quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O mais gostoso é a diversão do percurso


O caminho do autoconhecimento que nos leva ao (re)encontro de nós mesmos, como falamos ontem, é uma das grandes conquistas que o homem contemporâneo, tão afastado de si mesmo, pode alcançar. Não importa exatamente o caminho que se permita trilhar para isso, mas seja qual for, é preciso coragem e determinação. Afinal, a busca da nossa verdadeira identidade fará com que deixemos para trás padrões, máscaras, crenças e também pessoas que já não se sintonizam mais com quem somos. Isso tem lá suas consequências, é verdade. Assusta, faz com que muitas pessoas se percam pelo caminho, recuem. Se pudesse dar um único conselho a quem está iniciando a jornada seria: NÃO DESISTA. O que você vai encontrar lá na frente é algo tão maravilhoso que vale a caminhada. 

Ouvi uma história muito profunda que ajuda e estimula este momento em que nos lançamos em busca do que somos. É sobre o povo naskapi que até hoje habitam um dos lugares mais selvagens do planeta: as florestas da península do Labrador, no leste do Canadá. Eles são caçadores simples que vivem em grupos familiares isolados e tão separados um dos outros que nem se quer criaram costumes, crenças ou rituais tribais. Isso significa que este povo tem uma vida muito solitária e tem que contar apenas com as suas próprias vozes interiores para se guiar. Sua alma é seu principal companheiro e eles a chamam de “mista’peo” ou “grande homem”. Mista’peo habita o coração do homem e é um ser imortal.  A contrapartida por esta sempre em conexão direta com o seu grande homem, para os Naskapi, é obedecer as instruções que são transmitidas por meio da sua intuição, sonhos e pela expressão artística. Mentiras e desonestidades afastam o grande homem do reinado interior do indivíduo, enquanto a generosidade, amor ao próximo e aos animais atraem-no e lhe dão vida. Conhecer esta história me ajudou a compreender porque precisamos de instrospecção e até mesmo do caminho solitário, muitas vezes, rumo ao nosso reencontro.  Mas certamente o que iremos encontrar e o que descobriremos, assim como os naskapi, é a certeza que estaremos íntegros e prontos para vivenciarmos umas das experiências mais maravilhosas da vida que é a plenitude.

Um outro lado deste reencontro - e que também pode parecer dolorido e difícil num primeiro momento - é a sombra. Quanto mais luz, mais sombra. É inevitável. O se conhecer faz com que a gente passe, inevitavelmente, por tudo que somos, querendo ou não. Se não for assim, não é de verdade, não é pleno e você estará apenas se enganando. Recorro ao capítulo que coube a Dra. Von Franz no livro O Homem e seus Símbolos, em que ela ilustra, por meio da orientação de Jung, todo o processo da individuação. Sobre a sombra especificamente, ela diz:

Depende muito de nós mesmos a nossa sombra tornar-se nossa amiga ou inimiga. Na verdade, ela se parece com qualquer ser humano com que temos que nos relacionar: segundo as circunstâncias, algumas vezes cedendo, outras resistindo, outras ainda dando-lhe amor. A sombra só se torna hostil quando é ignorada ou incompreendida.

Esta explicação, na medida do possível, é reconfortante para seguirmos em frente, afinal, como a própria filosofia do Jung nos diz: o homem só se torna um ser integrado, tranquilo, fértil e feliz quando (e só então) o seu processo de individuação está realizado, quando consciente e inconsciente aprendem a conviver me paz e completando-se um ao outro.

No mais é divertir-se no percurso!

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