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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sem filtros para confiar e celebrar!

Quando penso em lucidez e fantasia, nosso tema da semana, me lembro de uma experiência que tive e que foi muito diferente. Na minha busca por auto conhecimento já fiz de tudo. Certa vez fui parar num curso, vivência, workshop ou seja lá o nome que se dá aquilo, lá em Florianópolis. Foi uma semana fora do mundo real, com um grupo isolado, numa pousada bem maluca. Nunca sabíamos qual seria o próximo passo. 

Num dos dias, logo cedo, fomos informados que deveríamos passar as primeiras 6 horas do dia usando um óculos de lentes pretas. Não poderíamos tira-los por nada e não importava se estávamos dentro ou fora da pousada. No início ficamos super animados porque, pela primeira vez depois de dias, poderíamos quebrar o voto de silêncio e conversar entre si. Depois de alguns minutos de empolgação fomos pegos por um certo mau humor. A maioria das pessoas do grupo, eu inclusive, começamos a nos tornar ácidos, discutíamos por qualquer coisa. Fechou o pau. Em menos de duas horas, o silêncio voltou a reinar e agora não mais porque éramos obrigados e sim, porque não tínhamos disposição para interagirmos.


Depois das 6 longas horas descobrimos que trocaríamos os óculos escuros por óculos cor de rosa. De novo a novidade entusiasmou o grupo, pois a grande maioria, nunca tinha experimentado ver o mundo, literalmente, de lentes rosas. Também não foi preciso mais do que alguns minutos para tudo tornar-se chato novamente. Como já tínhamos entendido a “brincadeira” começamos a forçar uma certa “meiguice” além da conta uns com os outros. Aquela doçura toda foi ficando tão pegajosa e chata que, novamente, em menos de duas horas estávamos todos no mais absoluto silêncio. 

Finalmente, ao cair da tarde, pudemos voltar a enxergar o mundo com nossos próprios olhos. Foi espantoso. Ninguém forçou empolgação. Estávamos tão admirados com as cores da natureza, a beleza de um entardecer de inverno com sol, naquela magia que a ilha realmente tem que mais uma vez o silêncio foi o companheiro de cada um de nós. Porém agora o sentimento era de cada um e não coletivo. Tudo se transformou em contemplação e reflexão. 

Sempre penso neste exercício. Para mim, o mundo sem filtro é o mundo do equilíbrio entre a lucidez e a fantasia. Era onde deveríamos estar diariamente, mas como humanos que somos, é impossível não deixar se abater por filtros que passam por nós no dia a dia e nas fases da vida.  

Um dia contei esta história para um amigo que depois me deu de presente um óculos de lentes cor de rosa. Dias atrás encontrei este óculos numa das minhas gavetas de trabalho e descobri que a lente de um dos lados havia quebrado. Coloquei os óculos por brincadeira e experimentei uma nova sensação: ver sem filtro e cor de rosa ao mesmo tempo. Foi muito simbólico, mas ainda não sei o que isso quer dizer.

Ah...o nome do tal curso de Floripa era Confiando e Celebrando. Eu adoro o nome. Acho que foi por isso que decidi embarcar nele. Confesso que foi mais meu lado fantasia do que meu lado lucidez que determinou este passo. E foi bom.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Acende a luz do trem fantasma e descobrirá que o esqueleto é de plástico!


Celebramos a semana com o movimento humano que é o desejo de integrar, de saber transitar entre o público e o privado sem abrir mão de quem você é. E de uma forma ou outra, todas as reflexões passaram pelo autoconhecimento. Já vi muitas pessoas que se intimidam com a busca do aperfeiçoamento de si mesmo, pois enxerga o lado dolorido desta história. Porém, como tudo na vida, este caminhar também não é feito só de sacrifícios. Ele é feito também de lindas descobertas, de sensações até então inexploradas de integração e paz. Vale a coragem. E a dica para o fim de semana? A sugestão é enfrentar um de seus medos para perceber como você é capaz. Não precisa ser nada arriscada. Por exemplo: eu sempre tive medo de fogo e até meus 31 anos eu nunca tinha riscado um fósforo! É isso mesmo! 31 anos! Até o dia que eu disse para mim mesma que eu passaria por este medo a qualquer preço. Fiquei hora com o palito na mão até conseguir partir para ação. Pronto. Risquei o fósforo, o medo passou e nunca mais sofri com isso. Eu criei uma metáfora para essas situações:

"Acende a luz do trem fantasma para descobrir que o esqueleto é de plástico". 

