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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Mudar e Experimentar. Ou Vice-versa.


Um dos comportamentos mais comuns atualmente é a falta de cuidado em nossos relacionamentos. A maioria das pessoas não está disposta a entender o outro. Dialogar com calma e entender as razões de cada um então...é quase uma afronta. É mais fácil desistir, partir para outra. As estatísticas dos casais que se divorciam nos primeiros anos do casamento estão aí para comprovar. E nas nossas andanças pelo Movimentos Humanos a gente confirma a estatística e percebe o quão inconsciente é, muitas vezes, a intolerância entre casais o que leva logo ao rompimento e não a oportunidade de amadurecer e criar uma relação equilibrada.



A grande questão é que todos nós somos diferentes e se não estivermos abertos ao diálogo e dispostos a ceder, o mínimo que seja, certamente só veremos mais e mais amores acabarem em mágoas e processos de separação. Não é fácil cultivar uma relação. É como educar filhos: dá trabalho, exige atenção e não tem fim. Tem que cuidar diariamente. A vontade de desistir, muitas vezes, é um alívio para aquilo que não conseguimos lidar. Mas também não é a solução, pois você pode fugir  para o deserto do Saara e, mesmo assim, o que não foi resolvido vai, de algum modo, te acompanhar.

Este assunto veio à tona neste fim de semana para mim. Eu e meu “namorido” somos muito diferentes no jeito de agir e (re)agir. Isso já fez com que a nossa relação chegasse a beira do penhasco inúmeras vezes. Aliás, a relação chegou a despencar - é bem verdade. Digo que foi  preciso nos matar para revivermos num relacionamento com um olhar mais maduro, mais entregue. Amadurecemos em nome de algo muito maior que as diferenças: a vontade de ficarmos juntos. Pois bem...a vida nos coloca  a prova de tempos em tempos só para termos certeza de que aprendemos.

Vamos lá: Me mudei pouquíssimas vezes na vida (a última vez há 9 anos atrás, quando comprei um apartamento e a penúltima há 13 anos quando vim de Curitiba para São Paulo). Mas as poucas vezes foram suficientes para ver como funciono a respeito do assunto. Gosto de fazer a mudança sozinha. Claro que preciso de ajuda para levar os móveis de uma casa para outra, mas quando está tudo na casa nova, prefiro resolver só (ou com o mínimo de pessoas possíveis). Isso faz com que eu entre em contato com aquele novo ambiente e, aos poucos, sinto dentro de mim, a transformação da casa (ambiente físico) para o lar (ambiente de proteção). Dá um trabalho danado. Mas é a renovação que preciso para começar um novo ciclo.

Meu companheiro, claro, gosta mesmo de resolver tudo em comunidade. Reunir as pessoas queridas para ajudar na mudança, todo mundo dando palpite, a casa cheia, amigos dividindo o espaço com as caixas e móveis fora do lugar, é o jeito dele se conectar com o novo ambiente. E como foi ele quem mudou no sábado, lá fui eu. Coração aberto, mas sabendo que estava prestes a viver uma experiência difícil. E apesar de ser a casa dele, combinamos que passarei mais tempo lá e, por isso, idealizamos o projeto juntos. Então a mudança era um pouco minha também. Combinamos que na parte da manhã eu iria resolver algumas coisas fora e ajudaria à tarde. Cheguei às 15h e o que encontrei? Como disse, ele gosta do coletivo. O apartamento estava tomado de caixas, móveis, amigos, música alta e animada, furadeira, telefone tocando e por aí vai. E, o meu amor querido, feliz da vida, no meio do caos, ainda me pergunta: “Por que você não trouxe o jimi?”(jimi é o nosso cachorro, meio igual a mim, que achei ficaria melhor na tranquilidade de um lar já montado!). No meio de tudo aquilo o aberto do meu coração, conforme afirmei algumas linhas acima, começou a virar uma frestinha quase imperceptível. Durante a primeira meia hora achei até que ele ia mesmo se fechar violentamente – como uma porta que bate com o vento forte. Mas percebi o que estava acontecendo comigo e consegui reagir ao movimento que me contrariava. Resisti firmemente a deixar meus impulsos irracionais tomarem conta da situação e comecei a trabalhar. Mão na massa, coração amenizado e vamos nessa. Estamos juntos e posso ao menos tentar, pensei.

