
Ela ficou me olhando mesmo depois que eu terminei a frase, preenchendo a lacuna do silêncio que se formou, como se estivesse absorvendo as minhas palavras e, depois, me disse: “É aí que mora o engano. Nas dificuldades temos que dar um jeito de sorrir. Não estou falando de negar a dor, estou falando de aceitar e cumprir o que viemos fazer aqui. Passei a vida toda me guiando por este pensamento. Fui criticada quando homenageei meus meninos cantando músicas alegres enquanto eles eram velados. Me deram poucos anos de vida enquanto tentavam me encher de química na tentativa de amenizar o câncer, mas eu sabia porque ele estava ali e sabia o que deveria fazer para ele sumir. E sumiu. Não apenas um, mas dois.”
Foi nessa hora que percebi que estava realmente vivendo um daqueles contos de Natal que a gente vê em filme. Afinal, quem era aquela mulher que recusou minha ajuda, pediu desculpas, me contou todas as desgraças da vida sorrindo e estava ali, me olhando, com o jeito mais angelical que poderia existir?
Enquanto elaborava todo este pensamento, ela sorriu e eu tive a nítida sensação que ela sabia exatamente o que eu estava pensando. Então ela me disse: “Eu sou apenas uma velha tola que preferiu a leveza da vida. Não se impressione tanto com isso ou como qualquer outra coisa que aconteça em sua vida”. E antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela se levantou e desceu do ônibus.
Demorei dias para assimilar este acontecimento. Não ousei contar para ninguém. Tentei nem pensar mais sobre isso. Hoje entendi que isso aconteceu para que eu pudesse dividir com vocês esta bela lição. Resolvi seguir o conselho daquela velha sábia: contei tudo e pronto! Não vou me impressionar com isso.
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