E o que isso tem a ver com o medo da jornada rumo a si mesmo? Oras...o medo de ir em frente nesta caminhada não tem nada de diferente do meu medo de riscar os fósforo. Que tal tentar?

Deixo aqui alguns ensinamento deixado por escrito por um sábio sufi chamado Hafki:

Aceite com sabedoria o fato de que o caminho está cheio de contradições.
O caminho muitas vezes nega-se a si mesmo, para estimular o viajante a descobrir o que existe além da próxima curva.
Se dois companheiros de jornada estão seguindo o mesmo método, isso significa que um deles está na pista falsa. Porque não há fórmulas para se atingir a verdade do caminho, e cada um precisa correr os riscos de seus próprios passos.
Assim como não existe duas folhas iguais numa floresta, não existem duas viagens iguais no mesmo caminho.


Um fim de semana cheio de desafios, coragem e enfrentamento para todos nós.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

A força da rosa ou do aço?


Abrindo o tema desta semana ( “desejo de integrar”) a Nany colocou no texto de ontem, a possibilidade (e a dificuldade) de se andar pelo caminho do meio. Para mim isso significa viver dentro das nossas verdades, sem ferir a verdade do outro ou a própria sociedade/comunidade onde se vive/está inserido.  

Bem difícil, especialmente nos dias de hoje em que o indivíduo existe para a sociedade e não o inverso. Lembrei então, de um amigo que esteve na Índia anos atrás, e trouxe de lá uma bela história. Ele ouviu de um senhor na rua, num destes festivais indianos que fazem multidões celebrarem pelas ruas em comunhão com o que é sagrado para eles. Diz mais ou menos assim:

Um imperador chinês foi visitar um mestre zen e o encontrou rolando no chão às gargalhadas. O imperador ficou indignado com aquele tipo de comportamento, pois não era o que se esperava de um homem tão sábio. Ele repreendeu o mestre dizendo que aquilo era grotesco e que alguma etiqueta precisava existir em público. Disse ainda, que rolando de rir no chão daquele jeito, ele parecia mais um louco. O mestre olhou para o imperador e disse: "você mantém esse arco sempre esticado e tenso ou permite que ele também relaxe?". Ele estava falando do arco e flecha que o imperador carregava junto a sua vestimenta. O imperador no mesmo momento respondeu:  "Se eu o mantiver continuamente esticado, ele perderá a elasticidade  então não terá utilidade. Ele precisa ficar solto para que, quando eu precisar, ele tenha elasticidade".  O mestre simplesmente respondeu: “É isso que estou fazendo”.

Para mim este conto  tem um significado profundo e especial.  Quando meu amigo me contou esta história, ele tinha uma intenção: mostrar o quanto eu estava ficando dura e inflexível ao longo do tempo. Foi numa época em que realmente eu me defendia de mim mesma, vindo a público com todas as ferramentas que tinha para me impor. Quem me conhecia de outros tempos, como esse amigo, percebia que um dos meus dons maiores, era o da fluidez, da flexibilidade.  Mais tarde compreendi que, por medo e insegurança, eu me tornei alguém que tentava viver dentro do ambiente mais controlado possível e, desta forma, diminuía todos os grandes riscos: de sofrer, de errar, de me mostrar... E isso me deixava cada vez mais vivendo num extremo sem muito abertura para olhar o todo.

Compreendi então, graças a esse amigo e a muitas outras pessoas de luz que sempre me cercaram, que o melhor poder é aquele que cresce na mesma proporção que a vulnerabilidade. 

