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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

É melhor ser objeto de desejo ou de respeito?

Ter 40 anos é ser velho? Ou 50 anos ? Sei que quando a gente é criança e alguém fala que tem 40 anos costumamos achar que trata-se de uma pessoa muito, muito velha. Mas me causa muito estranhamento hoje, que tenho 43, achar uma pessoa de 40 ou 50, velha. Tenho amigos com 60 e não acho que eles sejam velhos. Tem aquela coisa que dizem que a idade está na cabeça, mas não sei... Fazendo o planejamento dos textos da semana, a Nany propôs este tema. Estranhei e retornei o email dela perguntando se ela não tinha digitado por engano 40, 50. Ela me respondeu que não e que é muito comum nas entrevistas que ela faz, as pessoas considerarem velhas quem tem esta idade. Fiquei surpresa, confesso.


O conceito do que é velho é muito relativo
Já falei aqui sobre minha "amigas" velhinhas da missa, que são super modernas ao 60, 70. Já contei também de casais de 60 que estão se reinventando. Portanto saber que algumas pessoas consideram a velhice aos 50 é novidade para mim. Lembrei de um texto maravilhoso do escritor Rubem Alves para a Folha de São Paulo, questionando a expressão "melhor idade". Interessante o desfecho da crônica, em que ele narra uma história que aconteceu quando ele tinha lá os seus 50 e poucos anos. Replico, na íntegra a história narrada por ele:


O que é melhor? Ser respeitado ou ser desejado?
Velhice é quando a gente começa a ser tratado como "objeto de respeito" e não como "objeto de desejo". Mas o que quero não é ser olhado com respeito, mas com desejo...
Aconteceu faz 25 anos, uma tarde, no metrô, vagão cheio, tudo bem, eu me via jovem, pernas fortes, segurei-me num balaústre. Meus olhos começaram a passear pelo rosto dos passageiros -cada rosto é mais misterioso que um universo- até que meus olhos se encontraram com os olhos de uma jovem que me olhava, eles, os seus olhos, sorriam para mim e eu fantasiei que ela me desejava. Ficamos assim por alguns segundos trocando olhares de namorado até que ela, num gesto delicado, se levantou e me ofereceu o seu lugar... Seu gesto me disse sem palavras: "O senhor é velho. Eu o respeito. Eu lhe dou o meu lugar...". Nesse momento percebi que a minha idade era a pior de todas. A melhor idade era a dela, da mocinha que me deu o lugar...
Sugiro um nome diferente para essa idade, que não é ironia, mas poesia: "Pessoas portadoras de crepúsculos no seu olhar...".

Tem mais algo a se dizer depois disso?  

Envelhecer é um processo que se inicia a partir do nascimento de cada um de nós. Resta saber como vamos lidar com os fatos ao longo dos anos. Eu pelo menos por enquanto, gostaria de ser até um pouco mais velha do que sou.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A velha e cansada mãe de 43 anos!

Essa é minha mãe aos 20 e poucos anos. É assim que
eu decidi que ela será para sempre na minha memória!
Hoje é meu aniversário. Interessante falarmos sobre convivência na velhice justo na semana que marca minha passagem do tempo. Meu filho, nas primeiras horas do dia, me desejou parabéns e de forma carinhosamente divertida me disse: “Quarenta e três anos, hein? Está ficando velhinha”. Entrei na brincadeira e respondi com uma frase que minha adora falar: “Sim! Sou sua velha e cansada mãe!” Demos risadas como só duas pessoas em sintonia são capazes de fazer, sabendo ambos, que a brincadeira tem lá um fundinho de verdade.

Quando eu tinha 16 anos meus pais eram um pouco mais velhos do que eu sou hoje. Fazendo as contas rapidamente acredito que minha mãe deveria ter seus 47 anos e meu pai algo em torno de 52, 53 anos. Não lembro de achar que eles eram velhos naquele momento, mas também não lembro de achar que eles eram como eu me sinto hoje. Trata-se de um sentimento estranho este de ser filha e mãe ao mesmo tempo. Pensar nisso me fez refletir: quando é que percebemos que nossos pais, de fato, envelheceram e como reagimos a isso? A constatação de que meus pais ficaram velhos, para mim (e acredito que para meus irmão também) aconteceu não faz nem 5 anos. Foi quando meu pai teve uma queda bem séria, que gerou uma série de consequências deixando-o bastante debilitado. Já minha mãe é outra história: ela tem uma saúde de ferro, mas sua cabeça está cada vez mais nebulosa. Não vou negar que o primeiro impacto ao estar de frente com o fato de que seus pais agora têm limitações é muito chocante. Gera insegurança, medo, vontade de não ter que lidar com isso. Depois vem a fase da impaciência, da incompreensão de que eles não são mais capazes de fazer uma série de coisas físicas e mentais que até então era comuns para eles. Por fim, no nosso caso pelo menos, entramos na fase de tentarmos ser o mais amorosos possível com eles. Sabemos que nosso tempo com eles nesta vida, está cada dia que passa menor e estar ao lado deles é uma bênção que muita gente gostaria de ter. Mas não é fácil. Existe um eterno mal-estar, um reflexo do que seremos. No caso da minha mãe então, a semelhança física é quase um tapa na cara.

