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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Poupamos homens por que os consideramos mais fracos? Reflexões sobre a educação de nossos filhos

Sem dúvida temos falado nas últimas semanas sobre temas espinhosos para os relacionamentos amorosos mulher-homem. O objetivo é gerar reflexão sobre nosso comportamento e compreender que uma crise na relação tem responsabilidade em ambos. Um comportamento alimenta o outro. Para mudar, é necessário alterar o que pertence ao nosso comportamento que alimenta o circuito negativo do casal. Não adianta olhar somente para o que o outro está fazendo. É mais produtivo e saudável olhar e refletir sobre a única coisa que temos controle: nosso comportamento.

Esta semana vamos aprofundar no tema da semana passada: a atitude masculina em relação a não assumir suas responsabilidades, em muitos casos, ancorado na quase adolescente atitude de querer fazer o gosta e não no que que deve. De onde vem esta atitude?

Compreendemos durante os Projetos Mulheres e Homens conduzido pela Behavior que existem dois principais motivos para isso acontecer: o primeiro, mais antigo e profundo é que os homens são criados para terem direitos "especiais". Há uma crença que nos invade e permanece, que o homem ocupa - e merece ocupar - um lugar de destaque na sociedade. Por mais que nós mulheres, lutemos contra isso nas nossas relações afetivas, tenho entendido que na hora que somos mães transmitimos essa crença mesmo que sem dar-nos conta. Por que criamos filhos homens diferentes das filhas mulheres? Por que poupamos nossos filhos dos trabalhos e das obrigações de pertencer a uma família? Por que incentivamos na menina o desejo de superação e responsabilidade e com os homens somos mais condescendentes? Por que, ainda hoje?

O outro motivo é uma crença tão daninha quanto a outra, que considera o homem mais fraco que as mulheres, mais frágil. Todos podem dizer que "imagina!" mas pense bem: porque poupamos o homem dos trabalhos chatos, pesados, sensíveis, difíceis? Porque as mulheres podem encarar vários desafios e dar conta e esses mesmos desafios o evitamos para os homens?

Considero que há uma certa desconfiança que o homem irá dar conta. Essa crença vem desde a criação dos pais. Pais sempre poupam e protegem o filho mais fraco. Mesmo que inconscientemente. É um instinto natural de preservação, mas peço para refletir sob a seguinte ótica: essa proteção reforça a crença em todo o núcleo familiar da fraqueza do poupado. Ninguém fala disso, mas todos no fundo no coração, sentem. Criar um filho confirmando sua franqueza, ainda pelos próprios pais, podem ter certeza que irá definir boa parte de seu destino.

Muitos filhos homens são criados sob a sina do ser o mais fraco em relação as irmãs. Eles ganham na ilusão do ego a sua base de autoestima. Tornam-se vaidosos e condescendentes consigo mesmos. Se acham reis de um reino ilusório e vivem a vida achando que a vida lhes deve e que devem fazer só o que gostam. 

Por verem quanto os pais permitem tudo - ou quase tudo deles - confirmando sua fraqueza - vão assim alimentando a falsidade de sua identidade. A vaidade neste caso, no fundo, entendo eu, guarda uma profunda dor de se crer o pior - reforçado pelos próprios pais e o núcleo familiar mais próximo.

Aos fracos deveríamos dar vitaminas e expor, com cuidado, mas consistentemente. Ir empurrando à vida, para ele próprio ganhar autoestima e autoconfiança verdadeira, embasada no seu valor. Confie no seu filho e deixe ele voar. Deixe ele ter os arranhões que a vida dá mas que são importantes para conseguirmos nos saber fortes e vencedores. Faça ele assumir suas responsabilidades e pagar os preço de suas escolhas. Enfim, deixe ele crescer. 

Há algum tempo vi no meu jardim uma cena que me trouxe claramente essa reflexão: um passarinho muito pequeno chegou numa árvore através de um vôo descontrolado e incerto. Ele se balançava no galho com notável instabilidade. Logo em seguida chegou a mãe. Eles piavam sem parar. A mãe balançava o corpo como mostrando ao filhote e se lançava no ar. O filhote balançava mas não se soltava do galho. A mãe voltava e fazia tudo de novo. Foi assim umas três, quatro vezes e o filhote nada de voar. Até que na última vez ela fez o movimento de sempre e esperou, ao ver que o filho só se balançava e não soltava as garras do galho, sem duvidar, o empurrou. O filhote saiu voando quase que em queda livre. A mãe ao lado acompanhava a queda piando. Até que perto do chão - bem perto para meu desespero - ele conseguiu bater as asas firmemente e subir em direção à liberdade. 

O filhote poderia ter morrido na queda, mas a mãe sabe que se ele não aprender a voar, ele irá morrer de qualquer maneira rapidamente. Isso, para mim, é uma grande demonstração de amor. Confie no seu filho, no seu homem. Faça isso por ele e por você.

