terça-feira, 5 de novembro de 2013

A força da rosa ou do aço?


Abrindo o tema desta semana ( “desejo de integrar”) a Nany colocou no texto de ontem, a possibilidade (e a dificuldade) de se andar pelo caminho do meio. Para mim isso significa viver dentro das nossas verdades, sem ferir a verdade do outro ou a própria sociedade/comunidade onde se vive/está inserido.  

Bem difícil, especialmente nos dias de hoje em que o indivíduo existe para a sociedade e não o inverso. Lembrei então, de um amigo que esteve na Índia anos atrás, e trouxe de lá uma bela história. Ele ouviu de um senhor na rua, num destes festivais indianos que fazem multidões celebrarem pelas ruas em comunhão com o que é sagrado para eles. Diz mais ou menos assim:

Um imperador chinês foi visitar um mestre zen e o encontrou rolando no chão às gargalhadas. O imperador ficou indignado com aquele tipo de comportamento, pois não era o que se esperava de um homem tão sábio. Ele repreendeu o mestre dizendo que aquilo era grotesco e que alguma etiqueta precisava existir em público. Disse ainda, que rolando de rir no chão daquele jeito, ele parecia mais um louco. O mestre olhou para o imperador e disse: "você mantém esse arco sempre esticado e tenso ou permite que ele também relaxe?". Ele estava falando do arco e flecha que o imperador carregava junto a sua vestimenta. O imperador no mesmo momento respondeu:  "Se eu o mantiver continuamente esticado, ele perderá a elasticidade  então não terá utilidade. Ele precisa ficar solto para que, quando eu precisar, ele tenha elasticidade".  O mestre simplesmente respondeu: “É isso que estou fazendo”.

Para mim este conto  tem um significado profundo e especial.  Quando meu amigo me contou esta história, ele tinha uma intenção: mostrar o quanto eu estava ficando dura e inflexível ao longo do tempo. Foi numa época em que realmente eu me defendia de mim mesma, vindo a público com todas as ferramentas que tinha para me impor. Quem me conhecia de outros tempos, como esse amigo, percebia que um dos meus dons maiores, era o da fluidez, da flexibilidade.  Mais tarde compreendi que, por medo e insegurança, eu me tornei alguém que tentava viver dentro do ambiente mais controlado possível e, desta forma, diminuía todos os grandes riscos: de sofrer, de errar, de me mostrar... E isso me deixava cada vez mais vivendo num extremo sem muito abertura para olhar o todo.

Compreendi então, graças a esse amigo e a muitas outras pessoas de luz que sempre me cercaram, que o melhor poder é aquele que cresce na mesma proporção que a vulnerabilidade. 

Para mim isso define bem o caminho do meio. Forte, mas ainda flexível. Uma rosa e não aço. 

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