Lembrei de um livro que li tempos atrás e fiquei chocada com a semelhança entre a história da minha família e das personagens da história. O livro chama-se Por favor, Cuide Bem da Mamãe e foi escrito pela sul-coreana Kyung-Sook Shin. A história fala de todo processo de lamento, culpa, remorso e luto dos filhos a partir do sumiço da mãe, que desapareceu ao ir visitar os filhos sempre muito ocupados e que moram em Seul.  Toda narrativa mostra os personagens (todos irmãos) apontando falhas em suas relações com a desaparecida e revelando segredos impensáveis. Este livro me trouxe uma nova forma de lidar com o momento de fragilidade dos meus pais velhinhos. Afinal esta é a última oportunidade que teremos, nesta vida, de limparmos tudo aquilo que não importa e vivermos apenas o nosso amor. As limitações físicas (e mesmo mentais, intelectuais) são bem menos importantes para nos apegarmos a isso.
No início do livro a autora coloca uma frase que é muito tocante para quem vive este processo de acomodar o coração diante da velhice dos nossos parentes. Diz assim: 
Ame, enquanto puder amar - Franz Liszt.
É o que me propus a fazer. As limitações da velhice que tanto me chocaram num primeiro momento, a partir deste ponto de vista, passou a não ter nenhuma importância.





terça-feira, 12 de novembro de 2013

Se as rugas fazem parte da nossa história por que se envergonhar delas?

Anos atrás quando ainda frequentava academia, lembro de uma senhora (bem senhora) que fazia uma aula inteira de spinning ou aeróbica super bem disposta e com mais energia do que muitos jovens. Ela tinha um corpo magro e musculoso, mas flácido e enrugado. Sim. Flácido e enrugado como qualquer senhora de 60, 65 anos. Não estou falando isso como julgamento, pelo contrário, estou relatando um fato. Mas certamente ao ouvir as palavras “flácido”e “enrugado” você deve ter sentido um desconforto. O fato é que nós não lidamos bem com a ideia de que um dia teremos rugas e um corpo flácido – não importa o que você faça. Nossa aparência deixará de ter o frescor da juventude e passará a ter as marcas de uma vida toda, suportada pelo aspecto físico do desgaste. Parece um cenário bem negro, pois não queremos nem pensar no assunto. Acredito que a senhorinha da aeróbica não se incomodava com isso, pois ela não deixava de vestir roupas que deixavam a mostra os sinais do tempo no seu corpo. Mas cansei de ouvir pessoas comentando coisas como:

Que feio, Será que ela não tem vergonha?, Por que ela se expõem assim, Será que ela não percebe? 

Difícil não perceber diante de um espelho enorme, comum nas academias, não é? E quem tem vergonha esconde. Não era o caso dela. Portanto o problema, pensava eu, é de quem olha e não de quem é. Com o tema desta semana lembrei da mulher da academia, pois ela me parece um bom ponto de partida para refletirmos o que sentimos a respeito do nosso corpo e seus sinais de envelhecimento. Sou muito a favor da vaidade. Equilibrada e consciente creio que só faz bem. Minha experiência pessoal é que se você estiver feliz e segura com o que você é por fora, isso te ajudará a encontrar respostas dentro de si (embora o conceito mais aceito seja o inverso: se você estiver bem dentro aceitará e amará o que você é por fora). Pelo menos a minha busca foi marcada pelo contrário: quando encontrei um estilo fora, consegui me encontrar dentro também. Além disso, se cuidar é mais do que uma questão de vaidade. É saúde e bem-estar. Mas certamente o bom-senso aqui também é fundamental, pois o natural sempre será mais belo do que o plástico, falso e artificial. E mesmo quem busca a juventude a qualquer preço, passando do limite do artificial, muitas vezes, se depara com uma verdade bem cruel: não há tratamento ou dinheiro que possa parar a ação do tempo no seu corpo.  

