, mas que no fundo não passavam de um discurso semelhante ao das minhas vizinhas e colegas de piscina? Respeito, mas não aceito foi praticado por mim centenas de vezes. Milhares de vezes!  E continuará sendo, afinal, a consciência do fato é sempre e apenas o primeiro passo. 

Aceitar o outro exatamente como ele é, amá-lo e respeitá-lo  de forma verdadeira e não apenas como exercício de gradiosidade egóica é tão poderoso quanto difícil. Mas é maravilhosa a descoberta e por isso resolvi compartilhar com vocês, acreditando que o exemplo sempre mexe com as pessoas que estão abertas a caminhar também. Deixo aqui duas reflexões filosóficas que li durante o momento em que estudava para fazer este texto e que me ajudaram a ir mais a fundo no tema e em mim mesma. Que este final de semana seja feito para colocar em prática todos os aprendizados.

(…)não bastaria evitar a humilhação dos outros. É preciso também respeitá-los – e respeitá-los precisamente na sua alteridade, nas suas preferências, no seu direito de ter preferências. É preciso honrar a alteridade do outro, a estranheza no estranho, lembrando (...) que o único é universal, que ser diferente é que nos faz semelhantes uns aos outros e que eu só posso respeitar a minha própria diferença respeitando a diferença do outro. (Zygmunt Bauman)

Se os homens não fossem iguais, não poderiam entender-se. Por outro lado, se não fossem dife- rentes, não precisariam nem da palavra, nem da ação para se fazerem entender. Ruídos seriam suficientes para a comunicação de necessidades idênticas e imediatas. (Hannah Arendt)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Festa das Cores!

Quando estava procurando escola para meu filho em São Paulo, 13 anos atrás, fiquei apaixonada por uma delas, depois que ouvi da diretora as seguintes palavras: 

“Não tratamos todos como iguais. Cada indivíduo é diferente e nós identificamos essas diferenças e fazemos com que eles se desenvolvam a partir dos seus próprios talentos e habilidades. Mas temos regras, limites e um plano de estudo que deve ser seguido. Trata-se de um trabalho árduo e por isso as turmas são pequenas”.

Ele estudou lá 5 anos. Quando passou da pré-escola para o ensino fundamental houve uma celebração. Não uma formatura da pré-escola como é comum na escolas atuais. O que teve foi o que eles chamam de Festa das Cores. Cada criança deveria escolher uma cor e naquele dia ela e sua família deveriam comparecer a festa com a cor escolhida. O palco era uma arena que foi montada no pátio da escola que é de “chão batido”. Olhando para a platéia você entendia porque a chamavam de festa das cores. As crianças escolhiam se queriam dançar, cantar, recitar poesias ou tocar algum instrumento e ensaiaram durante algumas semanas. Não houve uma medalha para o aluno mais brilhante, nem uma menção a nada que fosse maior ou melhor. Isso simplesmente não existia lá. Houve um grande show, harmônico e emocionante. Os professores não fizeram o tipo “faça o que seu mestre mandar” na frente da turma. Eles tocavam, dançavam e cantavam juntos e integrados aos alunos. Nunca na minha vida fui a um evento mais emocionante. Não apenas por ter sido algo relacionado ao meu filho, mas também por ter compreendido, naquele momento, cada palavra do que a diretora havia me dito anos atrás e por me sentir grata em poder vivenciar este aprendizado. 

Quando ele resolveu mudar de escola fiquei chateada porque, para mim, aquele era o lugar perfeito para a educação dele. Eu queria ter estudado lá! Mas foi a própria escola que me ensinou a respeitar o direito do meu filho de querer algo diferente do que eu gostaria. Ele mudou para uma escola bem mais tradicional e este ano termina o ensino médio lá. Foi uma ótima escolha para ele, afinal. Mas certamente os anos passados na escola anterior fez a base para ele ser a pessoa que é hoje. Um homem, moço, que entende e aceita o que é diferente dele. 

