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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A medida da autoridade


Outro dia meu filho me deu uma grande bronca porque eu e meus irmãos não conseguimos fazer minha mãe ir ao médico. Soube que meu sobrinho havia feito a mesma coisa com meu irmão. Respondi que não era tão simples assim e perguntei o que ele imaginava que poderíamos fazer? Obrigá-la? Levá-la a força? Ele me respondeu: “Faça como você faz comigo: às vezes eu não quero ir num lugar e você me diz que, neste assunto, não tem espaço para discussão. Eu não quero ir, mas vou”.

Apesar do assunto ser a minha mãe – e estar levando muito a sério a reclamação dele, por alguns segundos, me dei o direito de respirar aliviada. A resposta dele indicava que existe um respeito conquistado por meio da minha autoridade como mãe. Autoridade, eu disse. Autoritarismo é outra coisa. Aliás não estaríamos tendo a conversa que narrei acima se eu fosse uma figura autoritária para ele. Confesso que uma dos maiores dilemas que enfrento como mãe é saber a medida certa entre o diálogo, a negociação e o limite. Existe sempre uma briga interna dentro de mim entre o ceder e o limitar. Portanto, saber que temos este equilíbrio é muito bom. Sempre peço discernimento ao universo para que este caminho continue assim.

Também sempre tive nos meus pais a figura de autoridade, embora não tivesse a metade da coragem do meu filho em questionar. Mas só percebi o quanto a autoridade dos meus pais era um porto seguro para mim, quando de fato perdi isso. Foi muito dolorido, mas vou tentar descrever: sempre busquei na minha mãe uma conselheira. Ela é (era) enérgica, firme, uma mulher até bem mais agressiva do que eu. Mas o outro lado desta mulher é a proteção e o grande coração aberto para acolher os filhos. Era muito bom buscar nela o conforto para os meus dilemas. Porém, há uns três anos atrás, passei por uma destas dificuldades que temos como nossos filhos no início da adolescência e, pela primeira vez, recorrer a minha mãe não adiantaria de nada. Ela está doente, uma doença que escurece a mente, que a deixa longe do presente. Me dei conta que não tinha mais como contar com minha mãe para amenizar o medo que estava sentindo daquele momento. Foi difícil para mim aceitar.

O que me confortou, depois de aceitar esta nova condição, foi o fato de saber que o exemplo dela existia dentro de mim e ele poderia me guiar para encontrar o próprio equilíbrio entre eu e meu filho. Não é a mesma coisa, mas já era muita coisa. Digo isso porque tenho muito amigos que não tiveram isso. Muitos tiveram pais bem mais amigos que os meus, companheiros que aparentemente se afinavam muito mais do que eu e minha mãe, por exemplo. Quando era jovem até sentia uma certa inveja disso. Mas hoje reconheço que prefiro ter a figura de pais que souberam impor limites a pais que era amigões de “farra” comigo.

É difícil ter esta dimensão porque me considero amiga do meu filho. Me sinto aberta e disposta a dialogar com ele. Quero compreender seu ponto de vista e quero poder ter ele presente em minha vida. Mas isso não significa que quero e, principalmente, que saberei tudo da sua vida. Como adolescente que é sei a importância do seu espaço e respeito muito isso. Também não significa que ele possa fazer tudo que queira.

E quanto a minha mãe e a cobrança dos netos para que eu e meus irmãos sejamos mais enérgicos com ela?  Pois a outra via dessa estrada, confesso, que ainda estamos aprendendo a fazer. É bem difícil obrigar aquela mulher teimosa a fazer qualquer coisa a contragosto. Estamos buscando o melhor caminho e somos aprendiz. Nossos filhos, ao que parece, estão nos ensinando algumas coisas  com a atitude linda de querer proteger a “vorinha” – que é como eles chamam minha mãe. Lindo, não? Difícil, porém lindo.

