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domingo, 13 de outubro de 2013

Nossos pais, nossos espelhos para agir melhor.

Uma das coisas que mais me surpreendem nos estudos que realizamos é perceber quanto as pessoas não notam a relevância das crenças paternas e maternas na sua vida e o quanto o exemplo de ambos, os guia.

Entrevisto um número consistente de pessoas ao longo do ano graças aos estudos da behavior. Pessoas comuns ou excepcionais, tanto faz, na hora de falar de si há sempre um grau considerável de ilusão. Engraçado como contam de seus pais e depois da vida deles e acham que estão falando de vidas muito distintas; porém para mim, na maioria dos casos, essas vidas são a releitura moderna da mesma história.

As múltiplas formas de autoconhecimento ajudam a perceber o quanto as crenças familiares e figuras paternas dirigem a nossa vida. Com essa consciência é possível escolher o que iremos incorporar e o que iremos abandonar. Conclui que os mais iludidos são aqueles que acham que se conhecem bastante e não precisam de ajuda. As pessoas que melhor se conhecem, e consequentemente estão mais harmonizadas com elas próprias (leia os posts da semana passada), deixam constantemente a dúvida estabelecida. Sabem que qual uma cebola, a cada descoberta uma camada é retirada mas logo em seguida aparecerá outra. 

Vamos iniciar a semana discutindo um pouco a herança vinda da mãe e do pai. Já discutimos aqui que somos produtos de nossos valores que geraram crenças que conduzem nossas atitudes e atos. Esses valores são transmitido dia a dia, segundo a segundo pelos nossos pais. Incluo aqui aqueles que optaram por abandoar seus filhos. Independente do motivo, estes deixam marcas tão profundas que vejo homens e mulheres tentando superar esse sentimento de abandono por uma vida inteira. 

A visão de mundo que possuímos devemos aos nossos pais ou as figuras que os representam nas nossas vidas. Seguimos essa visão e avaliação do mundo quase que rigorosamente. Alguns de tão apavorados de ser iguais aos seus pais, correm para ser o oposto. Todos tentamos ser o espelho ou negar o espelho. Nossos pais são nossa principal referência.

Pense agora no seus pais. Liste virtudes e defeitos de cada um. Analise as opções que fizeram na vida em relação a família, casamento, filhos, profissão, trabalho, desenvolvimento, crença religiosa... e me diga: o quão próximo ou distante você está? 

Se for corajoso pergunte a três pessoas que o conhecem bem e compare as respostas.
Pense: que tipo de companheiro/ companheira você escolheu? sabe me dizer porque? Lembre, nossas escolhas amorosas refletem muito do que pensamos de nós. Que tipo de trabalho realiza hoje? como lida com as finanças? como lida com a família? com lida com seu lazer?

Quanto mais observamos com lucidez nossos pais, mais poderemos aprender de nós. Poderemos trazer de volta coisas lindas deles que abandonamos pelo caminho só para ser do contra e deixar para atrás crenças que só nos fazem repetir a sina da infelicidade que eles por ventura, carregam.

Para sermos livres e felizes precisamos fazer o exercício do espelho com a história de vida de nossos pais e assim escolher o nosso próprio destino.

Deixo vocês com a foto de minhã mãe, que especialmente nos últimos 2 anos veio perto de mim para eu não fugir do meu espelho.