Para mim isso define bem o caminho do meio. Forte, mas ainda flexível. Uma rosa e não aço. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Tome uma xícara de chá


A dica do fim de semana é a mais simples que poderia existir: tome uma xícara de chá! Em Zen "tome uma xícara de chá" significa tenha um pouco de meditação, tenha um pouco mais de consciência. Então, todas às vezes que lembrar dissourante o fim de semana, pare e tome uma xícara de chá.
Deixo um lindo poema que descobri durante esta semana nas minhas pesquisas a respeito de ritmo interno. Leia para acompanhar o chá e aprecie as lindas e sábias palavras de Oriah Mountain Dreamer, no poema chamado O Convite:

Não me importa saber como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer seus anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade.
Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor,pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua.
O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza,se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quero saber se você consegue conviver com a dor,a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria,a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos,sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas,que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira.
Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo.
Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma,ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu,e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: "Sim!"
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem.
Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero,exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui.
Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.
Não me interessa onde, o que ou com quem estudou.
Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O que o coelho da Alice e a lebre da tartaruga tem a ver com isso?


Tentando buscar inspiração para continuarmos o tema da semana (ritmo interno) fiquei me questionando: tudo isso tem a ver com totalidade na ação.  Veja: uma das ideias éramos falar em cadência, ou seja, termos sempre um mesmo ritmo para não nos cansarmos logo na largada, mas para ter gás para chegar até o fim. Outra ideia era abordar o assunto pelo aspecto de que ao agirmos de acordo com o ritmo interno, não cansamos, ou seja, desmistificamos a ideia de que o ritmo interno tem que estar atrelado ao descanso ou mesmo a uma mudança radical de vida. No fim, tudo que encontrei como referência - literatura, vídeos, entrevistas - me levavam ao mesmo lugar: totalidade na ação. Joan Borysenko, especialista em administraçãoo de estresse e doutora em ciências médicas pela Escola de Medicida de Harvard diz no seu livro Paz Interior Para Mulheres Muito Ocupadas:

"Aos poucos a vida passa e você começa a se perguntar onde esteve durante todos esses anos. Quanto mais ocupado é o dia, maior a probabilidade de você  se transformar em um cometa no espaço zunindo pela galáxia com o piloto automático ligado. É como estar sonâmbulo e quando você volta “de repente” nota que está com seus ombros e pescoços tensos como uma rocha.  Você simplesmente não sabe como ficou assim.” 

Lendo esta parte do livro, nua e crua,  parece até exagero, mas pare para pensar quantas vezes isso já não te aconteceu só hoje? Os budistas dizem que ser total na ação é estar livre dela. Esta é a verdadeira meditação que te leva ao seu próprio ritmo. Nas coisas mais triviais da vida temos que estar absorvidos, intactos, entregues. O mesmo acontece (ou deveria acontecer) no trabalho, nos nossos momentos de diversão e até mesmo quando descansamos. Quantas vezes você passa um fim de semana em casa, sem fazer nada aparentemente e, na segunda-feira sente-se cansado como se simplesmente não tivesse existido esta pausa? 

Esta consciência da integridade na ação, de não deixar seus pensamentos escaparem para os lados, é que o torna mais produtivo, mas feliz e mais conectado com o todo. Seu ritmo é a sua consciência presente. O estar intacto e entregue a tudo que faz. Busque esta consciência e será cada dia mais fácil de deixar aquela sensação de ser o coelho – seja o  da Alice que está sempre atrasado ou seja a lebre da fábula que subestima a tartaruga e dorme.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Na hora da pressa tome uma xícara de chá

Esta semana está bem corrida e fora da minha rotina por conta de um evento que estou fazendo. Sabia que seria assim há meses, aliás. Nem por isso deixei de sentir aquela sensação de angústia por achar que tenho mais coisas para fazer do que meu dia me permiti. Foi assim que acordei às 5:50h, sem se quer olhar para o céu e agradecer por este dia – coisa que faço desde que tenho uns 5 anos de idade! Fiz o café da manhã para o meu filho da forma mais automática que eu alguém é capaz de fazer algo, pois meu pensamento estava obcecadamente focado em listar todas as coisas que eu tinha que fazer hoje, especialmente para dar conta de dois compromissos que estão marcados e que não quero furar – um na hora do almoço e outro no início da noite. Foi assim que coloquei o café na mesa e chamei meu filho. Dali já fui logo para o meu escritório adiantar algumas das minhas tarefas e listar todos os afazeres do dia para não me perder. 