Cada vez que  me conecto com o conceito de isonomia, colocado pelo Projeto Uno no Movimentos Humanos me vem a cabeça esta Escola e tudo que ela fez pelo meu filho. O olhar sob o indivíduo como um ser único, não apenas como um número impresso numa chamada escolar fez com que eu entendesse, claramente, o que é esta tal isonomia e como o mundo pode ser cada vez mais colorido se conseguirmos  introduzir este conceito em nossas vidas.

E assim, será.



segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Isonomia sim. Igualdade nem sempre.

Quando escolhemos qual nome dar ao Movimento Humano ligado ao Novo Poder, a primeira palavra que veio foi Poder Igualitário. Tem se falado muito em igualdade numa tentativa de diminuir as diferenças mas aprendi há muitos anos, que a igualdade pode encobrir a não aceitação das diferenças.

Eu não deveria pensar que todos são iguais - no sentido de similitude - para respeitar. Eu devo respeitar todos, inclusive os diferentes. Posso não querer conviver e muito menos concordar; inclusive posso expressar meu descontentamento ou minha discordância mas cada um tem o direito de ser, agir e pensar como quiser dentro da lei aprovada pela maioria - pelo menos numa democracia.  

Por outro lado, tampouco acredito na igualdade no sentido estrito da palavra, porque cada ser humano é diferente, tem sua própria história, suas alegrias e suas dores. Evidente que isso não justifica atitudes negativas, raivosas, que fazem mal, por isso considero que a liberdade de ser como se quiser tem que estar subordinada a lei que, queiramos ou não, rege o país que escolhemos viver.

Prefiro o termo isonomia a igualdade porque seu sentido é de "igualdade de todos perante a lei". Acredito que isso seja o que a maioria quer dizer quando diz igualdade.  Parece um jogo de palavras mas entendermos o sentido da isonomia, ajuda a compreender o Novo Poder que começa a se configurar nas pequenas atitudes e escolhas das pessoas comuns.

Quando penso que o novo poder é um Poder Isonômico, significa que a mudança profunda está exatamente no respeito e valorização às diferenças de forma igualitária. É uma mudança de raciocínio que sei, irá levar bons anos para se consolidar. Ainda queremos que todos pensem como a gente, que nossa verdade seja A verdade. Que nossa raça, escolhas, nacionalidade, gênero, etc. sejam os melhores. Enfim, ainda queremos vencer mesmo que seja nos campo das idéias como se tudo fosse uma guerra. A nossa vitória, ainda está atrelada a um vencido. Isso aplaca a insegurança da escolha e afirma que nós estamos certos. Perante o status quo.

O Poder Isonômico, precisa cada vez menos, ou nada na sua perfeição, da confirmação do outro. Nele a comparação é menor. Todos estão certos, sob seus pontos de vista. A troca de ideia é uma troca, que alimenta e modifica ambos os lados sem haver ganhador e perdedor. No Poder Isonômico, todos ganham com a troca.

Eu sei que parece utópico, mas pequenos sinais desse movimento já estão fluindo no nosso dia-a-dia e é sobre isto que iremos falar esta semana. 

Boa semana todos!



quinta-feira, 17 de abril de 2014

Nelson Rodrigues entendeu tudo

Tempos atrás fui com uma amiga buscar uma encomenda na casa de uma senhora (amiga das antigas da sua mãe). Era um sábado, logo após o almoço, e a vila simpática em que morava estava um silêncio só.  Ela  veio nos receber feliz e amorosa, mas falando bem baixinho, quase sussurrando. 

Quando entramos ela fez sinal para falarmos como ela, pois "ele" estava dormindo. Intuí que "ele" era um netinho e comecei a falar bem baixinho, afinal, não queria acordar o pequeno. Sentamos na sala e entre uma conversa e outra, ela falava algo "dele". 

