quinta-feira, 25 de julho de 2013

Coisas que aprendi com um homem das antigas



O Vidigal era um “homem das antigas” como diz a expressão. Amoroso, protetor, cavalheiro. Jamais deixou de abrir a porta do carro para uma mulher, sempre escolhia o restaurante e pedia o melhor vinho. Depois pagava a conta. Fazia questão! Uma mulher, ao seu lado, só precisava dizer qual era o seu desejo. Ele atendia a todos! Era rico – o que ajudava bastante a suprir todos os caprichos da amada da vez. Também era charmosão - mesmo quando o conheci – já mais velhinho. Seus cabelos brancos reluziam, lindos, num topete. Era alto o Vidigal. Tinha porte de atleta. Era culto. Dirigia uma mercedes antiga, daquelas que quando você entra no carro fica impressionada ao ver que o símbolo do capô fica muito, mas muito distante do para-brisas.

Quando se apaixonava (Vidigal vivia apaixonado) dizia que  estava “cortejando” a sua escolhida. Não é à toa que teve centenas de noivas, mas nunca casou. Fui apresentada ao Vidigal por uma amiga, num dia em que estávamos batendo papo num Café. Ele entrou com seu cabelão e seu porte vaidoso e eles logo se reconheceram. Foi uma farra. Fazia anos que não se viam. Ficamos horas conversando. Depois Vidigal me cortejou, assim como já havia, no passado, feito com minha amiga. Mas nunca consegui ter mais do que um grande amor fraternal por ele. Na verdade eu e minha amiga acabamos criando um jargão a respeito do assunto. Sempre que estávamos passando por situações difíceis lá vinha o Vidigal nos amimar. Terminávamos sempre nos sentindo melhor e dizendo: “Sempre teremos o Vidigal”. Na verdade ele nem se chamava Vidigal, mas logo que o conheci, eu confundia o nome e o chamava assim. Ele dava risada da confusão. Depois o Vidigal empobreceu. As mulheres sumiram e os “amigos” de farra também. Vidigal foi ficando deprimido, chateado e, por fim, sumiu. Nunca mais conseguimos saber dele. Gosto de pensar que ele está em outro canto do mundo (ou em outra dimensão) cortejando mulheres e as fazendo se sentir rainhas, como fez conosco. A nós sobrou a lembrança de que "sempre teremos o Vidigal".

Me lembrei dele agora porque  outro dia estávamos dialogando com um grupo de homens. Um rapaz muito jovem nos contou que não entende o que as mulheres querem. O pai, que faleceu quando ele era ainda menino, teve tempo de ensiná-lo que deveria ser cavalheiro. Então, ao crescer, começou a usar o que aprendeu com ele: abrir a porta do carro, pagar a conta do restaurante. Essas coisas de outro mundo. Mas as meninas não gostavam. Ele conta que a maioria deixava claro que preferiam abrir, elas mesmas, as portas e quase o deixavam sozinho no restaurante, ofendidas, porque elas podem pagar uma conta. Então ele parou de fazer isso. Achou que os tempos haviam mudado da época do pai para cá. E começou a tratar as mulheres mais de igual para igual. Pois não é que levou paulada de novo? De repente elas queriam que ele fosse mais cavalheiro e que pagasse  não só a conta, mas as cobrissem de mimos. 

Como já dizia a minha vó: não tem “cangalha” que sirva. Assim estamos nós, mulheres, hoje. Depois achamos que os homens estão perdidos à toa. E o Vidigal ressurgiu nesta história porque, muitas vezes, me sentia incomodada com os mimos e cortejos dele. Depois que virou uma espécie de irmão mais velho não, mas no início, me sentia constrangida. Depois entendi, que ele não queria nada em troca e que eu não precisava terminar a noite me oferecendo para ele por ter sido tão carinhoso e atencioso comigo. Talvez as meninas que foram surpreendidas pelo rapaz, na sua fase cavalheiro, também tiveram este mesmo sentimento.

As mulheres e seus receios, vinculados a um passado de repressão, precisam limpar está má impressão da  sua essência, do seu DNA. E como fazer isso? Vulnerabilidade. Acessibilidade. Confiança. Coisas que aprendi com Vidigal. 

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