Mostrando postagens com marcador crianças. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crianças. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Filhos não foram feitos para atender as expectativas de seus pais


Já adiantei ontem, aqui, que um dos meus prazeres quando almoço sozinha é ouvir as conversas das mesas ao lado. Mas esta confissão só serve para que eu possa contextualizar o assunto de hoje. No último sábado, estava esperando meu almoço, contemplando o bom dia, quando pessoas sentaram na mesa ao lado da minha. Dois casais e uma adolescente. Pelo que pude perceber, o casal mais velho eram os pais da menina e o rapaz, do casal mais novo, era filho do pai da menina, ou seja, meio irmão dela. Lá pelas tantas o rapaz pergunta para a irmã se ela já havia decidido que vestibular faria. Antes que a menina tivesse a oportunidade de abrir a boca, a mãe começou a responder. Contou que outro dia a menina veio com um história de fazer cinema, mas é lógico que ela, a mãe, já cortou esta possibilidade. “Não vamos nem falar sobre isso, Fulana. Faculdade de cinema não serve para nada. Nem para ganhar dinheiro e nem para arranjar marido. Pensa em outra coisa e já tira desta lista também jornalismo, teatro, artes plásticas e essas coisas assim. Aliás risca qualquer curso de Humanas". O pai da menina, que estava mais entretido com o seu celular do que com a conversa, levantou a cabeça, olhou para as duas e voltou ao seu entretenimento, sem falar nada. O irmão e a suposta cunhada, deram algumas risadas e a menina permaneceu calada. A conversa seguiu neste tom, mas perdi o foco, pois já tinha escutado o suficiente para minha cabeça começar a pensar neste texto.

Fiquei refletindo na falta de cuidado ao lidar com filhos adolescentes. Uma coisa que aprendi, anos atrás, quando decidi colocar meu filho de um ano e meio numa escola puramente construtivista, foi o respeito pelo indivíduo. É verdade que optei por escolas que não estavam no ranking dos melhores colégios da cidade - aqueles que preparam a pessoa para o vestibular mais complexo ou mesmo para formar os executivos mais poderosos do futuro. Mas me orgulho por ele ter recebido uma educação muito humana que valorizava quem ele é. Lembro-me de ter ouvido diversas vezes, nas reuniões de pais, a seguinte frase: “Quando alguém perguntar algo a seu filho, não responda por ele. Confie na capacidade que ele tem de se expressar”. Não vou negar que este exercício é bem difícil, portanto, não conto esta história na intenção de julgar a mãe do restaurante. Talvez, para ela, isso nem faça sentido. Mas fiquei curiosa em saber qual seria a resposta da menina, coisa que, até onde participei, não aconteceu.

Outra coisa (e isso sim me chocou) é a mãe achar que tem o direito de decidir o que a menina vai ser "quando crescer”. Especialmente porque os critérios da mãe estavam baseados em: 1) ganhar dinheiro, 2) arranjar marido. Ela não é a única, eu sei. A mulher parecia bem prática e, portanto, deveria estar apenas querendo encurtar o caminho de decepções que a menina poderia passar na vida até encontrar o seu caminho. Mas cá entre nós: o barato da vida não é exatamente a busca? De novo, como mãe, consigo entender que querer proteger o filho é visceral, mas não há o que se possa fazer para impedir os obstáculos que cada um vai ter que superar. Lidar com este fato o quanto antes fará das nossas vidas, mamães, menos pesadas. 

Fiquei pensando que o que mais detestava na minha mãe - na minha adolescência - era o fato dela nunca decidir nada por mim. As frases que mais ouvia era: Você que sabe. Como você quer? O que vai ser melhor para você? Eu achava injusto ela deixar na minhas mãos todas as minhas escolhas. Hoje, com o coração cheio de gratidão, amo minha mãe por isso. Tenho certeza que não teria conseguido passar pela minha vida se ela tivesse decidido coisas como a faculdade que eu iria fazer por ser um lugar potencial para eu encontrar um marido. Meu espírito livre não suportaria.