Ele anda tão fraquinho. Ele não come mais como antigamente. Ele... ah...coitadinho

Comecei a ficar com o coração apertado pensando se tratar de uma criança doentinha. Então "ele acordou". Veio andando sozinho do quarto. Mas para minha surpresa "ele" era o marido dela! 

Ela, aliás, enquanto eu me surpreendia, já estava na cozinha preparando um café, para ele, claro. Enquanto isso o senhor atravessou a sala arrastando os chinelos, nos cumprimentou à distância, sentou-se confortavelmente numa poltrona e ligou a TV. Parecia um rei em seu trono. 

Ela serviu o café. Ele perguntou se não tinha bolo. Ela mais do que depressa lhe trouxe uma generosa fatia de bolo. Quando percebeu que ele havia se acalmado, voltou para a sala e gentilmente nos ofereceu café e bolo. Mas já não era mais aquela senhora falante e relaxada. Uma tensão se estabeleceu no ar e a visita encerrou-se rapidamente.

Sempre quando lembro desta história penso que poderia se tratar de uma peça de Nelson Rodrigues. Mas hoje, depois de uma longa conversa com a Nany, eu entendi que o comportamento deste casal não é exatamente um conto e sim, uma realidade bem comum. Sabe-se lá por que, mas nós mulheres, tendemos a apoiar esta situação do homem tão fraquinho, desamparado, tão coitadinho. E não acontece só com casais mais velhos não. Nunca havia me dado conta até hoje, mas é muito comum mesmo, inclusive com casais mais jovens. Tenho amigas que tratam os seus maridos como filhos frágeis. Sempre existe um motivo.

Coitado! trabalha tão longe. Coitado! está doente. Coitado! sofreu tanto naquela firma. Tadinho! Ele sai tão cedo de casa que eu nem me chateio de acordou UMA HORA antes que ele para fazer uma comidinha para ele levar.

Não estou falando de mulheres dependentes não. Estou narrando casos de mulheres fortes e decididas, porém dispostas a fazer concessões de todos os tipos em nome do companheiro tão "coitadinho". Não é à toa que "concessão" é um substantivo feminino!

Fico confusa com isso. Nós reclamamos tanto dos homens bobões, sem atitudes, incapazes e, no entanto, o achamos coitadinhos? Estranho, não? Será que não é hora de deixarmos nossos rapazes caminharem com mais autonomia e atitude? 

Fiquei aqui pensando que seria legal se o senhor acordasse um dia desses e, simplesmente, a amiga da minha amiga tivesse se evaporado, sem deixar nem um bilhetinho explicando o sumiço. Será que ele faria o seu próprio café? Bolo eu tenho quase certeza que não faria. Nelson Rodrigues, eu creio, iria divertir-se com essa virada de mesa da senhora. E eu também!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Poupamos homens por que os consideramos mais fracos? Reflexões sobre a educação de nossos filhos

Sem dúvida temos falado nas últimas semanas sobre temas espinhosos para os relacionamentos amorosos mulher-homem. O objetivo é gerar reflexão sobre nosso comportamento e compreender que uma crise na relação tem responsabilidade em ambos. Um comportamento alimenta o outro. Para mudar, é necessário alterar o que pertence ao nosso comportamento que alimenta o circuito negativo do casal. Não adianta olhar somente para o que o outro está fazendo. É mais produtivo e saudável olhar e refletir sobre a única coisa que temos controle: nosso comportamento.

Esta semana vamos aprofundar no tema da semana passada: a atitude masculina em relação a não assumir suas responsabilidades, em muitos casos, ancorado na quase adolescente atitude de querer fazer o gosta e não no que que deve. De onde vem esta atitude?

