Hoje falamos do quinto e último aprendizado do legado de cuidar de nossos pais idosos e que foram tema das nossas duas últimas semanas.
Trata-se de uma lição muito especial, pois mães e filhas têm uma vida inteira para cuidar da sua relação, mas se não fizerem isso com trabalho, dedicação e muito amor ao longo da vida, farão de outra forma quando a mãe envelhecer. Este tema é muito significativo e importante para nós, pois faz parte das conclusões estudadas no Projeto Mulheres - estudo base do Movimentos Humanos.
Lembrei de um programa exibido no canal de televisão a cabo Discovery Home & Health chamado Mães Fora de Controle, em que são narrados casos extremos de mães e filhas que sofrem por conta de comportamentos obsessivos o da mãe que tinha problemas com seu peso. A primeira coisa que ela faz ao sair da cama era se pesar e simplesmente passava o dia pensando em como estava acima do peso que considerava ideal. Se isso já não fosse estranho o bastante, ela fazia a filha adolescente se pesar diariamente e controlava tudo o que a menina comia. Veja bem…a menina é uma adolescente, mas estava proibida, inclusive de sair com as amigas, para não comer pizza, hamburguer e essas coisas comuns para a idade da menina. O programa se passa em duas etapas: na primeira existe uma narrativa sobre o caso e, na segunda etapa, um terapeuta profissional tenta ajudá-las a resolver o problemas. Ambas sofrem muito ao colocar para fora seus sentimentos e, normalmente, está associado a algo que a mãe viveu no passado (um trauma, uma crença).
Vendo esse programa sempre reflito sobre a própria relação que tive com a minha mãe. A primeira coisa que sinto é alívio, pois nossa relação sempre foi bem mais normal. Mas de fato percebo que muitos dos nossos conflitos quando eu era mais jovem, foram causados pela sensação de “espelho” que eu causava nela. Diversas vezes me senti magoada, pois não entendia que, ao me atacar, na verdade ela estava atacando a ela mesma.
Já tinha mais de 30 anos quando descobri que minha mãe não era super herói e tinha questões a serem resolvidas com elas mesma. Inicialmente foi um choque, pois para mim, ela era perfeita. Mas depois esta descoberta se tornou uma grande bênção, pois só ao entender isso é que pude perceber que ela jamais fez algo pensando em me ferir.
Não tenho filha (mulher), apenas um menino. Portanto não sei se faria a mesma coisa com uma filha, repetindo o padrão da minha mãe, mas é bem provável que sim. O que só me mostra, mais uma vez, quanto é importante estarmos conscientes e prontas para amar as pessoas incodicionalmente. Não há outra alternativa. E quanto antes isso acontecer entre mães e filhas, melhor. Assim poderão aproveitar mais e mais a relação antes da velhice chegar.
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sexta-feira, 18 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Um reforma que acontece dentro e fora
Esta semana continuaremos trilhando o tema aberto pela Nany na semana passada: aprendizados ao cuidar de nossos pais no fim das suas vidas.
Entre as 5 lições que ela dividiu de forma tão amorosa conosco, um deles, tem sido, na minha visão, cada vez mais potencializado: vivemos momentos de muita individualidade e ter que mudar nossa trajetória, desejos, necessidades e, principalmente expectativas, para cuidar de uma pessoa mais velha é sempre encarado, pelo menos num primeiro momento, como algo muito negativo. Um fardo mesmo.
E como disse o sábio amigo dela: “que sentimento é esse que não é capaz de ceder à compaixão e acolher uma pessoa no final de sua vida?”
Sempre ouvi falar que nas culturas orientais, mais especificamente no Japão, o filho mais velho é responsável por cuidar dos seus pais até o final de suas vidas. Sempre achei esta tradição bastante poética, na minha visão romântica sobre este povo que tanto admiro.
Tempos atrás porém, percebi que não se trata de poesia - o que não significa que não seja admirável. Aqui ao lado da minha casa tem um família japonesa, donos de uma antiga lavanderia do bairro. A casa deles fica em cima do negócio da família e eu consigo ver a propriedade do meu apartamento. Durante anos acompanhei uma reforma que parecia não ter fim. Um dia, ao levar algumas roupas para lavar, perguntei que reforma era essa que eles faziam há tantos anos. O senhor mais velho me respondeu: "Esperamos a chegada do meu pai e devemos preparar a casa para ele".