Boa semana, boa Páscoa para todos. Que este renascimento de Cristo, independente da sua crença religiosa, traga o fortalecimento do amor incondicional em você.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Filhas e filhos: as verdadeiras diferenças


Quero começar com trechos de cartas escritas por pais e endereçadas a Mariateresa Zattoni e Gilberto Gillini. As mesmas foram transformadas em temas do livro escrito por eles com o título original  I Genitori si interrogano (tradução brasileira: Os pais se perguntam... A narração como proposta de mudança).  Lá vai:


(...) Ainda bem que tenho Davi, meu filhão de dez anos. Carmela, de oito, é farinha de outro saco. Não liga para nada, é preguiçosa, não move uma palha por ninguém. Já Davi é muito sensível, inteligente, é meu consolo. Pedi a Deus um filho como ele e fui atendida.

Tenho um filho de dez anos, Eugênio, que para mim transformou-se num transtorno, no sentido que vivo mal comigo mesma por causa dele. Entre outras coisas, há um ano e meio dei à luz a sua irmãzinha, que cresce bem alegre, o oposto dele, coitadinho. (...) . Desde que a irmã nasceu ele fica o máximo de tempo fora de casa. Sei porque age assim; é para não ver a alegria de Ana Rosa, que cresce como uma flor. (...) Minha preocupação é que só eu entendo o que Eugênio sente e não mais sei o que fazer para ajudá-lo.

Minha filha Silvia está me levando a loucura. Não posso reclamar de nada, nem do colégio, porque este ano, como das outras vezes, chegará em casa aprovada. Não faço outra coisa a não atender à suas ordens. (...) Cansei de lhe dizer que tenho minhas exigências e que ela tem que aprender a respeitá-las, pois já está crescida e poderia muito bem ajudar um pouco em casa e não se sentar a mesa e torcer o nariz.

Que um simples pai azulejista com um uma professora muita ativa resolva pegar a caneta e escrever-lhe pode parecer um absurdo. Mas sinto-me exasperado. “Se você vive descascando laranja para ele, o que vai fazer da vida sozinho”, digo a ela, às vezes.




Ontem falamos que diversas questões que levam os pais a gostar de forma diferente de um filho para outro e a maioria das histórias acima comprova exatamente isso, usando exemplos muito práticos sobre o tema. Mas algo muito mais preocupante aparece como similares nos diferentes relatos. Você consegue perceber? Sim, todas as narrações falam de filhos (homens) coitadinhos e no, contraponto, temos filhas (mulheres) que são “farinhas de outro saco”- arrogantes e egoístas.

Não é a primeira vez que abordamos este tema, (vide Filhos hoje, homens amanhã e  Amor de mães e filhas, um delicado equilíbrio), mas sempre me impressiono com os relatos que ouvimos nos diálogos do projeto Movimentos Humanos. O tema, como sempre menciono, gera discussões fortes e polêmicas. As mulheres, principal e invariavelmente, falam das diferenças de criação entre elas e seus irmãos homens. É inegável que se trata de um padrão.

Sempre falo que filhos não vêm com manual de instrução e certamente não é possível acertar sempre no que diz respeito a educação. Mas é impressionante ver como mães não conseguem perceber o que fazem com seus filhos, que mais tarde viram exatamente os homens que tanto rejeitamos. Assim como também me parece estranho mães agindo como adolescentes perante as filhas, numa grande queda de braço para decidir quem tem poder nesta relação.

A grande lição que tiro de histórias como as que ilustram o início do texto é como cada indivíduo faz parte do sistema familiar em que está inserido. A experiência que cada um terá nesse sistema vai acompanhá-lo vida afora. Que grande responsabilidade! Mas não há como fugir. É uma relação tão entrelaçada entre os indivíduos que nelas sem encontram, seja na função de pais ou de filhos – ou mesmo ambas, que não há outro caminho se não conviver com ela (seja encarando o assunto, seja deixando guardado debaixo do tapete). Obviamente profissionais qualificados podem ajudar. Literaturas especializadas e com boa reputação também! Mas só nossos corações podem nos dizer e aceitar, humildemente, que precisamos entender para mudar o curso da relação pais e filhos. É trabalhoso, puxado e depende muito do quanto conhecemos a nós mesmos.

Mas é muito bom pensar que meninas podem crescer fortes e com estima equilibrada se encontrar na mãe uma autoridade e não uma autoritária que entra na sua energia competitiva. E o meninos? Ah! Os meninos! Que mundo maravilhoso pode se abrir para eles, um novo tempo mesmo, em que possam viver sem a sombra de ter que ser os machos provedores ou molengas bobos sem personalidade. Depende de nós, pais de hoje, que isso aconteça.