Compreendemos durante os Projetos Mulheres e Homens conduzido pela Behavior que existem dois principais motivos para isso acontecer: o primeiro, mais antigo e profundo é que os homens são criados para terem direitos "especiais". Há uma crença que nos invade e permanece, que o homem ocupa - e merece ocupar - um lugar de destaque na sociedade. Por mais que nós mulheres, lutemos contra isso nas nossas relações afetivas, tenho entendido que na hora que somos mães transmitimos essa crença mesmo que sem dar-nos conta. Por que criamos filhos homens diferentes das filhas mulheres? Por que poupamos nossos filhos dos trabalhos e das obrigações de pertencer a uma família? Por que incentivamos na menina o desejo de superação e responsabilidade e com os homens somos mais condescendentes? Por que, ainda hoje?

O outro motivo é uma crença tão daninha quanto a outra, que considera o homem mais fraco que as mulheres, mais frágil. Todos podem dizer que "imagina!" mas pense bem: porque poupamos o homem dos trabalhos chatos, pesados, sensíveis, difíceis? Porque as mulheres podem encarar vários desafios e dar conta e esses mesmos desafios o evitamos para os homens?

Considero que há uma certa desconfiança que o homem irá dar conta. Essa crença vem desde a criação dos pais. Pais sempre poupam e protegem o filho mais fraco. Mesmo que inconscientemente. É um instinto natural de preservação, mas peço para refletir sob a seguinte ótica: essa proteção reforça a crença em todo o núcleo familiar da fraqueza do poupado. Ninguém fala disso, mas todos no fundo no coração, sentem. Criar um filho confirmando sua franqueza, ainda pelos próprios pais, podem ter certeza que irá definir boa parte de seu destino.

Muitos filhos homens são criados sob a sina do ser o mais fraco em relação as irmãs. Eles ganham na ilusão do ego a sua base de autoestima. Tornam-se vaidosos e condescendentes consigo mesmos. Se acham reis de um reino ilusório e vivem a vida achando que a vida lhes deve e que devem fazer só o que gostam. 

Por verem quanto os pais permitem tudo - ou quase tudo deles - confirmando sua fraqueza - vão assim alimentando a falsidade de sua identidade. A vaidade neste caso, no fundo, entendo eu, guarda uma profunda dor de se crer o pior - reforçado pelos próprios pais e o núcleo familiar mais próximo.

Aos fracos deveríamos dar vitaminas e expor, com cuidado, mas consistentemente. Ir empurrando à vida, para ele próprio ganhar autoestima e autoconfiança verdadeira, embasada no seu valor. Confie no seu filho e deixe ele voar. Deixe ele ter os arranhões que a vida dá mas que são importantes para conseguirmos nos saber fortes e vencedores. Faça ele assumir suas responsabilidades e pagar os preço de suas escolhas. Enfim, deixe ele crescer. 

Há algum tempo vi no meu jardim uma cena que me trouxe claramente essa reflexão: um passarinho muito pequeno chegou numa árvore através de um vôo descontrolado e incerto. Ele se balançava no galho com notável instabilidade. Logo em seguida chegou a mãe. Eles piavam sem parar. A mãe balançava o corpo como mostrando ao filhote e se lançava no ar. O filhote balançava mas não se soltava do galho. A mãe voltava e fazia tudo de novo. Foi assim umas três, quatro vezes e o filhote nada de voar. Até que na última vez ela fez o movimento de sempre e esperou, ao ver que o filho só se balançava e não soltava as garras do galho, sem duvidar, o empurrou. O filhote saiu voando quase que em queda livre. A mãe ao lado acompanhava a queda piando. Até que perto do chão - bem perto para meu desespero - ele conseguiu bater as asas firmemente e subir em direção à liberdade. 

O filhote poderia ter morrido na queda, mas a mãe sabe que se ele não aprender a voar, ele irá morrer de qualquer maneira rapidamente. Isso, para mim, é uma grande demonstração de amor. Confie no seu filho, no seu homem. Faça isso por ele e por você.