Vorinho e vorinha! Assim, carinhosamente, meu filho e meus sobrinhos
 chamam meus pais.  O desenho foi feito pelo meu sobrinho Gustavo Malucelli
 e está num quadro de anotações, no escritório do meu pai já faz quase 10 anos.
 Ele nunca deixou que apagassem.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Filhas e filhos: as verdadeiras diferenças


Quero começar com trechos de cartas escritas por pais e endereçadas a Mariateresa Zattoni e Gilberto Gillini. As mesmas foram transformadas em temas do livro escrito por eles com o título original  I Genitori si interrogano (tradução brasileira: Os pais se perguntam... A narração como proposta de mudança).  Lá vai:


(...) Ainda bem que tenho Davi, meu filhão de dez anos. Carmela, de oito, é farinha de outro saco. Não liga para nada, é preguiçosa, não move uma palha por ninguém. Já Davi é muito sensível, inteligente, é meu consolo. Pedi a Deus um filho como ele e fui atendida.

Tenho um filho de dez anos, Eugênio, que para mim transformou-se num transtorno, no sentido que vivo mal comigo mesma por causa dele. Entre outras coisas, há um ano e meio dei à luz a sua irmãzinha, que cresce bem alegre, o oposto dele, coitadinho. (...) . Desde que a irmã nasceu ele fica o máximo de tempo fora de casa. Sei porque age assim; é para não ver a alegria de Ana Rosa, que cresce como uma flor. (...) Minha preocupação é que só eu entendo o que Eugênio sente e não mais sei o que fazer para ajudá-lo.

Minha filha Silvia está me levando a loucura. Não posso reclamar de nada, nem do colégio, porque este ano, como das outras vezes, chegará em casa aprovada. Não faço outra coisa a não atender à suas ordens. (...) Cansei de lhe dizer que tenho minhas exigências e que ela tem que aprender a respeitá-las, pois já está crescida e poderia muito bem ajudar um pouco em casa e não se sentar a mesa e torcer o nariz.

Que um simples pai azulejista com um uma professora muita ativa resolva pegar a caneta e escrever-lhe pode parecer um absurdo. Mas sinto-me exasperado. “Se você vive descascando laranja para ele, o que vai fazer da vida sozinho”, digo a ela, às vezes.




Ontem falamos que diversas questões que levam os pais a gostar de forma diferente de um filho para outro e a maioria das histórias acima comprova exatamente isso, usando exemplos muito práticos sobre o tema. Mas algo muito mais preocupante aparece como similares nos diferentes relatos. Você consegue perceber? Sim, todas as narrações falam de filhos (homens) coitadinhos e no, contraponto, temos filhas (mulheres) que são “farinhas de outro saco”- arrogantes e egoístas.

Não é a primeira vez que abordamos este tema, (vide Filhos hoje, homens amanhã e  Amor de mães e filhas, um delicado equilíbrio), mas sempre me impressiono com os relatos que ouvimos nos diálogos do projeto Movimentos Humanos. O tema, como sempre menciono, gera discussões fortes e polêmicas. As mulheres, principal e invariavelmente, falam das diferenças de criação entre elas e seus irmãos homens. É inegável que se trata de um padrão.

Sempre falo que filhos não vêm com manual de instrução e certamente não é possível acertar sempre no que diz respeito a educação. Mas é impressionante ver como mães não conseguem perceber o que fazem com seus filhos, que mais tarde viram exatamente os homens que tanto rejeitamos. Assim como também me parece estranho mães agindo como adolescentes perante as filhas, numa grande queda de braço para decidir quem tem poder nesta relação.

A grande lição que tiro de histórias como as que ilustram o início do texto é como cada indivíduo faz parte do sistema familiar em que está inserido. A experiência que cada um terá nesse sistema vai acompanhá-lo vida afora. Que grande responsabilidade! Mas não há como fugir. É uma relação tão entrelaçada entre os indivíduos que nelas sem encontram, seja na função de pais ou de filhos – ou mesmo ambas, que não há outro caminho se não conviver com ela (seja encarando o assunto, seja deixando guardado debaixo do tapete). Obviamente profissionais qualificados podem ajudar. Literaturas especializadas e com boa reputação também! Mas só nossos corações podem nos dizer e aceitar, humildemente, que precisamos entender para mudar o curso da relação pais e filhos. É trabalhoso, puxado e depende muito do quanto conhecemos a nós mesmos.