Papo vai, papo vem, descobri o pai morava sozinho no interior se já dava sinais de que precisaria de ajuda. E, para isso, a casa estava sendo completamente reformada, pois era preciso adequá-la às suas necessidades. Quartos foram modificados, a sala, a cozinha, tudo. Demorou porque foi preciso fazer aos poucos, quando sobrava dinheiro. Espantada eu disse: "Puxa vida que lindo filho você é, parabéns". Ele me respondeu secamente: "Essa é a minha obrigação e ainda bem que, na minha família, tudo tem seguido o ciclo de vida normalmente". Não havia nem tristeza, nem pesar, nem ego, nem vaidade na resposta dele. Nada além de algo natural.
Outro dia olhei pela janela e vi um senhor andando a passos bem miúdos no terraço dos meus vizinhos. Sentou-se no alambrado da janela que foi transformado em banco na época da reforma. Lá estava o tal ciclo da vida seguindo, embora não posso deixar de achar que, aquele banco colocado estrategicamente para se apanhar o solzinho gostoso do fim da tarde, não seja um carinho do filho para o pai.
A casa se transformou e tudo continua normal. Mas agora eu olho da minha janela e acho que aquela é a casa mais linda do mundo. A casa preparada para receber um pai.
A casa se transformou e tudo continua normal. Mas agora eu olho da minha janela e acho que aquela é a casa mais linda do mundo. A casa preparada para receber um pai.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Quando as mães tornam-se filhas
Hoje passei o dia todo com a minha mãe que está bem fisicamente, mas com a memória bastante debilitada. Fomos visitar meu pai duas vezes na UTI e, agora à tarde, paramos o carro um pouco afastado do hospital. Tivemos que atravessar algumas ruas e achei perigoso deixá-la “sozinha”. Peguei na sua mão para seguirmos juntas e, nesta hora, me lembrei do que disse a Nany esta semana sobre a inversão de papéis: filhas tormam-se mães.
Quantas vezes minha mãe não pegou na minha mão para atravessarmos a rua quando eu era pequena! Durante anos este foi o nosso ritual. Hoje, me transportei até as minhas memórias de infância neste gesto de proteção.
Lembrei também de quantas filhas eu já vi cuidar das suas mães. A mais emblemática, para mim, foi minha madrinha. Durante anos eu frequentei a casa em que morava apenas as duas: mãe e filha. A senhora, mãe da minha madrinha, era uma mulher muito forte. Lembro-me de quantas broncas vi a filha dar na mãe. Naquela época eu ficava um pouco assustada, pois eu era criança e achava aquela inversão perturbadora. Para mim, a minha madrinha tão legal comigo, era uma mulher muito nervosa! Hoje entendo…. Não era nada disso. Tratava-se de um amor incondicional.
Minha madrinha passou a vida toda cuidando da mãe. Desde que o pai morreu, tragicamente, quando ela era adolescente foi assim. Ela trabalhou, venceu na vida e nunca teve muito tempo para pensar nela. Era filha única e aguentou firme, ainda mais depois que a mãe envelheceu. Nunca a vi reclamar, se lamentar por isso. Simplesmente cuidava daquela mãe como se fosse sua filha. Nada mais.
Depois que a mãe se foi, ela já tinha uma certa idade (quase 60 anos), começou a curtir a vida. Casou com um senhor viúvo, viaja constantemente, se diverte. E com certeza deita na cama todas as noites com a sensação de que vez a coisa certa. Especialmente quando era firma com a mãe. Não foi fácil para ela, mas é maravilhoso poder contar esta história e encher o coração de muita serenidade por ter exemplos tão lindos a minha volta.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Ame enquanto puder amar
Eu e a Nany somos amigas de muitos anos. Tivemos fases mais próximas e fases mais distantes. Mas desde que ela me convidou para fazer parte deste lindo projeto do Movimentos Humanos passamos a estar mais perto do que nunca. Foi mais ou menos na mesma época que começamos a viver uma experiência - bem semelhante e bem diferente ao mesmo tempo - com nossos pais (ela com a mãe e eu com meu pai e minha mãe).
A história do meu pai começou bem parecida com a da “mamita”: um tombo que fez com ele nunca mais se recuperasse completamente e a saúde dele, ao longo do tempo foi ficando cada vez mais debilitada. A grande diferença é que ao contrário da Nany que cuidou da mãe diariamente, eu estou longe do meu pai - moro em outra cidade, 400 quilômetros nos separam.