Boa semana, boa Páscoa para todos. Que este renascimento de Cristo, independente da sua crença religiosa, traga o fortalecimento do amor incondicional em você.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pressão, sim. Surto não.

Ontem eu assisti a dois programas e, por coincidência (ou não), vi cenas de como homens e mulheres lidam com a pressão de formas tão diferente. 

No primeiro programa, chamado, Tudo por Um Lar, que estreou ontem na Discovery Home&Health, duplas de decoradores amadores têm o desafio de decorar uma casa enorme. A cada novo episódio, uma peça da casa tem que ser arrumada. Ontem o desafio era fazer a suíte principal usando o tema glamour e eles tinha 15 horas para fazer isso (incluindo pensar no projeto e fazer todas as compras necessárias). Uma das duplas, formada por um homem e uma mulher, começaram o trabalho de forma harmônica enquanto pensaram o projeto e foram as compras. Mas na hora de colocar a mão na massa ficou bem claro que ia pegar fogo. Enquanto a moça fazia tudo muito rápido e estava bem focada, o rapaz era mais lento e disperso. Lá pelas tantas as menina simplesmente perdeu a paciência e começou a gritar loucamente com o menino que apenas ria e dizia: "se perder tempo em discutir com você agora, não terminamos o quarto". E quanto mais ele ria e se mostrava indiferente, mais ela se alterava a ponto de perder completamente a razão. Para quem assistia ao programa, parecia mesmo uma pessoa desequilibrada. O interessante é que o projeto deles foi um dos que os jurados mais gostaram e, realmente, até para quem não entende nada sobre o assunto como eu, deu para ver que o quarto ficou um arraso. 

No outro programa, também da Discovery H&H, chamado Irmãos à Obra, um casal está a procura de uma casa para comprar. Os irmãos (gêmeos) que dão nome ao programa, vão em busca de uma casa para eles. Um deles é corretor e o outro empreiteiro. A intenção é convencer o casal interessado que a casa dos sonhos só é possível se comprar um imóvel que precisa de reforma. O casal do programa de ontem eram judeus e uma das exigências é que a casa tivesse uma cozinha kosher (com duas bancadas para manipular laticínios em uma e carne em outra, pois para os judeus estas duas categorias de alimentos não podem ser misturadas). Eles eram muito simpáticos e super tranquilos. Um casal bem amável e diferente dos outros programas que já assisti, onde as pessoas eram bem mais enérgicas. Apesar do estilo doce, após negociada a casa e iniciada a reforma, descobre-se canos na sala da casa, justamente onde eles quebraram uma parede. É um grande problema, mas Jonathan, o irmão empreiteiro, acostumado com isso, não dá muita bola para o assunto. O marido também parece lidar bem com a situação, tentando achar um caminho alternativo. A mulher, no entanto, fica bem transtornada, estressada, querendo explicações loucas e pressionando muito - o que pode atrasar a obra já que é hora de resolver e não de discutir por que ninguém viu isso antes.


Achei engraçado porque em ambos os casos vi claramente as situações que estamos abordando esta semana: homens divertindo-se "irritantemente" durante o percurso e mulheres estressadas. O ineterssante é que, em  ambos os casos, as mulheres tinham razão nas suas colocações, mas a forma raivosa como reagiram é que atrapalhou tudo. 

Me vez pensar que este lado mais sério e firme da mulher não é de todo mal. Pelo contrário! Muitas vezes é isso que faz a vida de um casal andar, por exemplo. O que precisamos, me parece, é apenas nos acalmar, respirar fundo, tomar um chazinho e reagir com um pouco mais de discernimento. Sei que é difícil e que muitas vezes os meninos nos deixam loucas com suas reações de tranquilidade absoluta. Mas pensa bem: o estresse gera toxinas que fazem mal e nos deixam prejudicadas até fisicamente. Então não vale a pena perder a nossa beleza, não é mesmo?