Não é fácil aceitar isso, eu sei. Tenho linhas de expressão bastante profundas na testa e entre os lábios (o famoso bigode chinês). Chamo-as de rugas da juventude, uma vez que desde muito menina elas insistem em marcar meu rosto. São frutos do hábito familiar de enrugar a testa e de ter sempre um sorriso na boca (doce ironia seu rosto ser marcado pelo seu sorriso quase constante - adoro brincar com isso!). Uso botox e preenchimento para amenizar o efeito. Fiquei feliz quando decidi fazer estas aplicações, mesmo tendo uma série de dúvidas e receios a respeito. Me senti melhor e com uma cara menos cansada. Obviamente me preocupo em fazer estes procedimentos com muita moderação. Às vezes me vem uma pergunta: "E, se um dia, por acaso, não conseguir mais fazer?" Pois decidi que vou dar um jeito de aceitar minhas “ruguinhas” de volta, afinal, elas estavam ali já aos 20 e pouco anos. 

Isso me fez lembrar da minha mãe que começou a ter cabelos brancos lá pelos 50 e poucos anos. Ela gosta de dizer que a gente tem que aceitar o envelhecimento do corpo com sabedoria. Talvez para cumprir esta sua afirmação, resolveu que deixaria os cabelos grisalhos naturalmente. Não iria pintá-los. Vi minha mãe de cabelos "cinza" até os seus 60 e poucos anos quando um dia, do nada, resolveu mudar de ideia e os tingiu. Ficou muito bonitinha. Agora, quando a vemos nas fotos da sua fase grisalha, brincamos: “Olha mãe, esta foto é do tempo que você era velhinha”.


Uma reflexão final para que você possa sentir como lida com o fato de que seu corpo vai, não importa o que se faça, se deteriorar ao longo do tempo. Uma vez estava em Mauá, almoçando no trailer de um lendário cubano que está lá há anos. De repente, no meio do restaurante, ele levanta-se, bate na barriga e diz: "un hombre sin panza es un hombre sin historia” (desculpe-me meu péssimo espanhol!).  Pois eu adaptei as palavras do senhor bonachão de bem com a vida para: um homem sem rugas é um homem sem história. E não é?

Eu tinha 4 anos nesta foto e o sorriso registrado aí,
sempre fez parte de mim. Conclusão: aos 20 já tinha linhas de expressão
 profundas entre os lábios.  Decidi que não deixaria de sorrir por causa disso
 e assim é até hoje.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A velhice perto de nós. Estamos prontos?

Uma coisa é certa: todos nós estamos envelhecendo e minha grande dúvida é saber como uma sociedade com culto à juventude irá lidar com isso.

O movimento humano não quero envelhecer é produto de uma constatação clara e nua que o envelhecer traz: a deteriorização do corpo físico. E, pelo que observo, a grande maioria não está pronta para isso.

Assim surgem diversas ramificações desse movimento, desde mudar de nome - melhor idade ao invés de velhice - até de produtos e terapias que prometem que o corpo físico, tanto externo quanto interno, poderão manter a juventude por tempo quase indefinido. Obviamente cada um escolhe a forma de lidar com suas resistências, a minha sempre é de tentar encarar tudo com a maior lucidez e amorosidade que me é possível.

Essas alternativas de lidar com a velhice ajudam a assimilar as restrições da idade de forma mais positiva, já que, se está na melhor idade e cuidando do corpo com exercícios, vitaminas ou intervenções cirúrgicas a tendência é de não se entregar ao lado ruim da idade avançada. Portanto, não as vejo de forma negativa, mesmo que nelas hajam, as vezes, uma tentativa de não querer enxergar uma realidade latente.

Dentro das faixas etárias que estudamos há um grupo bem interessante em relação a este tópico: são (somos) o grupo de 40 a 60 anos de idade. Estes ainda estão a todo vapor na sua produção, sentindo-se bastante jovens e produtivos sem a ansiedade típica da juventude pós adolescente. Os de maior renda, conseguem desfrutar de coisas nobres da vida: viagens, boas comidas, espetáculos, passeios, bons médicos, bons tratamentos.

Este grupo está trazendo para as gerações posteriores exemplos de viver bem ainda nessa idade. E digo ainda, porque até a pouco tempo atras usávamos a expressão "esse cinquentão" para definir alguém bem mais velho do que nós. Quase um ancião. Talvez seja porque estou chegando aos 50, mas a impressão que tenho é que há muito caminho pela frente. Portanto estamos modificando a associação das faixas etárias ao conceito de velhice. Mas ainda não estamos trabalhando o conceito da velhice dentro de nós.

É difícil para a maioria de nós ver um velho, com suas dificuldades motoras, comendo ao nosso lado. Até a palavra velho, evitamos de usar porque parece um insulto. O que sentimentos a imagem do velho comendo com dificuldade traz para cada um de nós?  

É sobre isto que iremos falar esta semana, a convivência com a velhice e suas conseqüências em nós.

Boa semana a todos.