Era 6:30h da manhã e eu já estava absolutamente envolvida com o mundo lá fora, sem me dar conta do furacão que se formava no mundo aqui de dentro de mim. Tinha que começar a definir aquilo que não ia conseguir fazer e pensei que deveria avisar a Nany que hoje não daria para escrever no blog. Esta decisão é difícil para mim, pois escrever no Movimentos Humanos é um dos compromissos mais sérios que assumi nos últimos tempos, uma das minhas prioridades. E estava eu ali, diante da decisão de enviar uma mensagem dizendo que ia “furar”. Não se trata de deixar de fazer algo para a Nany, trata-se especialmente de deixar de fazer para mim (por mim) e isso me deixaria muito frustrada. 

Fechei os olhos - muito mais na intenção de pensar numa outra alternativa do que de acalmar o turbilhão mental em que me encontrava. Foi quando a voz, sempre a voz, me disse: lembre-se do tema desta semana (ritmo interno) e tome uma xícara de chá. Fiquei ali imóvel por alguns minutos, absorvendo aquelas palavras que vinham de dentro de mim.

Fui preparar o chá. Acendi o incenso que costumo usar para meditar, liguei minhas músicas de relaxamento, sentei no meu espaço preferido e comecei a respirar – fazendo o que na ioga chama-se de pranayama. Foi quando minha outra vozinha, a mental, começou a falar sem parar: “Não acredito que você está lotada de coisas para fazer e ao invés de se mexer está aqui tomando chá e respirando. Você ficou louca?”. Respondi calmamente e em voz alta: “Sim, estou louca e você pode falar quanto quiser, pois eu vou continuar aqui fazendo exatamente isso”. Foram 15 minutos em paz e uma nova vibração tomou conta de mim. Sentei novamente na minha mesa de trabalho, olhei para a parede em frente e meu olhos cruzaram com um bilhete do meu filho enquadrado há uns 5 ou 6 anos que diz assim:

Mãe...
Todas as lições estão aqui!!!! Guarde na minha mala depois. As folhas você pode deixar dentro do livro de espanhol. Ahhhh, assina também o negócio do “fut” se você deixr eu ir (em cima do computador). Bjs!!!! PH  J


Este bilhete está enquadrado porque ele me lembra de uma época em que eu tentava ser uma boa mãe (olha que lindo: eu via o dever de casa dele todos os dias!). Mas falava com o menino por bilhetes! Chegava em casa, muitas vezes, quando ele já estava dormindo! Mais do que lembrar desta época aquele quadro me diz: "existe um outro caminho". Foi o que eu fiz de uns tempos para cá. Optei! Não por trabalhar menos, pois só trabalho mais a cada dia, mas faço de uma forma um pouco menos tumultuada, atribulada, agitada e ansiosa. E quando isso começa a acontecer, eu simplesmente tomo um xícara de chá.

Pronto! Aqui está o texto do blog! Não são nem 8 horas da manhã, ainda tenho uma hora e meia para o meu próximo compromisso, metade do que estava me incomodando já foi feito e eu estou em paz. Vai ser um dia agitado, mas agora, tenho certeza, dará tudo certo.

P.S.: Só por curiosidade, deixo aqui, uma musiquinha (bem bobinha) que gosto de ouvir com a xícara de chá quando vou ficando muito ansiosa. A melodia e a letra me deixam em paz!

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ritmo interno. Você sabe qual é o seu?

Aprendi que todos nós temos um ritmo interno e que quando estamos desalinhados com esse ritmo, adoecemos. Também aprendi que o ritmo interno conduz nossa forma de agir no mundo e transforma conceitos gerais em pessoais fazendo com que tenhamos um jeito de ser e agir no mundo. Outro aprendizado é que a busca pelo nosso próprio ritmo, significa a busca pela nossa própria essência e ,conhecê-los, nos integra e nos fortalece. 