Mas é muito bom pensar que meninas podem crescer fortes e com estima equilibrada se encontrar na mãe uma autoridade e não uma autoritária que entra na sua energia competitiva. E o meninos? Ah! Os meninos! Que mundo maravilhoso pode se abrir para eles, um novo tempo mesmo, em que possam viver sem a sombra de ter que ser os machos provedores ou molengas bobos sem personalidade. Depende de nós, pais de hoje, que isso aconteça.



domingo, 13 de outubro de 2013

Nossos pais, nossos espelhos para agir melhor.

Uma das coisas que mais me surpreendem nos estudos que realizamos é perceber quanto as pessoas não notam a relevância das crenças paternas e maternas na sua vida e o quanto o exemplo de ambos, os guia.

Entrevisto um número consistente de pessoas ao longo do ano graças aos estudos da behavior. Pessoas comuns ou excepcionais, tanto faz, na hora de falar de si há sempre um grau considerável de ilusão. Engraçado como contam de seus pais e depois da vida deles e acham que estão falando de vidas muito distintas; porém para mim, na maioria dos casos, essas vidas são a releitura moderna da mesma história.

As múltiplas formas de autoconhecimento ajudam a perceber o quanto as crenças familiares e figuras paternas dirigem a nossa vida. Com essa consciência é possível escolher o que iremos incorporar e o que iremos abandonar. Conclui que os mais iludidos são aqueles que acham que se conhecem bastante e não precisam de ajuda. As pessoas que melhor se conhecem, e consequentemente estão mais harmonizadas com elas próprias (leia os posts da semana passada), deixam constantemente a dúvida estabelecida. Sabem que qual uma cebola, a cada descoberta uma camada é retirada mas logo em seguida aparecerá outra. 

Vamos iniciar a semana discutindo um pouco a herança vinda da mãe e do pai. Já discutimos aqui que somos produtos de nossos valores que geraram crenças que conduzem nossas atitudes e atos. Esses valores são transmitido dia a dia, segundo a segundo pelos nossos pais. Incluo aqui aqueles que optaram por abandoar seus filhos. Independente do motivo, estes deixam marcas tão profundas que vejo homens e mulheres tentando superar esse sentimento de abandono por uma vida inteira. 

A visão de mundo que possuímos devemos aos nossos pais ou as figuras que os representam nas nossas vidas. Seguimos essa visão e avaliação do mundo quase que rigorosamente. Alguns de tão apavorados de ser iguais aos seus pais, correm para ser o oposto. Todos tentamos ser o espelho ou negar o espelho. Nossos pais são nossa principal referência.

Pense agora no seus pais. Liste virtudes e defeitos de cada um. Analise as opções que fizeram na vida em relação a família, casamento, filhos, profissão, trabalho, desenvolvimento, crença religiosa... e me diga: o quão próximo ou distante você está? 

Se for corajoso pergunte a três pessoas que o conhecem bem e compare as respostas.
Pense: que tipo de companheiro/ companheira você escolheu? sabe me dizer porque? Lembre, nossas escolhas amorosas refletem muito do que pensamos de nós. Que tipo de trabalho realiza hoje? como lida com as finanças? como lida com a família? com lida com seu lazer?

Quanto mais observamos com lucidez nossos pais, mais poderemos aprender de nós. Poderemos trazer de volta coisas lindas deles que abandonamos pelo caminho só para ser do contra e deixar para atrás crenças que só nos fazem repetir a sina da infelicidade que eles por ventura, carregam.

Para sermos livres e felizes precisamos fazer o exercício do espelho com a história de vida de nossos pais e assim escolher o nosso próprio destino.

Deixo vocês com a foto de minhã mãe, que especialmente nos últimos 2 anos veio perto de mim para eu não fugir do meu espelho.

Boa semana para todos.