Meu pai é um homem adorável, doce, bondoso. É muito fácil gostar dele. Nós dois sempre tivemos uma ligação muito especial. Nunca precisamos de palavras para nos entender. Basta nossos olhares se cruzarem e simplesmente já sabemos tudo o que estamos sentindo. Mesmo agora, em que ele passa dias completamente desconectado deste mundo, ainda basta o olhar. Por isso ficar longe é tão opressor. Me sinto culpada por isso. Ninguém me culpa. Apenas eu. Meus irmãos, os que estão mais próximos dele, carinhosamente aceitaram a tarefa de cuidar do dia a dia (e da minha mãe também). Mas como bem colocou a Nany no texto que abriu esta semana:
A história do meu pai começou bem parecida com a da “mamita”: um tombo que fez com ele nunca mais se recuperasse completamente e a saúde dele, ao longo do tempo foi ficando cada vez mais debilitada. A grande diferença é que ao contrário da Nany que cuidou da mãe diariamente, eu estou longe do meu pai - moro em outra cidade, 400 quilômetros nos separam.
Meu pai é um homem adorável, doce, bondoso. É muito fácil gostar dele. Nós dois sempre tivemos uma ligação muito especial. Nunca precisamos de palavras para nos entender. Basta nossos olhares se cruzarem e simplesmente já sabemos tudo o que estamos sentindo. Mesmo agora, em que ele passa dias completamente desconectado deste mundo, ainda basta o olhar. Por isso ficar longe é tão opressor. Me sinto culpada por isso. Ninguém me culpa. Apenas eu. Meus irmãos, os que estão mais próximos dele, carinhosamente aceitaram a tarefa de cuidar do dia a dia (e da minha mãe também). Mas como bem colocou a Nany no texto que abriu esta semana:
Compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho... pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.
Justamente por conta disso, diversas vezes pensei em segurar minha vida aqui por algum tempo e me mudar para a cidade deles e, desta forma, ficar mais próxima e ajudar nesta luta diária.
Mas foi a própria ligação que tenho com meu pai que me fez mudar de ideia. Ele não gostaria que eu fizesse isso. Ficaria triste, contrariado. Ele me ensinou a ir atrás dos meus sonhos, do meu crescimento pessoal. Ele se preocupava com a minha independência desde que sou pequena, mas me apoiava, me incentivava. Ficava feliz porque sabia que ali estava a minha essência.
Mas e aí? Como fica? Como eu ajudo apesar de não estar lá com tanta frequência. Tento ser o ponto de equilíbrio. Tento ser o ponto de apoio para eles. Fico disponível e me proponho a ir lá sempre que meu irmãos ficam cansados.
Eles entendem isso, mesmo que não seja algo formalmente combinado. Assim, vamos seguindo. Cada um com o seu jeito de lidar. Mas o que é lindo - e acalma um pouco a minha alma - é o quanto de amor este homem consegue movimentar a sua volta. Estamos todos unidos pelo seu bem comum. Pelo quanto o amamos. E isso é simplesmente renovador. Seguimos em frente e enquanto ele estiver aqui conosco vamos tentar retribuir tudo que ele sempre nos ensinou, especialmente, os valores que eles nos passou.
É uma honra ser filha deste homem e assim sempre será.
Mas foi a própria ligação que tenho com meu pai que me fez mudar de ideia. Ele não gostaria que eu fizesse isso. Ficaria triste, contrariado. Ele me ensinou a ir atrás dos meus sonhos, do meu crescimento pessoal. Ele se preocupava com a minha independência desde que sou pequena, mas me apoiava, me incentivava. Ficava feliz porque sabia que ali estava a minha essência.
Mas e aí? Como fica? Como eu ajudo apesar de não estar lá com tanta frequência. Tento ser o ponto de equilíbrio. Tento ser o ponto de apoio para eles. Fico disponível e me proponho a ir lá sempre que meu irmãos ficam cansados.
Eles entendem isso, mesmo que não seja algo formalmente combinado. Assim, vamos seguindo. Cada um com o seu jeito de lidar. Mas o que é lindo - e acalma um pouco a minha alma - é o quanto de amor este homem consegue movimentar a sua volta. Estamos todos unidos pelo seu bem comum. Pelo quanto o amamos. E isso é simplesmente renovador. Seguimos em frente e enquanto ele estiver aqui conosco vamos tentar retribuir tudo que ele sempre nos ensinou, especialmente, os valores que eles nos passou.
É uma honra ser filha deste homem e assim sempre será.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
O último legado de nossos pais: acompanhá-los no fim da vida.
Estou voltando a ativa esta semana depois de um mês afastada. Inicialmente seriam somente férias mas o destino quis que tivesse que me despedir da minhã mãe - Mamita, como a chamávamos em casa - nesse período. Ela faleceu dia 25 de junho depois de quase 3 anos difíceis e nos quais, mais uma vez tive o privilégio de aprender com ela.