Temos falado aqui sobre essência mas vocês podem estar se perguntando, o que é ritmo interno?  Primeiro são coisas distintas porém interligadas. Vamos às explicações: no nosso sempre aliado dicionário Aurélio, ritmo está descrito como "sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares na natureza e nas artes; cadência, compasso".

Ritmo interno, como as várias tribos nativas norte-americanas, de onde aprendi o conceito, explicam, refere-se a cadência que nosso ser - essência - tem para estar e viver no mundo. Vou dar um exemplo para facilitar: ouço muitas pessoas pedirem paz nos nossos estudos de campo e isso me faz pensar constantemente o que significa a paz para essas pessoas. Provavelmente para a grande maioria signifique: cenas bucólicas, pessoas relaxando, ambientes calmos. Sendo assim pessoas animadas e divertidas têm dificuldade em se ver nesse estado, ou mesmo quererem estar nele. Buscam a paz, mas pensam que não estejam prontas, para vivencia-la.

Sem dúvida o conceito de paz está associado à serenidade - aliás prefiro este termo - e a serenidade é uma forma de se estar no mundo, portanto poder ser um tipo de ritmo interno. Neste sentido, está correta a imagem associada à paz. Mas existe uma outra forma de serenidade, aquela que vem da confiança de se saber quem se é: estar em contato com sua essência. Neste caso, serenidade depende menos de nosso estado de espírito e de nosso ritmo interno. Pessoas com ritmo vibrante por natureza podem viver serenamente de forma acelerada. Conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo porque a agilidade mental lhes permite decidir e agir rapidamente. Elas não estão no looping mental alopradamente, elas simplesmente, são mais ágeis.

Ainda confuso? Não se preocupe esta semana trataremos do ritmo interno atendendo um movimento humano que percebemos nos nossos estudos: o desejo das pessoas de desacelerar. Será que é isso? Ou será que as pessoas estão querendo entrar em contato maior com sua essência e viver com maior serenidade?

Boa semana a todos!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Não basta pedir para a fadinha. Tem que saber pedir.


Desde muita pequena ela decidiu que seria independente e achou que isso tinha a ver com dinheiro, sabe-se lá por quê. Dizia, com certo deboche, que teria vergonha de ter que pedir dinheiro para o marido – caso viesse a ter um. “Imagina ter que pedir dinheiro até para comprar minhas panelas”. Adorava esta frase!

Aos 16 anos arranjou um emprego. Interessante que não foi movida pelo desejo de se livrar financeiramente dos pais. Muito pelo contrário: queria restaurar a confiança deles, perdida num ataque de rebeldia da noite para o dia – coisa até comum na adolescência. Reconquistou a confiança dos pais e ainda começou a receber salário. Pequeno, é bem verdade, mas dinheiro de qualquer jeito. Já de cara viu que não tinha lá muita intimidade com o assunto. Recebeu num dia e gastou tudo no outro. Economizar não era matéria da escola e nem passou pela cabeça que poderia fazer algo maior com o dinheiro que merecidamente recebeu (mal sabia ela o que este hábito poderia ter feito ao longo da sua história...). 

Depois entrou na faculdade, começou a estagiar, já ganhava um pouco mais. Outros desejos de consumo começaram a lhe interessar. Primeiro pequenos luxos que sempre quis ter, mas a família sempre achou bobagem. Depois mudou o estilo de se vestir. Deixou de ser surfista, passou a ser boêmia. Suas novas amigas tinham roupas lindas. Por que ela não teria também? Já estava trabalhando com “carteira assinada” quando se formou, recebendo um salário bem descente. Noivou, casou e a promessa se cumpria: as panelas ela comprava, embora nem tivesse tempo para cozinhar. Trabalhava muito, adorava trabalhar. Queria mais, queria tudo que a boa vida pudesse dar. Teve filho e queira muito para o filho também. Queria de tudo, queria mostrar, queria ter, desejava, necessitava. Foi de emprego em emprego caminhando em direção ao sucesso e de mais dinheiro. 