A mudança terminou em pizza, no fim da noite, com mais amigos que foram chegando, e muita coisa ainda por fazer. Mas estávamos felizes. Ele com a conquista e eu com a experiência, com a felicidade dele (e com meu comportamento, confesso). É bem verdade que, ao decidirmos morar em casas separadas, facilitamos a vida e quando for a minha vez de mudar, vamos fazer diferente. Mas tudo bem. Sei que ele topa.


Para terminar o fim de semana, ontem ele já era melhor amigo do vizinho de porta, já conhecia a namorada do sujeito e já havia convidado o casal para um vinho, em casa, claro. Eu, nem preciso dizer, sou mais reservada e apesar de ter um relacionamento cordial com meus vizinhos, poucos se tornaram amigos e frequentam o meu apartamento. Pensei comigo: isso tudo é rápido demais para mim. Fiquei meio estranha e, meio de mal jeito, sem entender direito o que estava acontecendo, nós conseguimos nos adequar a situação. Ele foi ao supermercado comigo enquanto os vizinhos terminavam outro compromisso e de lá escapei para casa. Ele tomou o vinho com os novos amigos e eu tomarei muitos vinhos com eles também. Mas, calma, preciso respirar um pouco. Meu ritmo é diferente. Como meu namorado mesmo concluiu: “Nem certo, nem errado. Diferente”. Vitória do amor.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Um casal num jardim sem flor


Senhora e Senhor, Titãs




Iniciei o texto já com a trilha sonora porque a música contextualiza o tema melhor do que qualquer história que eu venha contar. Para quem não quis clicar no vídeo, alguns versos da canção:


Veja só o que restou
Do nosso caso de amor
Uma casa com varanda
E um jardim que não dá flor

Uma geladeira cheia de comida sem sabor
Um programa interminável diante do televisor
Uma lâmpada queimada no lustre do corredor
O pensamento distante para evitar a dor

Para falar a verdade eu estava entre dois ou três assuntos para refletirmos hoje, mas nenhum batendo forte no meu coração. Foi quando uma cena me chamou a atenção: no restaurante, mesa ao lado da minha, um casal de meia idade almoçava em silêncio. Nenhuma só palavra foi trocada durante todo o tempo em que ficaram ali. Poderia ser cumplicidade, mas não pareceu. O homem mexia no telefone, a mulher pairava o olhar para o nada. A música do Titãs me invadiu.

Fiquei pensando se todos os casais estão fadados a chegar nesta fase do desinteresse total. Será que alguém chama isso de companheirismo? Dizem que com o tempo o amor se transforma em outra coisa e, de repente, o seu marido (sua esposa) se torna um amigo, um companheiro, muito mais do que um amante. Que linha tênue é essa que separa a indiferença da cumplicidade, afinal? Meu primeiro casamento não durou muito para ter uma referência. O atual não é exatamente convencional (moramos em casa separadas – ou pode-se dizer que namoramos há 8 anos). Aprendi com o tempo a não ser radical e a “nunca dizer nunca”, mas me causa arrepios pensar em passar 10 minutos ignorando e sendo ignorada por alguém que convive comigo – quanto mais anos!  Veja que usei o verbo ignorar. Não falei em silêncio. Ah....essa tal linha tênue de novo por aqui!

Ando interessada nos casais de meia idade. Mulheres um pouco mais velhas do que eu, talvez um geração anterior, que já trilharam caminhos parecidos com os meus: boa formação, trabalham fora, os filhos cresceram e os netinhos começam a chegar. Eu não consigo acreditar que essas mulheres ficaram num casamento infeliz por medo, conformismo, pelos filhos. Os homens eu consigo, mas as mulheres? Posso não querer acreditar, mas sei que é provável que ficaram. Até hoje ficam! Minha geração fica. Me entristeço com isso.