Em agosto de 2011 minha mãe chegou na nossa casa de repente. Sem aviso prévio. Ela teve um acidente doméstico e de uma mulher que morava sozinha e com boa independência viria a se tornar uma pessoa totalmente dependente, sem liberdade nenhuma.
A chegada de Mamita na nossa casa, causou uma reviravolta no nosso lar e na nossa família. Todos sofremos com esse impacto. Foram meses de adaptação difíceis, não só pela mudança drástica da rotina mas também pela perda quase total de privacidade pela companhia ininterrupta de uma cuidadora ou enfermeira - anjos que nos ajudam - que, por ficar em casa, não só acompanhavam Mamita mas a todos nós.
Durante um tempo imaginávamos que ela fosse melhorar e com isso ganhar maior independência e quem sabe voltar a morar sozinha. Ledo engano. O estado de saúde dela só se complicou. Na medida que ficava evidente para nós que ela tinha vindo para ficar, sentimentos e atitudes foram surgindo na nossa família - sem contar nela, sem dúvida, a mais afetada com tudo isso.
Quero lhes dizer que considero a experiência que vivemos fantástica. De uma grandeza sem tamanho. Óbvio que ela não foi fácil. Mas para quem está aberto a se auto-conhecer, refletir e procurar a evolução, é um PHD maravilhoso.
O primeiro ponto, que gostaria de compartilhar é a reflexão que nos provocou a pergunta de um sábio amigo ao ouvir nossa queixa sobre o que estávamos perdendo: "que sentimento é esse que não é capaz ceder à compaixão e acolher uma pessoa no final de sua vida". Egoísmo e individualismo, respondo hoje. Sem dúvida. Aqueles sentimentos que fazem colocar em primeiro lugar nosso eu com suas vontades, desejos e crença de que a vida nos deve e por isso andamos por ela cobrando mais e mais dela. Ao ter os espaços 'invadidos', os planos e agendas modificados, os momentos de descanso alterados e diminuídos, a situação poderia ser um grande problema, insuportável para alguns, se não houver compaixão e compreensão do momento do outro, da pessoa que mais está perdendo, o idoso.
O segundo ponto, é nossa cultura, e aqui vou focar na brasileira porque percebo diferenças em outros países latinos, de dar toda atenção às crianças e pouco aos idosos. Quando olhamos uma criança ficamos maravilhados com eles e embebecidos com a vida aflorando. E com nossos idosos? qual é o sentimento? talvez a percepção do nosso futuro. Creio que não queremos olhar para isso. Mas os idosos estão ai, cada vez vivendo mais e nos mostrando que mais cedo ou mais tarde chegaremos lá.
O terceiro ponto, é a alteração de papéis: você deixa de ser filha para se tornar mãe. É isso implica em impor, dar ordens e dependendo o caso, sem muita negociação. Creio que é uma das partes mais difíceis para ambas as partes. Não tem como não errar na dose, as vezes cede mais do que devia - e logo, logo as conseqüências, neste caso físicas, se fazem notar - ou fica rígida demais o que torna tudo muito duro e difícil. Assumir que agora é você que é responsável pelos teus pais - com tudo o que isso significa - não é fácil. Nessa fase, me ajudou muito interiorizar o conceito de devolver o amor e a dedicação recebida. Juntando com o primeiro ponto, tentar diminuir o egoísmo e a auto-importância, considero um dos maiores e mais bonitos aprendizados que tive. É quando você se disponibiliza a amar sem troca.
O quarto ponto é compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho... pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.
Uma vez uma prima escreveu, quando sua mãe passou por uma grave doença, que era como se sua vida tivesse parado. Hoje sei perfeitamente o que isso significa. Minha vida não parou, mas ela se fechou, se restringiu. O desgaste emocional e psíquico é maior do que a gente consegue entender. No fim da vida, nenhuma rotina pode ser planejada porque novos quadros vão surgindo. Aprendi sobre tantas doenças e sequelas que o corpo é capaz de gerar nesse processo, e claro a quantidade de produtos e serviços que existem para isso. Era um mundo que eu desconhecia completamente e de repente me vi nele envolvida sem muito tempo para raciocinar. Eram como ondas que vem sem descanso. E não são somente sete.
Mais o quinto e maravilhoso ponto da minha longa reflexão que me permiti hoje - desculpem por isso - é o que considero mais importante: o exercício de amor profundo que minha mãe e eu tivemos nesse tempo divino. Aprendi no Projeto Mulheres que as relações mãe-filha nem sempre são tão fáceis ou resolvidas. Depois de ir trabalhando os pontos que mencionei acima, claro que meio consciente, meio inconsciente, só restou a compreensão que minha mãe e eu tínhamos uma oportunidade única de colocar nossa história a limpo e dissolver mágoas, incompreensões, mal-entendidos e praticarmos algo que sempre existiu entre nós: o amor.