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Mãe é chata: manda tomar banho. Pai é legal: joga video game.

Uma das frases que mais ouvi do meu pai a vida toda foi: “não sofra por antecipação”. Às vezes eu retrucava dizendo: “então me ensina a fazer isso”. Ele dava uma risadinha e dizia: “simplesmente não sofra”. 

No fundo eu tenho a impressão que ele sabia que era impossível ensinar isso para uma mulher. Pensando sobre o assunto, e olhando alguns exemplos do dia a dia, me vem a cabeça que juntar seriedade com leveza é coisa que não veio mesmo no DNA feminino. Eu não tenho nenhum embasamento científico para dizer isso, mas tenho fatos. Normalmente nós, mulheres, encaramos tudo com muita seriedade. No trabalho então…é quase que um pecado corporativo para nós misturarmos o momento de trabalhar com diversão. Não estou falando que a gente não dê risada e não se divirta, mas no fundo, a gente gosta de separar as coisas. É como se para nós tudo tivesse a sua hora. Hora de brincar é de brincar. De trabalhar é de trabalhar e assim por diante.

Isso me faz lembrar um ponto levantado no Projeto Homens. O homem contemporâneo tem estado meio confuso sobre seu papel e um dos lugares onde ele agora encontra um certo canal para ser útil é como pai. Isso porque ele consegue entrar no universo infantil e brincar com seus filhos muito mais do que as mulheres. Fala a verdade, especialmente se você for mãe: brincar com o filho você até brinca, mas não é exatamente aquela coisa de soltar a imaginação, se jogar no chão e se deixar levar. 

Tenho feito algumas pesquisas a respeito, em função de um possível negócio que pretendo lançar e conversando com as mães, elas sempre me dizem que gostam de brincar de pintar, montar kits e coisas assim com os filhos. Ou então ir ao teatro, shows, parques…essas coisas. Poucas mães conseguem realmente se entregar, na verdade. Porque, afinal,  mãe é mãe. É coisa séria. É isso que eu escuto elas falarem ao argumentar sobre o que gostam de fazer com seus filhos.

Ainda não se convenceu? Então me diga: quantas mulheres, na faixa de 30 anos ou mais, curtem video game. Poucas. Bem poucas. Meninas mais novas, amam. Mas mulheres, não gostam. Agora te pergunto: quantos homens na mesma faixa de idade adoram video games? Até os que não têm filhos amam. 

Mas e daí? E daí que a gente deveria começar a praticar um pouco mais a mistura de seriedade e diversão. Rir de si mesma. Descontrair no meio de uma apresentação séria. Dar uns gritos de vez em quando brincando com os filhos de pega-pega dentro de casa. Você vai continuar sendo respeitada e séria do mesmo jeito. Tenha certeza disso! 


No fim das contas, eu fico me perguntando: por que mesmo a gente tem que ficar com esse rótulo de ranzinza e chata enquanto os meninos se divertem?

segunda-feira, 31 de março de 2014

Homens, sempre meninos. Uma leveza a ser reaprendida pelas mulheres.

Continuaremos a falar sobre os homens nesta semana, tema que, nós mulheres, adoramos discutir e tentar entender. Como vimos na semana passada, até onde conseguimos compreender nos projetos que conduzimos, os homens não querem a independência mas a liberdade de viver seus momentos que lhe permita alimentar sua alma: um chopinho com os amigos, jogar uma pelada, dormir sábado a tarde – toda a tarde! – entreter-se com games, viajar de moto para sempre voltar, sempre. Como me disse um dos entrevistados do Projeto Homens, “eu sou feliz, livre, na minha gaiola”.

A mulher se irrita profundamente com esse comportamento masculino. Muita desta irritação tem a ver com a sensação de exclusão do universo dele – como assim ele quer ser feliz sem mim? – apoiada na crença romântica que o casal só pode viver a dois o tempo inteiro. Mas outras vezes, a irritação vem do julgamento de irresponsabilidade que a mulher dá a este tipo de atividades: como assim, você vai se divertir se temos tantas coisas a fazer?