Boa semana para todos. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Para as que trabalham fora..." por Clarice Lispector


Estava fazendo uma pesquisa hoje cedo quando encontrei um livro maravilhoso chamado Correio Feminino. Trata-se de uma coletânea de textos de Clarice Lispector como jornalista de colunas femininas de diversos periódicos.Casada com diplomata e escritora famosa, Clarice usava pseudônimos para assinar essas colunas: Helen Palmer, Ilka Soares e Tereza Quadros. Claro que parei o que estava fazendo para ler algumas páginas e estranhei, inicialmente, a linguagem e a temática usada pela autora nos textos da Coletânea. Depois entendi: fiel ao target (mulheres da década de 50/60) ela escolheu uma linguagem mais simples, com recados sutis nas “entrelinhas”, afinal, os tempos eram outros. Foi difícil escolher apenas um dos textos para dividir com vocês. Optei por um que fala com as mulheres que trabalham foram e sobre o cuidado que as mesmas deveriam ter para não se tornarem masculinas no seu jeito de ser. Lembre-se que estamos falando de um texto de 1952, para mulheres desta época. Apegue-se ao conteúdo e não a forma:


Para as que trabalham fora... por Tereza Quadros (pseudônimo de Clarice Lispector)

Se você trabalha fora, comanda ou dirige equipe, trata de assuntos comerciais com homens, interessa-se por força da profissão, pela cotação do mercado, pela contabilidade mecanizada, enfim, se você é obrigada a deixar de lado as maneiras delicadas e muito femininas, muito cuidado! O grande perigo que a ameaça é a masculinização de seus gestos, de sua palestra, de seus pensamentos. É muito frequente ocorrer isso. Mulheres que, em essência e nas formas, são bastante femininas, e, no entanto, deixam-se influenciar pela linguagem e pelos assuntos áridos do mundo dos negócios. Sentem que os homens, à sua volta, aos poucos vão perdendo o interesse inicial e retraindo-se a uma reserva fria, e elas não sabem por quê. Recebem muitos convites para jantar, ainda, mas os galanteios começam a rarear. Conversa de “homem para homem” é o que parece que seus antigos admiradores passam a desejar. Por quê? Olham-se ao espelho, não encontram falhas na beleza ou na elegância, e continuam a não compreender. Pois, minhas amigas, o que acontece é que elas esqueceram a sua condição de mulher. Se observarem a si próprias nos seus gestos, no seu tom de voz, se ouvirem suas próprias palavras, ficarão espantadas. Onde terão ficado a antiga coqueteria, a graciosidade que dantes as tornavam centro das atenções masculinas? Quando conversam, já não sorriem, as frases são objetivas, geladas, e nenhuma acolhida cordial aproxima-se do seu interlocutor.
Por favor amigas que vivem no mundo dos negócios! Sejam eficientes, trabalhadoras, objetivas, mas não permitam que isso afete a sua feminilidade. Estudem-se com cuidado, quando notarem mudança no cavalheirismo masculino. É sinal de perigo.

Me lembrei de Peggy Olson (Elisabeth Moss), uma das protagonistas do seriado americano Mad Men. Para quem não conhece a série passa-se na década de 60, inicialmente na agência de publicidade fictícia Sterling Cooper, localizada na Madison Avenue, em Nova York.2 O foco da histórica é Don Draper (Jon Hamm), diretor de criação da agência e um dos sócios-fundadores. A trama tem como foco a parte profissional das agências de publicidade e as vidas pessoais dos personagens que trabalham nelas, à luz das mudanças sociais ocorridas nos Estados Unidos da época.

A Peggy inicialmente é a secretária do Don. Uma menina super insegura que acaba se tornando a primeira redatora de uma agência de publicidade. Encontrei um video no youtube que demonstra a “evolução” da Peggy em suas diversas temporadas. Está em inglês, mas mesmo que você não entenda o que eles falam, vai perceber na figura da personagem, uma grande transformação: da moça feminina e suave, para a poderosa publicitária que brigava de igual para igual com seus pares todos homens e bem acostumados a um ambiente absolutamente machista.



Justiça seja feita: não deve ter sido fácil para as "Peggys da vida" abrirem nossos caminhos. Porém o lado negro desta história foi nos tornar tão agressivas e masculinas ao conquistarmos nossos espaços profissionais. Outro dia falamos sobre isso no texto O dia em que amorosidade me atrapalhou. Se as moças lá nos idos anos 50 tivessem escutado a escritora, talvez já tivéssemos ultrapassado mais esse dilema, não é mesmo?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O dia em que a amorosidade me atrapalhou



Hoje tinha a intenção de falar sobre as senhorinhas poderosas, conhecidas também na rede como “sexalescentes”, mas uma palavra tomou conta de mim  e enquanto não tirar isso da frente, não vou conseguir escrever sobre mais nada.