No último ano e meio de vida dela, se por um lado sua saúde piorou consideravelmente e fez minha vida virar um constante sobressalto, por outro, nossa relação era só amor e ternura. Doação genuína, de ambos os lados. Vivia agradecendo a oportunidade que tinha por dar amor e por retribuir o amor que tinha recebido dela. Como mulher madura entendi minha mãe, suas decisões, suas escolhas. Posso não concordar com elas, mas respeito e admiro a coragem que sempre teve em seguir adiante.
Graças a Mamita e esse tempo intenso que vivemos juntas, hoje vejo a vida de forma diferente. Consciente que o único arrependimento que fica no nosso coração quando perdemos alguém que amamos profundamente, é o amor que não fomos capazes de dar. Mais um legado de minha mãe para minha vida.
O segundo ponto, é nossa cultura, e aqui vou focar na brasileira porque percebo diferenças em outros países latinos, de dar toda atenção às crianças e pouco aos idosos. Quando olhamos uma criança ficamos maravilhados com eles e embebecidos com a vida aflorando. E com nossos idosos? qual é o sentimento? talvez a percepção do nosso futuro. Creio que não queremos olhar para isso. Mas os idosos estão ai, cada vez vivendo mais e nos mostrando que mais cedo ou mais tarde chegaremos lá.
O terceiro ponto, é a alteração de papéis: você deixa de ser filha para se tornar mãe. É isso implica em impor, dar ordens e dependendo o caso, sem muita negociação. Creio que é uma das partes mais difíceis para ambas as partes. Não tem como não errar na dose, as vezes cede mais do que devia - e logo, logo as conseqüências, neste caso físicas, se fazem notar - ou fica rígida demais o que torna tudo muito duro e difícil. Assumir que agora é você que é responsável pelos teus pais - com tudo o que isso significa - não é fácil. Nessa fase, me ajudou muito interiorizar o conceito de devolver o amor e a dedicação recebida. Juntando com o primeiro ponto, tentar diminuir o egoísmo e a auto-importância, considero um dos maiores e mais bonitos aprendizados que tive. É quando você se disponibiliza a amar sem troca.
O quarto ponto é compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho... pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.
Uma vez uma prima escreveu, quando sua mãe passou por uma grave doença, que era como se sua vida tivesse parado. Hoje sei perfeitamente o que isso significa. Minha vida não parou, mas ela se fechou, se restringiu. O desgaste emocional e psíquico é maior do que a gente consegue entender. No fim da vida, nenhuma rotina pode ser planejada porque novos quadros vão surgindo. Aprendi sobre tantas doenças e sequelas que o corpo é capaz de gerar nesse processo, e claro a quantidade de produtos e serviços que existem para isso. Era um mundo que eu desconhecia completamente e de repente me vi nele envolvida sem muito tempo para raciocinar. Eram como ondas que vem sem descanso. E não são somente sete.
Mais o quinto e maravilhoso ponto da minha longa reflexão que me permiti hoje - desculpem por isso - é o que considero mais importante: o exercício de amor profundo que minha mãe e eu tivemos nesse tempo divino. Aprendi no Projeto Mulheres que as relações mãe-filha nem sempre são tão fáceis ou resolvidas. Depois de ir trabalhando os pontos que mencionei acima, claro que meio consciente, meio inconsciente, só restou a compreensão que minha mãe e eu tínhamos uma oportunidade única de colocar nossa história a limpo e dissolver mágoas, incompreensões, mal-entendidos e praticarmos algo que sempre existiu entre nós: o amor.
No último ano e meio de vida dela, se por um lado sua saúde piorou consideravelmente e fez minha vida virar um constante sobressalto, por outro, nossa relação era só amor e ternura. Doação genuína, de ambos os lados. Vivia agradecendo a oportunidade que tinha por dar amor e por retribuir o amor que tinha recebido dela. Como mulher madura entendi minha mãe, suas decisões, suas escolhas. Posso não concordar com elas, mas respeito e admiro a coragem que sempre teve em seguir adiante.
Graças a Mamita e esse tempo intenso que vivemos juntas, hoje vejo a vida de forma diferente. Consciente que o único arrependimento que fica no nosso coração quando perdemos alguém que amamos profundamente, é o amor que não fomos capazes de dar. Mais um legado de minha mãe para minha vida.
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