Pois é exatamente aqui que a relação azeda. A mulher possui, no meu entendimento, uma habilidade quase genial de realizar diversas coisas ao mesmo tempo – e neste momento não importa as origens desta habilidade. Com isso ela parece ter a necessidade de arrumar o mundo, e, na medida que vai deixando o mundo como ela acha que deve ser, retroalimenta a percepção que só ela é capaz de deixar o mundo perfeito. É quase uma antena ligada ininterrupta que a deixa tensa, vigiante, quase um fiscal. Estudei toda minha infância e juventude num colégio feminino de freiras, a congregação era francesa; creio que por isso carrego comigo a imagem da madre superiora: severa, vigiante quase um policial. É assim que muitas vezes encontro as mulheres, quando as entrevisto.

Se nesse contexto o homem decide, no meio de uma grande mudança, parar tudo para tomar um chopinho… já dá para imaginar que a Terceira Guerra Mundial está prestes a começar. Sinceramente, penso, que ela não começou ainda porque o homem, acostumou a calar e deixar para lá.

Pois é... mas é através dessa atitude de parar tudo para se dar prazer, e que no fundo transmite leveza, que o homem tem ganhado terreno. Uma característica que aos poucos vai ganhando força e reconhecimento. A mulher tem muito a aprender com esse tempo para si e com essa atitude sempre menino que o homem tem e que nós, na behavior, consideramos dois movimentos humanos importantes que estão integrando o casal.

É claro, homens, que essa atitude não pode disfarçar, como em muitos casos, irresponsabilidade e se tornar uma fuga para não enfrentar os desafios da vida e amadurecer. Mas esse é tema de outra semana.

Vamos refletir sobre isso esta semana?

Boa semana para todos.

terça-feira, 25 de março de 2014

os homens querem: liberdade sim, independência não.

Existem algumas crenças em relação ao universo masculino que por estarem tão cristalizadas, geram ruídos nos relacionamentos, só por existirem. Após o Projeto Homens, compreendemos que algumas delas são mais simples de compreender e administrar do que nossa mente quer nos fazer crer. 

Esta semana iremos falar sobre uma delas: a liberdade que o homem disse tanto querer (e ter direito). A reivindicação da liberdade masculina já deve ter gerado alguns bons estresses e até rompimentos. Cada um com sua razão: o homem considerando que tem todo o direito de ser um ser livre, e isso lhe permite a irresponsabilidade; e a mulher que traz consigo a crença que ela sempre será presa - sim, exatamente o oposto - às responsabilidades que deveriam ser compartilhadas. Esta montado o cenário para brigas e ressentimentos.

O que descobrimos no Projeto Homens é que o sentido de liberdade do homem não é o mesmo do sentido de liberdade da mulher. Para a mulher, a liberdade está intrinsecamente associada à independência. Isto se deve a outra crença, a mulher pode não querer nem um pouco, mas ela sabe que sobrevive sozinha. O homem, não.

Portanto, o que vimos no Projeto Homem que a liberdade que o homem tanto busca, é o tempo para si. Um tempo para ele viver suas fantasias, se distrair, sossegar, relaxar, ou simplesmente ficar quieto. Sem falar, nem ter que ouvir ou fingir que ouve para evitar brigas.

Só que é só um tempo porque no próximo ele quer continuar dependente - sim, no sentido emocional do conceito - da mulher e da família que ele escolheu.

Eu sei que este tema dá vários assuntos e discussões, por isso aguardem os desdobramentos.

boa semana para todos.

PS. Ando meio indisciplinada nas últimas semanas mas voltarei a iniciar nosso tema semanal do blog nas segundas-ferias, a partir da próxima semana :) 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A boa vontade nos salvará!

