Ontem fui apresentada, sem querer, a um poema que
mexeu comigo. Chama-se Ithaca. Foi escrito em 1911, por um poeta grego chamado
Constantine Peter Cavafy. Parte dele diz assim:
Quando você partir em busca de Ítaca
reze para que a sua jornada seja longa,
cheia de aventuras, cheia de despertares.
Não tema os monstros da antiguidade…
Você não os encontrará nas suas viagens
se o seus pensamentos forem sublimes e
permancerem elevados,
se autênticas paixões comoverem-lhe mente,
corpo e espírito.
Você não encontrará monstros ameaçadores
se não carregar dentro da sua alma,
se a sua alma não os colocar diante de você.
Ouvi este texto na TV e
imediatamente fui buscar referências sobre ele na internet (santo Google!).
Queria saber mais! De quem era, do que se tratava, não sei o que buscava, mas precisava saber mais. As
descobertas foram me envolvendo e só me confirmavam os motivos de terem acordado
emoções profundas em mim.
Descobri, por exemplo, que Ítaca era a ilha natal do
herói grego Odisseu. Relembrei (ou descobri, pois não sei ao certo se sabia)
que ele, após desempenhar importante papel na Guerra de Tróia, vagou pelo mundo
durante anos buscando aventuras, enfrentando desafios e aprendendo diversas
lições que o transformaram profundamente.
Também descobri, que a palavra “odisséia” vem de Odisseu, cujo significado pode ser:
1.Viagem
cheia de aventuras e/ou peripécias.
2. Série de acontecimentos anormais e
variados.
Relembrei também - isso sim eu sabia, que Odisséia é o nome de um
dos principais poemas épicos dos antigos gregos. Escrito por Homero,
provavelmente, no fim do século VIII a.C. O poema se concentra na pessoa de
Ulisses
(e outros personagens da Mitologia Grega).
Por si só, todas estas
descobertas já teriam sido suficientes para me fazer entender os motivos
simbólicos que me estimularam a curiosidade. Mas aí veio a cereja do bolo: o poema
foi lido no funeral de Jacqueline Kennedy Onassis, pela sua filha Caroline,
para expressar como ela se sentiu ao saber que a jornada da mãe, na terra, havia terminado. Saber disso me fez chorar e me estimulou a continuar
pesquisando.
Então descobri que a escritora americana, Sarah Ban
Breathnach, dedicou um capítulo ao poema Íthaca no seu livro Simple Abundance (traduzido no
Brasil como Simplicidade e Plenitude) . Achei o nome familiar e fiz uma busca em minha pequena biblioteca. Aprendi com meu pai que livros não foram feitos para ficar na estante e por isso, normalmente passo os exemplares que compro para frente. Mas incrivelmente eu tenho esse livro! Ele foi um entre as raras exceções que me dou ao direito de guardar.
Lembrei que ele mais
parece uma bíblia do que um livro e é basicamente composto por 365 capítulos - um para cada dia do ano. E foi no dia 30 de dezembro que encontrei Ítaca. Me tocou, especialmente a parte em que a autora escreveu:
“Nos últimos
50 anos, têm surgido ótimas traduções do poema de Cavafym, mas para mim elas
parecem ter sido feitas para homens. (…)No entanto, como “Itaca” se tornou uma
pedra de toque emocional para mim, um poema em que me descubro meditando
bastante, fiquei inspirada a criar uma tradução/adaptação pessoal do classico
de Cavafy para as mulheres”.
A adaptação dela é longa, mas é linda a parte que
diz:
(…)
Guarde Ítaca sempre em sua
mente.
A sua chegada lá é o seu
destino.
Mas de forma alguma apresse
a jornada, seja paciente.
É melhor que ela dure muitos
anos –
mais tempo do que você mesma
possa imaginar.
Para que, afinal, quando
você chegar a essa
ilha sagrada, seja uma
mulher sábia,
repleta de tudo o que
conquistou ao longo do caminho;
não mais esperando Ítaca
para obter opulência,
não mais precisando de Ítaca
para ficar rica.
Ítaca lhe ofereceu a
profunda jornada,
a oportunidade de descobrir
a mulher que você sempre foi.
Sem Ítaca como inspiração,
você
nunca teria partido em busca
da plenitude.
Achei, enfim, que havia
entendido a mensagem para mim naquele momento. Foi quando, já fechando o livro, caiu de
uma das páginas, uma foto de uma moça de 22 anos (já se passaram
20 anos desde então!). Olhei para a foto e me reconheci nela.
Não só por seu eu, mas pelo brilho no olhar, pelo desejo de ir em busca da minha
verdade sempre. Senti profundamente o quão latente ainda é este desejo dentro de mim. Agora
sim, a verdadeira resposta havia chegado.
Publico aqui, uma “foto da foto”. Não por vaidade (até porque fotos me constrangem), mas apenas para ilustrar o quanto a jornada pode nos afastar
da nossa essência, de quem somos, mesmo sendo esta a grande busca. Fica o
convite para fazermos, juntos, esta semana, uma reflexão sobre nossa grande
caminhada e reconhecermos em nós mesmos, o que de fato nos importa.
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