Tentei limpar a tendência de julgar aquela mãe para narrar um fato bem comum e talvez ela saiba o que é melhor para sua filha. E que o meu filho me perdoe se sentir que estou sendo injusta em dar a ele a opção de errar ou acertar.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A essencial sabedoria das crianças

Vídeos de crianças fazendo gracinhas nas redes sociais é um clássico garantido de sucesso. Vira o que nós, publicitários, gostamos de chamar de "hits da internet". São especialmente bem aceitos porque a criança é essência, portanto, sempre sai muito mais espontâneo. Me chamou a atenção dois destes vídeos que "bombaram" nas redes nas últimas semanas. 

Primeiro veio o do menino que argumenta carinhosamente com a mãe porque ele não quer comer o polvo. A voz do menino é de uma doçura tocante! A surpresa é que você acha que vai ver mais um fofurinha e dar muita risada, mas o que acontece é que o menino passa uma mensagem poderosa e emociona a mãe. Muito lindo. O outro vídeo é de uma menina - e foi menos divulgado. Ela é bem falante e alguns momentos até parece que ela está simplesmente repetindo palavras que ela ouviu de alguém. O que, por si só, não deixa de ser emocionante porque a  mensagem é muito bonita. Mas a sensação de que ela está fazendo aquilo de forma mecânica desaparece nos minutos finais quando ela está interagindo com a família sobre assuntos mais do universo infantil. Ao menos para mim, ficou claro que esta menina é especial mesmo. Os vídeos estão no final deste texto.

Os que acreditam que estamos entrando numa nova era, afirmariam que estes dois pequenos são exemplos de crianças "cristal" (essência pacificadora), que estão vindo ao mundo para ajudar as crianças  e jovens chamados de índigos - que já são seres de uma nova era, mas com uma essência guerreira que chegam ao nosso planeta com o papel de nos guiar a uma nova dimensão. Não vou entrar no mérito, mas se você se interessar pelo assunto, o trabalho da Casa Indigo parece ser bastante sério e você pode buscar mais informação no site da Instituição que é de origem portuguesa.

A intenção da reflexão de hoje, no entanto, é sobre a essência da criança e de quanta sabedoria existe nela. Não existe nada mais restaurador do que estarmos conectados com os pequenos. Ouvir e entender o que eles dizem são ensinamentos simples, claros e essenciais que nos ajudam em momentos que a nossa couraça adulta só atrapalha. 

Lembrei de uma senhora com quem trabalhei anos atrás. Ela sempre falava que costumava dizer que cometeu muito erros no passado e que se tivesse a chance de voltar atrás faria tudo diferente. O filho cresceu ouvindo ela falar isso. Um dia, quando ele tinha lá seus 7 ou 8 anos, ele simplesmente vira para ela e diz: "o problema mãe é que você escreveu a sua história com caneta, se tivesse escrito a lápis talvez desse para apagar". Eu adoro esta frase!

Meu filho também sempre foi cheio de tiradas que me ensinaram muitíssimo. Passei, depois de um tempo, a anotá-las porque gostaria de levar esta sabedoria pela vida inteira. Selecionei duas das suas frases que são as minhas preferidas. A primeira foi quando estávamos indo a uma festa junina numa chácara. Me perdi no caminho e tentei permanecer calma, mas como não conseguia de jeito nenhum sair do labirinto que estávamos, fiquei muito desesperado e disse em voz alta: "meu deus, não sei mais para onde ir". Então escuto aquela vozinha do menino de 6 anos dizendo: "Buda disse que é sempre melhor irmos pelo caminho do meio". Aquilo foi tão inesperado que comecei a rir descontroladamente. Me acalmou e consegui sair pelo que considerei "o caminho do meio". Perdemos a festa, mas aquele dia, Buda nos salvou. Depois descobri que ele estava estudando a história das religiões na escola e foi lá que ele ouviu falar do Buda e seus ensinamentos. Uma outra vez, mais ou menos na mesma época, ele me questionou porque eu estava demorando tanto para tomar uma decisão. Disse a ele que precisávamos tomar cuidado ao fazer escolhas porque o risco de levar um tombo e nos machucarmos era muito alto. Ele respondeu: "Ah mãe pode ir muito mais depressa porque tem paraquedas dentro de você. Você só vai se machucar se não usar o seu". A imaginação é simplesmente incrível, não? Toda decisão que tenho que tomar até hoje lembro-me desta frase.

Por isso digo: esteja com seu coração aberto e seu ouvido e olhos atentos às crianças. Seja grato se puder conviver com elas. A sabedoria e a pureza desses pequenos seres podem te dar muita luz e discernimento.