A capa da última Revista Época é dedicada a um tema  semelhante ao que escolhemos para dialogar esta semana aqui no blog: Homens & Mulheres - O desafio desta relação. Li a matéria animada em busca de referências, mas ao terminar o texto, a única coisa que vinha a minha cabeça era: Mas será que isso é novidade para alguém? E era preciso uma pesquisa e um livro sobre o assunto? Veja: não estou desprezando nem a matéria, nem o livro, muito menos a pesquisa, mas não posso negar que esperava algo novo. Foi aí que entendi: a questão não é ter uma novidade, e sim, como se lida com o fato.

Mas vamos começar do começo: a pesquisa a que me refiro (e que referenda a matéria da Época) foi desenvolvida por John Gray (autor do famoso best-seller de autoajuda Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus). Foi realizada com 100 mil funcionários de grandes empresas. Sim, o número está correto: 100 mil funcionários! Além disso, Gray contou com a parceria de Barbara Annis, consultora famosa por resolver conflitos entre homens e mulheres em governos e grandes empresas (segundo a Revista Época). E mais: a dupla passou 25 anos estudando o assunto, enquanto viajavam pelo mundo fazendo oficinas, palestras e workshops. Vieram ao Brasil algumas vezes e estiveram também na Índia, Japão, Estados Unidos e Europa.  No fim das contas lançaram um livro que, no Brasil, ganhou o título Trabalhando Juntos. Portanto, depois de tanto estudo, e de confirmar seus aprendizados tantas vezes no campo, eu não posso, simplesmente achar, que tudo que eles se dispõem a ensinar não tem valor. 

Mas convenhamos, a conclusão que os dois pesquisadores trazem no livro, em resumo, é que os motivos para tantos desentendimentos está baseado em alguns pontos cegos - uma alusão aos retrovisores dos carros que nem sempre mostram aos motoristas tudo o que precisam ver, ou seja, a mente masculina na maioria das vezes não repara em ações que incomodam profundamente as mulheres e vice-versa. Muito bem. Gostei disso. Mas veja quais são os 8 "pontos cegos" mais comuns, resumidos em uma frase:

ELAS falam demais
ELES não ouvem as mulheres
ELAS querem mudar os homens
ELAS se sentem excluídas
ELES têm medo de falar com elas
ELES não valorizam as mulheres
ELAS são muito emotivas
ELES são insensíveis

Sério? Me fala uma coisa: tem algo nestas afirmações que você, seja homem, seja mulher, já não sabia? E sabe qual é, também de forma bem sucinta, o conselho para exterminar cada um dos conflitos? DIÁLOGO!  

Ok! Estou sendo irônica! Mas é muito maluco ver como é difícil para nós, humanos, entendermos algo tão simples. Mais do que isso: é desafiador tomar uma atitude sensata, baseada no bom senso e amor ao próximo, quando se trata das diferenças entre os gêneros. Seja no ambiente profissional ou não.

Mas tem uma frase do John Gray na matéria que eu gostei muito e que pode servir como ponto focal para todos nós “homens e mulheres sempre serão diferentes. O nosso objetivo não é tentarmos ser iguais, mas entender as diferenças, respeitá-las e, juntos, criar algo melhor”. Lindo não? Eu acredito nisso. 

Já a Barbara Annis disse: “Não saber como, e por que, homens e mulheres pensam e agem faz com que os pontos cegos venham à tona”. Cá entre nós...não é possível que seja tão difícil enxergar as diferenças, não é? Será que estou sendo otimista demais? Pode ser. Mas, para mim, parece que o que falta mesmo, na prática, muitas vezes é só boa-vontade! De ambas as partes.

É o que os autores do livro, mais simpáticos do que eu, chamaram de “inteligência do gênero: conhecer as diferenças entre a mente masculina e feminina e LEMBRAR essas diferenças na hora de interagir com o sexo oposto”.  Resumindo: boa-vontade!