A M O R O S I D A D E.

Esta é a palavra. Me perdoem se está virando um vício, mas tenho ido atrás da essência das palavras antes de falar sobre elas. Sendo assim, na definição do Aurélio, o dicionário, AMOROSIDADE é um substantivo feminino que significa qualidade do que é amoroso (amoroso+dade). Portanto a palavra que de fato procuro é amoroso, a qual o mesmo Aurélio, explica como sendo um adjetivo com alguns significados:

Que sente amor
Amorável; propenso ou inclinado ao amor
Brando, suave
Doce ao tato, liso, macio

A título de curiosidade, amoroso também pode ser um substantivo masculino que significa o galã de uma peça teatral. Além de ser uma planta espinhosa empregada em sebes vivas, no Sul de Minas Gerais. Não que eu saiba o que seja “sebes vivas”, mas o Aurélio tem dessas: mata um curioso porque seu saber não tem fim. Portanto, deixei o significado botânico de lado.

Sou amorosa. Me refiro ao adjetivo. Herança do meu pai. Da minha mãe herdei a potência (pleno poder) e sempre me perguntei se essa combinação não era estranha. Sou de uma época onde ainda o mais comum era ter mães amorosas e pais poderosos. Mas isso é assunto para outro dia.


Enfim esta característica (ser amorosa) nunca atrapalhou - nem ajudou - diretamente na minha carreira. Até o dia que recebi um feedback que ser assim era um problema e eu precisava me tornar mais agressiva. Do dia para a noite minha amorosidade ameaçava não só a mim, mas a uma equipe toda.

Eu sou amorosa, mas não sou ingênua. Eu entendo que o mundo corporativo precisa de pressão, agressividade, força, etc, etc, etc. Quantos nomes mais se dá para a força motora que move empresas, capitalismo, consumo, dinheiro? De mais a mais, se quisesse fazer da amorosidade uma profissão, teria sido freira e trabalharia num convento. O que quero dizer é que apesar de entender o feedback e - até considerá-lo genuíno - minha vida profissional nunca mais foi a mesma desde então.

O que eu descobri é que a palavra agressividade virou desculpa para falta de educação, desrespeito, insegurança, egoísmo, maldade, violência (até) e tantos outros adjetivos que circundam empresas e profissionais. Agora vou provocar, nós mulheres, que nos gabamos tanto por termos conquistado nosso espaço neste ambiente público: não ajudamos em nada a suavizar os equívocos do que seja agressividade corporativa, digamos assim. Pelo contrário, nós só pioramos isso. Costumo observar as mulheres nos elevadores onde trabalho: sempre dando ordens, mandando, ameaçando. Tenho a impressão que por baixo do terninho Chanel bem cortado, elas vestem aquela roupa do Rambo. Estão em guerra. São bélicas. E me pergunto: por quê? Medo? Reflexo? Intuição? Memórias herdadas de um passado de opressão? Tudo bem, eu entendo, mas ainda assim, eu me pergunto: por quê?

Às vezes me pego pensando em como seria o ambiente corporativo se as mulheres tivessem trazido mais qualidades femininas para ele. Teríamos equipes mais harmônicas, suaves, leves? Talvez não combine mesmo, mas eu adoraria experimentar.

E quanto ao meu feedback (se é que alguém está interessado nele): já vivi o suficiente para saber que a proporção da minha agressividade é igual a da minha amorosidade e me decidi pela última. Estou tentando fazer disso uma qualidade e não um defeito. As cenas dos próximos capítulos ainda estão por vir.