Imagine as cenas: você encontra o vizinho, na saída do elevador e diz “tudo bem?”(que neste caso nada mais
é do que “oi”) e o cara, simplesmente despeja um monte de coisas em cima de
você (normalmente só desgraças). Você combina com uma amiga de almoçar para
bater papo, mas ela fala sem parar o almoço todo, trazendo dilemas mil para mesa
e mal deixando espaço para você se expressar. Um colega de trabalho é promovido e você vai
parabenizá-lo acreditando que ele está feliz, mas quando o encontra ele só fala
mal do chefe, diz que achou estranha a promoção e por aí vai. Um parente te
procura porque precisa de conselhos e você se dispõe a ajudar. Ele vai até sua
casa, conta o problema, mas na hora do conselho você percebe que ele nem está
prestando atenção. Na hora você até releva, afinal, talvez ele precisasse
apenas desabafar. Mas à noite, falando com seu irmão, descobre que ele já
esteve com metade da família pedindo o mesmo conselho.
Tenho certeza que enquanto você
lia, alguns nomes passaram pela sua cabeça. Se não foi um vizinho, foi um
conhecido. Se não foi um parente, foi um amigo e assim por diante. E sejamos
sinceros, nós também, às vezes, estamos no lado oposto. Nada mais humano, afinal,
um dia ou outro você está um pouco mais pessimista. Mas a verdade é
que tem gente que parece que anda com um nuvem preta em cima da cabeça, não é?
É aquela pessoa chata, pesada, que suga energia. Para descontrair e não deixar
o clima sufocante, cito Millôr Fernandes que dizia que o chato é aquela pessoa que conta tim tim por tim tim e depois ainda
entra em detalhes. Oswaldo Montenegro (para muitos um “chato de galocha”)
fez até uma música sobre tema: ah,
todo chato é gosmento, mas não há como evitar, eu sou um chato e meu Deus não
me aguento, só me tacando no mar.
Pegando o gancho do cantor, já
que não podemos evitar pessoas assim, podemos estar conscientes
para tentarmos não ser uma delas. No livro As Cartas do Caminho Sagrado, a autora
Jamie Sans nos conta a respeito da cesta de carga. Antigamente as nativas
americanas usavam este objeto para carregar lenha. Quando não estavam sendo
utilizadas, as cestas ficavam penduradas do lado de fora da Tenda para lembrar ao
visitante que deveria deixar suas queixas ou problemas pessoais ali, antes de entrar no Espaço Sagrado do outro. Adoro a sabedoria
desses povos!
Hoje em dia falta o respeito pelo espaço sagrado. Parte dessa atitude se explica pela falta de autoconfiança das pessoas. Se estivermos equilibrados e confiantes somos capazes de liberar nossos fardos sem fazer deles um drama, encontrando nossas
próprias respostas internas. Não estou dizendo que não devemos dividir
momentos difíceis com as pessoas que confiamos, estou dizendo que o
ideal é não fazermos das nossas questões um palco aberto.
Uma outra reflexão sobre o tema
é para os “bons ouvintes”. Normalmente eles costumam
respeitar o espaço do outro, mas esquecem de respeitar o seu próprio espaço
sagrado e fazem dos seus ouvidos, literalmente, um pinico. Se você é
assim, lembre-se: se não é função dos outros resolver seus problemas, também
não é sua obrigação resolver os fardos alheios. Selecione as pessoas que você
realmente se sente bem no papel de confidente e feche seus ouvidos para o resto.
Proteja-se ou viverá sempre cansado e sem energia de tanto querer ajudar quem
nem respeita a sabedoria oferecida por você.
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