Separou-se, recebeu o convite para mudar de cidade. Negociou um preço. Pagaram seu preço. Foi parar na cidade grande: muitos lugares para conhecer, muitas lojas para comprar, muitos desejos a conquistar. A metrópole era cara, mas lá estava ela "conquistando" o mundo. Recebia salário, bônus, crescia na profissão. Precisava de roupas caras, bolsas, carros. Objetos de poder, afinal, é difícil a vida de mulher que luta. E de tanto lutar merecia comprar. “Mereço um presente aqui e outro ali”, ela dizia. Separada, na cidade grande, com cargo de diretora, sentia-se sozinha e comprar ajudava a passar a sensação ruim da solidão. Foi demitida, mas tinha um contrato que lhe deu o direito a uma boa quantia em dinheiro. Arranjou outro emprego rapidinho, era boa no que fazia aquela menina!  E mais dinheiro tinha para poder comprar seus luxinhos. Cresceu no outro emprego. Degrau a degrau. Lutando. Muito trabalho. Merecia ter uma vida de conforto e por isso dava-se ao direito de ter. Quando se sentia vazia e meio desesperada, logo dava um jeito de encontrar alguma desculpa para mostrar como era feliz por ter tudo que tinha, além de uma vida confortável, um bom emprego e, lógico, a tão sonhada independência financeira.

Mas um dia a verdade apareceu, nua e crua. O trabalho que até então era uma grande satisfação, mudou completamente. Novas pessoas no comando da empresa e novos princípios que nada tinha a ver com a pessoa que ela era. Foi tomada pelo desejo profundo de abandonar aquele emprego, ir embora num dia e nunca mais voltar. Estava cansada também. Tantos anos de trabalho e de luta! Desejava diminuir o ritmo. Planejar com calma um novo caminho. Mas o que fazer? Ou melhor, como fazer?

Poderia ter feito isso se tivesse se planejado, mas agora tinha que enfrentar a sua verdadeira condição. Aquilo que ela chamou a vida inteira de liberdade era mesmo a sua escravidão. Ganhou muito dinheiro, mas não lidou bem com o assunto e lá se foi tudo do mesmo jeito que veio. Nada tinha, além de dívidas. Pior que isso: até o apartamento próprio estava hipotecado – o que fazia com que não restasse outra alternativa se não ter o dinheiro para pagar altas prestações. Que outra alternativa se não no emprego ficar?

Mas encarar a verdade também lhe trouxe força para ver que liberdade que tanto desejou morava mesmo dentro dela. Encarou com coragem o que tinha que ser encarado. Agradeceu por este ensinamento e está aprendendo a viver de uma forma diferente. Esta história é verdadeira e a pessoa que me contou me pediu anonimato. Não porque tenha vergonha da sua história, pois já entendeu o caminho, mas porque ainda está no processo de limpeza e cura. Na verdade eu insisti para contar, pois esta é um outra lado da liberdade a qual nos propomos debater esta semana. 

Muitas pessoas enfrentam a escravidão pelo dinheiro – seja por querer cada vez acumular mais riqueza, ou seja como a mulher desta história que se iludiu achando que consumir preenchia o seu interior. A maioria das vezes, trata-se de um enfrentamento solitário, cheio de vergonha, por não saber como agir. Mas quanto mais atento se estiver, mais fácil ficará fazer a mudança poderosa de crer que quanto mais se possui, mais se é para você é e para isso prospera e tem.

Deepak Chopra, no seu livro As Sete Leis Espirituais do Sucesso, diz:

A mudança consciente acontece por meio da manifestação de duas qualidades inerentes à consciência: a atenção e a intenção. A atenção energiza; a intenção transforma. Quando você concentra a sua atenção em alguma coisa, ela fica mais forte em sua vida. Ao contrário, quando você afasta, a coisa enfraquece, desintegra e desparece (...) Mas a intenção é o poder que move o desejo. A intenção por si só é muito poderosa, porque é o desejo desvinculado do resultado. O desejo sozinho é fraco. A intenção é o desejo com estrita aderência a uma consciência superior.

Portanto, no dito popular: “olha o que você pede para a fadinha, pois ela é bem capaz de te atender”. Saiba pedir e será próspero. Apenas deseje e poderá se tornar escravo de uma situação. É o que a história de hoje me ensinou.