Mas me entristeço mais pelos casais que se amam e se conformaram com a indiferença. Uma vez uma terapeuta me disse que um casal deveria assinar um contrato falando, entre outras coisas, que eles iriam se provocar mutuamente até o fim dos seus dias. Não apenas no sentido sexual, mas em todos os sentidos. É dever um do outro: dar cutucões, acordar o outro para a vida, mostrar que existe pulso e que a vida não acabou apenas porque restaram só os dois em casa. Existe muito mais do que o olhar tão desbotado que já não distingue cor. Mas precisa de atitude para isso acontecer. Como tudo na vida.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A arte de jogar conversa fora



A dica para este fim de semana é muito fácil e muito difícil ao mesmo tempo. Nossa proposta é "bater papo"! Isso mesmo! "Jogar conversa fora", como diz a expressão popular. Pense em quantos amigos que você não fala há muito tempo ou aqueles que você encontra por acaso na correria do dia a dia e combina um café que nunca acontece ou ainda, os amigos mais chegados que você vai protelando de encontrar para conversar com calma, para falar e para ouvir. Pois a proposta é que você escolha um desses amigos e realmente combine de encontrar e realmente vá! Encontre seu amigo, receba-o em casa, tanto faz. Passe um bom tempo com ele. Coloque o assunto em dia. Este ato é renovador e vai fazer muito bem.


Você já deve ter ouvido falar que os antigos, especialmente os povos indígenas, costumam se reunir ao redor de uma fogueira para conversar. Assim como certamente já escutou sua avó contar que antigamente era comum se sentar na frente das casas no fim do dia para "jogar conversa fora". No mundo de hoje este ritual ficou cada vez mais difícil e por mais que a gente fale o tempo todo, como muitas pessoas, é cada vez mais difícil conversarmos de fato com amigos.

Quer saber? Mesmo que você não faça isso com amigos antigos, faça com a sua família, em casa. Reunindo todos da cozinha, por exemplo e cozinhando para eles, sem pressa de terminar, sem cobranças que é hora do almoço ou do jantar. Percam-se nas horas e simplesmente conversem. É muito bom.

Para inspirar você pode pensar num ritual do xamanismo que fala da  meditação pelo uso da palavra. Nesses rituais é comum usar um instrumento chamado o pau-falante. Ele é utilizado especificamente por nativos norte-americanos. Trata-se de um pedaço de pau consagrado para que se apresente o "sagrado ponto de vista ". A pessoa que vai falar está com o pau-falante (ou pau que fala) nas mãos e ninguém mais pode falar enquanto o outro estiver com o objeto. Essa pessoa pode falar o que ela quiser, sobre quem quiser, da forma que quiser. É um lindo exercício de paciência, respeito e capacidade de ouvir. Você não precisa obviamente ir as vias de fato e ter o pau falante numa conversa informal com um amigo, mas pense no seu significado. Conduza a conversa pensando que seu amigo tanto pode ser a pessoa que fala quanto pode ser o ouvinte. E vice-versa. Vão ser horas meditativas.

Sei que normalmente a gente tem vontade de falar por horas com alguém, mas nossa vida e, principalmente nossa cabeça nos paralisa. Clarice Linspector, quando morava no exterior, costumava se corresponder por cartas com seus amigos que estavam no Brasil. Em 1945 ela escreveu uma carta para sua amiga Tania Kaufman e num dos trechos ela mostrava a dificuldade de expressão que é comum entre as pessoas. Dizia assim: "mesmo pessoalmente é difícil conversar, mesmo quando a conversa é entre duas irmãs que se gostam e se entendem. Mil sentimentos atrapalham, seja o próprio amor, a desconfiança de que o outro esteja vagamente mentindo, a vontade de convencer, etc". 

Que tal deixar isso tudo de lado, passar a mão no telefone e ligar agora para um amigo e bater um super papo?

Um fim de semana cheio conversas gostosas para todos nós!