Senhora e Senhor, Titãs
Iniciei o texto já com a trilha sonora
porque a música contextualiza o tema melhor do que qualquer história
que eu venha contar. Para quem não quis clicar no vídeo, alguns versos da canção:
Veja só o que restou
Do nosso caso de amor
Uma casa com varanda
E um jardim que não dá flor
Do nosso caso de amor
Uma casa com varanda
E um jardim que não dá flor
Uma geladeira cheia de comida sem sabor
Um programa interminável diante do televisor
Uma lâmpada queimada no lustre do corredor
O pensamento distante para evitar a dor
Um programa interminável diante do televisor
Uma lâmpada queimada no lustre do corredor
O pensamento distante para evitar a dor
Para falar a verdade eu estava entre dois
ou três assuntos para refletirmos hoje, mas nenhum batendo forte no meu
coração. Foi quando uma cena me chamou a atenção: no restaurante, mesa ao lado da minha, um casal de meia idade almoçava em silêncio. Nenhuma só palavra foi trocada durante todo o tempo em que ficaram ali. Poderia ser
cumplicidade, mas não pareceu. O homem mexia no telefone, a mulher pairava o
olhar para o nada. A música do Titãs me invadiu.
Fiquei pensando se todos os casais estão
fadados a chegar nesta fase do desinteresse total. Será que alguém chama isso
de companheirismo? Dizem que com o tempo o amor se transforma em outra coisa
e, de repente, o seu marido (sua esposa) se torna um amigo, um companheiro,
muito mais do que um amante. Que linha tênue é essa que separa a indiferença da
cumplicidade, afinal? Meu primeiro casamento não durou muito para ter uma referência.
O atual não é exatamente convencional (moramos em casa separadas –
ou pode-se dizer que namoramos há 8 anos). Aprendi com o tempo a não ser
radical e a “nunca dizer nunca”, mas me causa arrepios pensar em passar 10 minutos
ignorando e sendo ignorada por alguém que convive comigo – quanto mais
anos! Veja que usei o verbo ignorar. Não falei em silêncio. Ah....essa tal linha tênue de novo por aqui!
Ando interessada nos casais de meia idade. Mulheres um pouco mais velhas do que eu, talvez um geração
anterior, que já trilharam caminhos parecidos com os meus: boa formação,
trabalham fora, os filhos cresceram e os netinhos começam a chegar. Eu não
consigo acreditar que essas mulheres ficaram num casamento infeliz por medo,
conformismo, pelos filhos. Os homens eu consigo, mas as mulheres? Posso não
querer acreditar, mas sei que é provável que ficaram. Até hoje ficam! Minha
geração fica. Me entristeço com isso.
Mas me entristeço mais pelos casais que
se amam e se conformaram com a indiferença. Uma vez uma terapeuta me disse que
um casal deveria assinar um contrato falando, entre outras coisas, que eles
iriam se provocar mutuamente até o fim dos seus dias. Não apenas no sentido
sexual, mas em todos os sentidos. É dever um do outro: dar cutucões, acordar o outro para a vida, mostrar que existe pulso e que a vida não acabou apenas porque
restaram só os dois em casa. Existe muito mais do que o olhar tão desbotado que
já não distingue cor. Mas precisa de atitude para isso acontecer. Como tudo na vida.
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